sábado, 23 de novembro de 2013

Uma prova de amor - filme. Resenha

CASSAVETES, Nick. Uma Prova de Amor. EUA, 2009.

Tendo como título original do filme Uma Prova de Amor, “My Sister's Keeper”, produzido no ano de 2009, pelo diretor Nick Cassavetes e elenco: Cameron Diaz (Sara Fitzgerald), Abigail Breslin (Anna Fitzgerald), Sofia Vassilieva (Kate Fitzgerald), Jason Patric (Brian Fitzgerald), Alec Baldwin (Campbell Alexander), Joan Cusack (Joan De Salvo), Evan Ellingson (Jesse Fitzgerald), Thomas Dekker (Taylor Ambrose). O roteiro feito por Jeremy Leven foi baseado no romance de Jodi Picoult.
O drama é capaz de envolver qualquer ser, seja ele o mais “gélido”. Quando passamos a nos envolver, é como se estivéssemos naquela trama desde o inicio até o final, que para muitos pode até trazer um final triste, porque há o que não se espera – a morte. Mas visto por outros olhos, há sim um final feliz. Há a mudança, aprendizagem, significados essenciais na convivência de uma família que enfrenta problemas, e por fim a amostra de um amor incondicional.
Uma Prova de Amor retrata a história comovente de uma garota, que já cansada de tanto sofrimento, tantas cirurgias e remédios, além da culpa de penalizar sua irmã desde o inicio de sua vida, por salvá-la sempre, doando o que ela necessitasse. Anna demonstra todo seu afeto por sua irmã, que apesar de tudo, poucas vezes mostrou-se frágil. Ao fazer o que ela pede, desafiando toda a sua família, Anna segue em um processo de emancipação médica, reivindicando que não quer mais “tirar” parte do seu corpo, quer ter direitos sobre ele, pois há anos passara por inúmeras cirurgias, muitas vezes de risco. No início do filme, a primeira imagem que vemos em Anna é de egoísmo, no entanto, chega um momento, e com o desenrolar da história, e as narrações feitas pelos irmãos, percebe-se que tudo já fora combinado entre eles. O filme é explanado por vários narradores, o que envolve todo “eu” da família, Pai, Mãe e filhos, contam a transação aos seus olhos, demonstrando seus problemas, sentimentos, e vivência em família.
Jesse, um garoto que desde criança é desatento, tem dislexia e seus pais não o deram a devida atenção. Porque desde criança, sua irmã passa a tomar toda a atenção de seus pais, com a descoberta da doença. Teria sofrido mais ainda, se seu corpo fosse compatível com o de Kate, para tantas cirurgias que esta, durante toda a sua vida fora submetida. Entretanto a ideia veio do médico de Kate, quando mostra uma maneira que não é correta médico-jurídico, mas fora feito. Um bebê projetado, com toda sua genética compatível com a de Kate. E foi a decisão da família. Tiveram mais um filho, Anna. Uma garota perfeita, que veio com o intuito de doar-se a sua irmã – uma irmã predestinada a ter poucos anos de vida. Anna nunca aceitaria numa boa a fantasia de sua irmã, se não estivesse sido obrigada. Kate só alegava que não queria mais preocupar a família, e que seus irmãos também mereciam atenção. Ela queria somente da liberdade a todos como prova de agradecimento e acima de tudo, amor. O que é demostrado nas cenas em que ela quando narrando um pouco da história, retratara todo seu olhar em relação a sua família nos últimos anos. Seus pais não se amavam tanto quanto antes, Jesse nunca tivera atenção, e Anna que posta como um refúgio para toda sua família, já que poderia dar a vida novamente a sua irmã; como dissera o médico quando o perguntou qual a vantagem que Anna recebera durante todos esses anos: “ela pode salvar a vida de sua irmã”. E assim se fez, desde seu nascimento.
Kate, não suportou mais. Diante de todo o sofrimento e acima de tudo com esperanças de encontrar Taylor, onde ele estivesse. Kate conheceu Taylor na sala de um hospital. Taylor foi seu único amor; em um simples olhar puderam viver e delinear todos os momentos de intensos carinhos. Tudo começou com um ingênuo “Oi” em um cenário nada brilhante, mas que para eles aquilo não importava no momento. Kate nada confiante sorriu mesmo assim. E esperou para que ele a ligasse. Ai dele se não ligasse. Não obstante, lá fora mesmo, ele ligou. A partir dali viveram momentos que só eles saberiam onde terminaria. Na narração feita por Sara, sua mãe, afirma que Taylor foi a sua “melhor droga”. Isso basta para entendermos o quanto ela foi feliz ao lado de Taylor. Apesar disso, ele teve que ir. O filme não deixa claro, contudo era o que já ponderávamos, Taylor teria falecido. Kate então advém a desistir de tudo.     
Uma Prova de Amor é categoricamente um filme para pessoas interessadas e arranjadas a viverem agudas emoções. Acima de tudo, a produção é para aqueles que creem que família é mais que um amontoado de gente que por um acaso compartilham de uma mesma carcaça de código genético.
Não é fato que para muitos o câncer não pode ser curado. Mas há chances de haver milagres. Kate viveu muitos anos e para a medicina ela era um milagre. Não é coincidência, todavia muitos filmes mostra este mesmo trama, doenças que dilacera uma família, mas que nunca poderá romper laços. Foi assim em “Um Amor pra Recordar”, em “O Óleo de Lorenzo”, entre outros. É possível acontecer o milagre, entretanto, é lamentável que haja poucos filmes que mostram fatos assim.
Na esperança de uma cirurgia com sucesso, sua mãe Sara vai até o fim no tribunal. Volta a exercer sua profissão, que deixara quando descoberto a doença de Kate, e acredita que Anna doará seu rim, mesmo pedindo emancipação médica. Anna até doaria, se não estivesse feito o pacto com seus irmãos, de manterem segredo sobre o pedido de Kate. No entanto, seguiram mesmo assim. Anna sem proposito algum, mas demostrando seu amor à irmã, e acreditando que um dia voltará a vê-la novamente, como disse Kate: “quando não souber para onde ir, procure-me na Montana, estarei lá". O julgamento continua, e com todas as perguntas feitas a Anna por sua própria irmã, Jesse revela porque tudo aquilo estava acontecendo. Expõe para todos que fora Kate que estimulara tudo aquilo. Sua mãe mesmo assim não percebe que, quando Jesse fala que Kate já havia perdido sua resistência, ela nunca a escutava – “a amava tanto, que não queria aceitar”.
Kate não resistiu, entretanto não foi à cirurgia, nem mesmo suas forças acabara. Ela apenas partiu. Como todo ser que um dia é acometido a uma doença ou a causas naturais e que poderia perecer a qualquer momento, devido a fragilidades de suas células. Como já mencionado, Kate já era considerada um milagre por viver por tanto tempo.

