sexta-feira, 26 de maio de 2017

Escritos de Ana Jácomo

Nunca lhe falei da minha paixão, mas ele deve ter ouvido alguns segredos que os meus olhos, traiçoeiros, deixaram escapar nas raras vezes que permiti tocarem os dele. Deve ter percebido a palidez que vestia meu rosto ao encontrá-lo. Depois, o rubor. As palavras trôpegas, desconexas, tentando achar o caminho da lógica. Aquele texto inadequado para o contexto que a gente diz e depois, ao relembrar, faz um muxoxo, balança a cabeça aborrecidamente, e diz pra si mesmo: “Ai, meu Deus!…”
Deve ter ouvido o meu riso desafinado, que em algumas circunstâncias era motivado apenas pelo nervosismo. O outro falando de uma coisa que não tem graça nenhuma e a gente rindo, sem poder explicar a aparente esquisitice. Deve ter ouvido a mão gelada que apertava a dele levemente para não ser desmascarada. E aquele ar meio patético que as pessoas costumam ter quando se apaixonam. A boca é o que menos fala no corpo. Imagino que deve ter ouvido algumas dessas vozes que falavam em mim sem que eu pudesse contê-las. 
Mas, ainda que tenha ouvido, não ouviu tudo. Não soube que eu inventava os pretextos menos criativos para vê-lo. Que planejava a maioria dos encontros que eu chamava de coincidências. Que antes de ir até onde ele estava, passava mais perfume que de costume. Mudava, várias vezes, a roupa, o batom, o humor. Enchia a boca com balas de hortelã. Ficava incontáveis minutos em frente do espelho, procurando o melhor ângulo, o melhor sorriso, a melhor expressão de surpresa. Ensaiava, em vão, como agiria quando o encontrasse: o cumprimento, os gestos, as palavras. Todo um roteiro meticulosamente estudado para ser traído, em poucos segundos, pela inabilidade que me dominava ao me flagrar diante dele. Aquele esforço sobre-humano para aparentar serenidade com uma escola de samba desfilando no coração.
Nunca soube que, depois de encontrá-lo, relembrava cada detalhe durante todas as horas que antecediam o próximo encontro. A rota que seus olhos percorreram, cada movimento, cada vírgula da sua fala, cada nuance de entonação. Era como se eu quisesse descobrir alguma possibilidade de correspondência. Ainda que pequena. Ainda que remota. Relembrar também era uma forma de senti-lo perto de mim de novo e de poder olhar para ele sem reserva, sem cautela, debruçada na janela da minha imaginação.
Mesmo que tenha suspeitado de que eu sentia algo, não descobriu tudo. Não descobriu que seu riso era a canção de que eu mais gostava. Que sussurrava seu nome repetidas vezes, e com tanta delicadeza, que ele bailava nos meus ouvidos como um poema. Um mantra. Uma música. Que eu queria conhecer o lugar onde os seus sonhos moravam para poder acordá-los, vez ou outra, quando adormecessem. Que em alguns momentos, no auge da minha ilusão, senti vontade de pedir que jogássemos as armas no chão para que nossas mãos pudessem se encontrar.
Nunca descobriu que escrevi versos que não lhe mostrei e cartas que jamais entregaria. Que muitas vezes, a pedido do meu coração, liguei apenas para ouvir sua voz dizer alô e desliguei sem uma única palavra. Que fantasiei delícias. Que cantei todas as músicas de amor que eu sabia lembrando dele. Que lembrava ao acordar. Que adormecia lembrando. Que lembrava tanto que achava ter enlouquecido,  ô troço obsessor essa tal de paixão! E que, às vezes, lembrar doía, uma dor fina e morna crescendo no peito, como doem os sonhos que não acontecem e que a gente desconfia que não vão mais acontecer.

