sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Testemunho - Lya Luft

Para dar testemunho de meu tempo não preciso desfraldar uma bandeira partidária ou me enfiar nas trincheiras da guerra, nem as da violência cotidiana: na minha postura há de se refletir o que penso.

Para perseguir meus ideias não preciso me deixar matar: basta procurar coerência, o qeu pode ser uma forma de heroísmo silencioso. Porém é bom lembrar que coerência rígida pode ser mediocridade.
Para ser boa filha não preciso me encolher, mentir, me afastar: os pais servem para fazer a gente crescer, eventualmente voar, ainda que seja para longe deles, mas sem que os laços de afeto precisem se romper.
Para ser boa mãe não preciso me vitimizar: a mãe-mártir desperta culpa e causa aflição. Só uma pessoa que se respeita e valoriza pode realmente amar seus filhos, prepará-los para não serem almas subalternas e lhes server de eventual apoio.
Para ser boa amiga não preciso fingir nem mentir, vigiar nem agradar o tempo todo. Uma amiga verdadeira pode dar colo, abraço, escuta, dividir alegrias e ouvir confidências, mas não precisa bajular nem criticar.
Para ser uma boa amante não preciso me anular: basta- e já é difícil - ser estimulante e confiável, terna e cúmplice quando for possível. Carinho não é servilismo nem sujeição.
Para ser inteira não preciso me defeder erguendo barreiras em minha volta: às vezes só me fragmentando e dilacerando de amor, dor ou perplexidade, terei chance de juntar meus pedaços e me reconstruir mais inteira.
Par realizar alguma justiça socialnão preciso me dispor do que já possuo, se o que tenho serve para minha dignidade e não para o disperdício. O melhor é começar em casa, pois se pago miseravelmente a minha empregada, não posso pronunciar sem constrangimento palavras como "justiça" e "dignidade".
Para ser humna não preciso exigir de mim o que seria próprio de deuses, mas prestar atenção nos outros e abrir-lhes espaço, admitir o mistério de tudo, RESPEITAR A VIDA, tolerar minhas fraquezas, aproveitar meus talentos e procurar o dom da alegria - o que é fundamental.
Para viver devo eventualmente pensar na morte, não como um susto mas um estímulo para ser melhor; para morrer bem devo curtir minha vida de um jeito positivo, não me enxaergando como a última nem a primeira das criaturas, mas vivendo de modo que para alguém ao menos eu tenho feito alguma diferença.
Pois alienação é também cultiva a amargura e ignorar que a vida pode ser boa, o amor positivo, o ser humano comovente, e o signidicado de tudo acessível ao coração e ao sonho.
Se nãoposso corrigir os males do mundo, da minha reuzida condição pessoal, posso ao menos não colaborar para que ele se torne mais violento, mais mesquinho e mais cruel.


Lya Luft

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