O filme mostra um drama bem elaborado, cenas comoventes e acima de tudo com um roteiro comum a filmes reflexivos, em que as cenas são postas no presente levando ao passado, deixando-nos mais envolvidos ainda com a problemática. Uma Prova de Amor é mais que um simples filme em que diferente de outros, deixa transparecer afetos que uma família não pode nunca deixar apagar-se. Apesar de perderem um membro da família, eles passaram a amar-se ainda mais, voltaram a viver. Sara volta a trabalhar, Jesse começa a estudar novamente, e Anna cada vez mais conectada a sua irmã. Afinal ela não deixa imprecisões sobre sua afeição pela irmã.  E isso nos leva ao questionamento: até que ponto vale a luta e o sacrifício quando se sabe que já não adiantará nada? E que decisão tomaria no lugar de Anna?

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Felicidade - Marcelo Jeneci


Relacionamento perfeito - Lya Luft




O assunto pode ser dramático ou engraçado, tão humano e tão difícil de entender. A mim, sempre buscando explicações e significados porque tão pouco entendo, me ocorre falar ou escrever exatamente sobre aquilo que menos sei. Trabalho interminável, espécie de suplício de Sísifo: o pobre todo dia empurrando montanha acima uma grande pedra que voltava a rolar pela encosta, a fim de que o torturado recomeçasse mais uma vez. Querer alcançar o significado das coisas, da vida, das gentes, de seus relacionamentos e desencontros, é um pouco assim. Seguidamente me indagam – ou tento imaginar – o que seria um relacionamento perfeito. Eu ai escrever “casamento”, mas preferi a outra palavra, porque ela não tem nada a ver com cartório e burocracia, opressão ou coerção social e familiar: tem a ver com querer se ligar a alguém, e querer continuar ligado. Cada dia, ao acordar, fazer de novo a escolha: eu quero mesmo é você comigo. Mas “perfeito! É uma palavra tola: perfeição, só no céu de todas as utopias. Aqui, nesta nossa terra nada utópica, perfeição me parece um pouco entediante: como, nada a reclamar, tudo assim direitinho? Olho pela janela e bocejo: muito sem graça, a tal perfeição. O céu com anjos tocando harpa pelo tempo sem tempo me deixava pasmada já na infância. Nada mais? Nem uma brincadeira proibida, um escorregão nas nuvens, uma risada na hora do sagrado silêncio...nem uma transgressãozinha na ordem celestial? Minha alma indisciplinada não encontraria alimento nem estímulo, e ia-se desfazer em fiapo de nuvem embaixo de algum armário onde se guardassem os relâmpagos e os trovões, e todas as duras sentenças. Então, relacionamento perfeito, nem pensar. Mas uma ligação de cumplicidade e ternura, de sensualidade e mistério, ah, essa eu acho que pode existir. Como todos os contratos (não falo de papel mas de corpo, coração e mente), esse precisa ser renovado de vez em quando: a gente tira o contrato da gaveta da alma, e discute. Briga talvez, chora, reclama, mas ainda ama, ainda deseja. Ainda quer o abraço, o passo no corredor, o corpo na cama, o olhar atento por cima da xícara de café...quer até a desorganização e a ruptura, para depois de novo o que é bom se reconstruir. Que seja vital: isso me parece uma boa parceria. Que seja dinâmica, seja lá o que isso significa em cada caso. Pelo menos, não acomodada, mas muito aconchegante. Que seja sensual e amiga, essa ligação: se não gosto do outro como ser humano, com seus defeitos, sua generosidade e egoísmo, força e fragilidade, se não o quereria como amigo...como então, mesmo com tempero do desejo, posso me relacionar com ele para uma vida a dois? O tema é quase infinito: pois cada caso é um caso, assim como cada casal é um casal, e