quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Natureza Te Grita - Mariana Soare

Sai, o dia ta lindo lá fora
Vai, a grama espera cambalhotas
O mundo foi feito pra você

Sinta o cheiro da verdade nas flores
Surfe na alegria das cores
Deixe a liberdade te levar pro mundo real

A natureza te espera, a natureza se revela
Aos desvendadores da vida motivados pela fé
A natureza te grita enquanto a sua se agita
Recusando se vestir com as roupas feitas pra você

Lara Lara Lara Lara

Entre nessa passagem secreta
Onde o diferente te desperta
Sem limites para impedir de ir além
Entre nessa passagem secreta
Onde o diferente te desperta
Sem limites para impedir de ir além

A natureza te espera, a natureza se revela
Aos desvendadores da vida motivados pela fé
A natureza te grita enquanto a sua se agita
Recusando se vestir com as roupas feitas pra você

A gaiola tá aberta passarinho
Você tem asas novas, já tem
Vai fazer seu ninho, voar voar voar

A natureza te espera, a natureza se revela
Aos desvendadores da vida motivados pela fé
A natureza te grita enquanto a sua se agita
Recusando se vestir com as roupas feitas pra você

Lara Lara Lara Lara


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Às vezes, sou um caos, um amontoado de conclusões precipitadas e sentimentos descontrolados. 

Mas, afinal, quem não é de vez em quando?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Vista cansada - Otto Lara Resende



Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.