Para dar testemunho de meu tempo não preciso desfraldar uma bandeira partidária ou me enfiar nas trincheiras da guerra, nem as da violência cotidiana: na minha postura há de se refletir o que penso.
Para perseguir meus ideias não preciso me deixar matar: basta procurar coerência, o qeu pode ser uma forma de heroísmo silencioso. Porém é bom lembrar que coerência rígida pode ser mediocridade.
Para ser boa filha não preciso me encolher, mentir, me afastar: os pais servem para fazer a gente crescer, eventualmente voar, ainda que seja para longe deles, mas sem que os laços de afeto precisem se romper.
Para ser boa amiga não preciso fingir nem mentir, vigiar nem agradar o tempo todo. Uma amiga verdadeira pode dar colo, abraço, escuta, dividir alegrias e ouvir confidências, mas não precisa bajular nem criticar.
Para ser uma boa amante não preciso me anular: basta- e já é difícil - ser estimulante e confiável, terna e cúmplice quando for possível. Carinho não é servilismo nem sujeição.
Para ser inteira não preciso me defeder erguendo barreiras em minha volta: às vezes só me fragmentando e dilacerando de amor, dor ou perplexidade, terei chance de juntar meus pedaços e me reconstruir mais inteira.
Par realizar alguma justiça socialnão preciso me dispor do que já possuo, se o que tenho serve para minha dignidade e não para o disperdício. O melhor é começar em casa, pois se pago miseravelmente a minha empregada, não posso pronunciar sem constrangimento palavras como "justiça" e "dignidade".
Para ser humna não preciso exigir de mim o que seria próprio de deuses, mas prestar atenção nos outros e abrir-lhes espaço, admitir o mistério de tudo, RESPEITAR A VIDA, tolerar minhas fraquezas, aproveitar meus talentos e procurar o dom da alegria - o que é fundamental.
Para viver devo eventualmente pensar na morte, não como um susto mas um estímulo para ser melhor; para morrer bem devo curtir minha vida de um jeito positivo, não me enxaergando como a última nem a primeira das criaturas, mas vivendo de modo que para alguém ao menos eu tenho feito alguma diferença.
Pois alienação é também cultiva a amargura e ignorar que a vida pode ser boa, o amor positivo, o ser humano comovente, e o signidicado de tudo acessível ao coração e ao sonho.
Se nãoposso corrigir os males do mundo, da minha reuzida condição pessoal, posso ao menos não colaborar para que ele se torne mais violento, mais mesquinho e mais cruel.
Lya Luft
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