cada fase da vida do indivíduo ou dois é diferente. O bom é quando esta constante transformação se faz para maior cumplicidade, e não mais distanciamento. Que um relacionamento não seja prisão: que não seja enfermaria nem muleta; mas que seja vida, crescimento (turbulências eventuais incluídas.) Que seja libertação e ajuda mútua; não fiscalização e condenação, a sentença pronunciada numa frase gélida ou num olhar acusador, ar de reprovação ou lamúria explícita. Que seja cumplicidade, porque a vida já é difícil sem afetos. O som dos passos no corredor pode ser um conforto inacreditável, o corpo ao lado na cama uma âncora para a alma aflita. O entendimento recíproco é um oásis no isolamento desta nossa vida pressionada por tempo, dinheiro, regras, mil solicitações de família, grupo social, realidade do mundo. Que seja presença e companhia, o relacionamento bom: pois a solidão é um campo demasiado vasto para ser atravessado a sós. 

Lya Luft

Testemunho - Lya Luft

Para dar testemunho de meu tempo não preciso desfraldar uma bandeira partidária ou me enfiar nas trincheiras da guerra, nem as da violência cotidiana: na minha postura há de se refletir o que penso.

Para perseguir meus ideias não preciso me deixar matar: basta procurar coerência, o qeu pode ser uma forma de heroísmo silencioso. Porém é bom lembrar que coerência rígida pode ser mediocridade.
Para ser boa filha não preciso me encolher, mentir, me afastar: os pais servem para fazer a gente crescer, eventualmente voar, ainda que seja para longe deles, mas sem que os laços de afeto precisem se romper.
Para ser boa mãe não preciso me vitimizar: a mãe-mártir desperta culpa e causa aflição. Só uma pessoa que se respeita e valoriza pode realmente amar seus filhos, prepará-los para não serem almas subalternas e lhes server de eventual apoio.
Para ser boa amiga não preciso fingir nem mentir, vigiar nem agradar o tempo todo. Uma amiga verdadeira pode dar colo, abraço, escuta, dividir alegrias e ouvir confidências, mas não precisa bajular nem criticar.
Para ser uma boa amante não preciso me anular: basta- e já é difícil - ser estimulante e confiável, terna e cúmplice quando for possível. Carinho não é servilismo nem sujeição.
Para ser inteira não preciso me defeder erguendo barreiras em minha volta: às vezes só me fragmentando e dilacerando de amor, dor ou perplexidade, terei chance de juntar meus pedaços e me reconstruir mais inteira.
Par realizar alguma justiça socialnão preciso me dispor do que já possuo, se o que tenho serve para minha dignidade e não para o disperdício. O melhor é começar em casa, pois se pago miseravelmente a minha empregada, não posso pronunciar sem constrangimento palavras como "justiça" e "dignidade".
Para ser humna não preciso exigir de mim o que seria próprio de deuses, mas prestar atenção nos outros e abrir-lhes espaço, admitir o mistério de tudo, RESPEITAR A VIDA, tolerar minhas fraquezas, aproveitar meus talentos e procurar o dom da alegria - o que é fundamental.
Para viver devo eventualmente pensar na morte, não como um susto mas um estímulo para ser melhor; para morrer bem devo curtir minha vida de um jeito positivo, não me enxaergando como a última nem a primeira das criaturas, mas vivendo de modo que para alguém ao menos eu tenho feito alguma diferença.
Pois alienação é também cultiva a amargura e ignorar que a vida pode ser boa, o amor positivo, o ser humano comovente, e o signidicado de tudo acessível ao coração e ao sonho.
Se nãoposso corrigir os males do mundo, da minha reuzida condição pessoal, posso ao menos não colaborar para que ele se torne mais violento, mais mesquinho e mais cruel.


Lya Luft

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Agendar a vida - Lya Luft


Abro uma página da minha agenda para demarcar mais uma vez o território de minha liberdade e o dos meus deveres — que é onde ela começa a perder pé. 
A fantasia não pede licença para se desenrolar: logo vejo uma infinidade de mesas e escrivaninhas, cada uma com sua agenda, nela a floresta dos compromissos, mal sobrando alguma trilha estreita para andar e respirar. (Nas folhas desta minha atual quero abrir entrelinhas para contemplar a árvore em flor diante de minha janela, ou pegar nos braços uma das crianças que povoam esta casa.)


Uma tarde tranquila”, original que David L. Cawthone pintou com a boca
Vejo também agendas quase vazias onde se procura melancolicamente algo para quebrar o sem-sentido da vida: nem uma visita, uma data de aniversário, nenhum afeto nomeado, nem ao menos um pagamento nesses dias que parecem um deserto sem contornos. 

Nem uma miragem ao longe?
Pessoalmente não vivo sem uma agenda, aquelas de bloco, ao lado do computador. Às vezes olhar a folhinha me dá alegria: um encontro bom, ou um dia inteiro só pra mim. Em outras folhas, um engarrafamento de garatujas (minha letra, horror das professoras desde os primeiros anos de escola) com mais compromissos do que meu fundamental desejo de liberdade quereria. 

Agenda pode ser tormento e prisão. Mas pode ser liberdade, se a gente inventar brechas: em plena tarde da semana, caminhar na calçada; sentar ao sol na varanda do apartamento; deitar na grama do parque ou jardim, por menor que ele seja, e como criança olhar as nuvens, interpretando suas formas: camelo, coelho, árvore ou anjo. 

Ou: quinze minutos para se recostar para trás na cadeira (pode ser do escritório mesmo) e espiar o céu fora da janela; ir até a sala, esticar-se no sofá com as pernas sobre o braço do próprio, e ouvir música, ver televisão, ler, ler, ler... ou simplesmente não fazer nada. 

O ócio é uma possibilidade infinita a ser explorada.

Não falo da inércia, do desânimo, do vazio melancólico. Jamais falarei de ficar de robe velho e pantufas (vi numa vitrine algumas com cara de cachorro e até orelhas!) pela casa até o meio da tarde.
Falo de viver.

"Parar, olhar, escutar", dizia um aviso nos trilhos do trem quando havia trem entre minha cidade e Porto Alegre. A gente passava de carro sobre o trilho, e eu imaginava o horror de alguém infringir isso e ser explodido pelo monstro de ferro e fumaça.

A vida há de rolar por cima da gente, reduzindo a poeirinha inútil quem se esquecer de às vezes parar pra pensar... mas sem se desmontar; olhar em torno ou para dentro: paisagens belas, ou áridas (sempre dá pra plantar um capim) ou quem sabe coloridas (a alma pode brincar de esconde-esconde entre as folhas). 
E escutar: a música do universo, o canto do sabiá (que tem começado às 3 da madrugada fria, atarantado neste clima estranho); a risada da criança no andar de cima; enfim, o chamado da vida que nos convoca de mil formas: anda, sai do marasmo, viveeeeeeeeeee!!

Que nossas agendas (também as interiores) nos permitam muitas vezes a plenitude do nada sorvido como um gole de champanha, celebrando tudo.



Sem culpa. 





* Do livro: Pensar é transgredir.

- da minha vida.

Sinto falta de parar por aqui, escrever e relatar coisas que a ninguém digo.
É certo, e disso provo, algumas coisas nos fazem deixar de fazer algumas outras coisas, no entanto, eu sinto falta destas últimas.
(...)
No momento ando meio ocupada. A minha rotina. Ela mudou.
Há algo que quero compartilhar, estou a ler um livro "Pensar é transgredir" - Lya Luft. Irei compartilhar aqui, partes deste livro, que por sinal, estou me divertindo muito ao lê-lo.