domingo, 14 de maio de 2017

Feliz dia das mães - feliz dia do amor mais puro

Acho que o cheiro de algo ou alguém é coisa difícil de esquecer. Não estou falando do perfume predileto da pessoa – falo de momentos e recordações que podem chegar a nós numa rapidez inexplicável! Talvez, tu possas lembrar-se de algo quando toca uma canção ou quando vem a memória certos acontecimentos, mas o cheiro, ah! A gente sabe o que ele causa em nós.
Tu conheces o cheiro de sua mãe? A gente sabe que mesmo não estando perto de sua mãe [fisicamente], sabemos reconhecer e trazer para nós aquele cheiro, talvez que tenha ficado no passado ou que tu aches que a vida lhe tirou, saiba que ela [a vida] não lhe tira de você, algo que permanece ou pode estar dentro de ti. A gente sabe que o cheiro de nossa mãe não é uma fragrância que se encontra no mercado ou na melhor loja de perfumaria, tampouco numa floricultura! Falo do cheiro que ela carrega, aquele que quando conhecemos assim que chegamos aos braços dela, pela vez primeira.
Sabe alma perfumada? É disso que falo, e é o que elas têm!
"[...] É cheiro de passarinho quando canta, de sol quando acorda ou de flor quando ri. Elas têm cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria todos os dias em sua presença! Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração".
É bonito isso de saber guardar os momentos... a gente nunca sabe quando vai poder viver aqueles instantes de novo. A minha mãe, por exemplo, fala de minha vó [a mãe dela] com tanta convicção de que ela nunca se foi, que até eu chego a sentir essa energia! Ela fala de lembranças boas, de alguns fatos engraçados de sua infância de como ela e seus irmãos foram criados, com os esforços e toda a dificuldade da época – e todas estas lembranças vem assim, carregadinhas de brandura e amor. Quisera eu, saber guardar estes tantos detalhes e saber contar a meus filhos também de como foi minha criação!
                Minha mãe não é uma pessoa de vícios, tirando o fato de que ela adora comer... posso dizer que ela também adora ganhar perfumes! Ela usa em todos os momentos – e eu perdi as contas de quantos ela usa por ano! Enquanto eu estou com um frasco há dois anos, ela está acabando o que ganhara mês passado! Mas é verdade... risos’
                Mas a gente sabe bem, 'distinguir' estes cheiros, eu aprendi qual o cheiro dela quando acorda, quando sente calor, quando dorme, quando me dá sua bênção todas as noites acompanhado de um beijo na bochecha.
                Nossa mãe talvez nunca perca este instinto materno [de quem cuida pra valer], espero que eu herde um  bocado disso!  Por mais que estejamos crescidos, ela ainda faz questão de preparar nossas refeições [não estou dizendo que ela põe nosso prato! Mas se usássemos mamadeira, ela com certeza estará ali para esfriar nosso leite, enquanto nos arrumamos] seria a mesma coisa se eu dissesse que ela põe o café na xícara para esfriar? :)
                Nesse dia das mães, eu sei o quanto ela gostaria de ter sua mãe por perto!
Não deve ser fácil, conviver com a ideia de não ter mais aquela em que mais cuidou da gente pertinho de nós! Sei que tem muita gente se perguntando hoje, por que nossas mães não são eternas? Estão sentindo hoje aquele aperto no peito – mas sei também que eles são fortes e sabem muito bem lembrar do cheiro de sua mãe, o qual faz recordar muitas coisas bonitas vividas juntos: os primeiros aprendizados, as primeiras palavras, das cantigas, as brincadeiras, os olhares de aprovação ou não, os ensinamentos de valores etc, tudo que foi absorvido durante a convivência.
                “Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia” e fazem a gente reviver tudo de mais lindo que conhecemos.
                Feliz dia das mães!
Feliz dia do amor mais puro!

*citações de Ana Jácomo

sexta-feira, 12 de maio de 2017

apolítica EU não sou

       Nunca defini bem do que este blog se trata. Mas por que fazer tal coisa? Além disso, eu não me imagino escrevendo sobre uma coisa apenas – sobre um algo específico (aqui no blog).
Mas, e se me fosse proposto isto, do que falaria eu? Sobre o amor, família, esporte, política, humor, cultura, viagens, novelas, fofocas, moda...? Uma infinidade de temas, cada um com sua relevância num mundo globalizado, em que as redes sociais têm tornado as pessoas, de todas as idades – superconectados, hiperconectados, multiconectados – sim, isto são palavras do Português que possuem prefixos e sim, elas querem dizer a mesma coisa: a geração das pessoas que estão/vivem conectadas com a Internet.
Todavia não é sobre isto que quero falar, em mais um texto. Contudo, deixo claro: eu falo/escrevo o que eu tiver pensando na hora, na semana. Algo que eu sinta necessidade de expressar mesmo! Não porque alguém pediu, ou porque é o assunto do momento! E, eu não quero ser arrogante dizendo isto, só estou querendo dizer que gosto de escrever assuntos que me despertam interesse e, que eu queira compartilhar. Também sou honesta em dizer que não me importaria de escrever sobre qualquer assunto ou algo que eu não conheça bem - me esforçaria e estou sempre em prontidão para conhecer  coisas novas. Tá bem? Ótimo.
            Sei que há poucos textos ou quase nenhum, neste blog, sobre política. Hoje quero falar sobre o assunto. Eu não levantarei aqui, nem uma sequer bandeira; também quero dizer que não sou ‘apolítica’.
Segundo definição do Google, o termo se refere a: “ (apolítico) que não é político, que não apresenta significado político; que não se interessa por política ou por ela tem aversão; aquele que não se interessa por política ou por ela tem aversão”.
Com tudo isso, é impossível não pensar no que vem ocorrendo com nosso país. Nos últimos meses ou melhor – há exatos um ano, nós brasileiros: ou nos calamos, ou fechamos ou olhos e ouvidos, ou discutimos, ou protestamos de alguma forma. Isto tudo pode ser feito de uma só vez também; ou nada disso ser feito ou até isto e mais, pode ser feito.
Do golpe às reformas. Do que falar primeiro?! Nem sei se isto merece uma ordem.
Quando falamos sobre política, não significa dizer que a pessoa gosta dela, aprova ou desdenha. Quando falamos de política, estamos também exercendo um direito nosso. Pois enquanto cidadãos também possuímos este direito de controle, de participação, de voz e expressão. É bem no início de nossa Constituição que fala sobre a participação: Art. 1º “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da desta Constituição”. A constituição é clara em dizer que, o [presente e futuro] da nação estão nas mãos do povo, isto é, através da participação dos cidadãos.
Quando ocorre, por motivos justificáveis e aceitos, uma mudança em leis, documentos sociais, etc e até na Constituição foi através da participação de representantes de grupos sociais. Desta forma, concluímos que reformas em que a sociedade não tem o direito de opinar, pensar, aceitar ou não é um ato inconstitucional.
Def. “Inconstitucional, que se opõe ou vai de encontro a constituição (reunião das leis que regem uma nação) de um país; contrário à constituição; anticonstitucional”.
Falando de protestos. Eu desprezo toda esta mídia televisiva que, mostra quase que um massacre as motivações e as forças que movem estes movimentos. Você assiste a TV e o que percebe nas notícias é o enfoque dado a “pessoas que vão as ruas fazer motim, baderna, atrapalhar o transito diário das pessoas”. Mostra ainda, os que vão encapuzados levando a violência e afrontando a segurança. Por quê?
Então a pessoa instruída a ver este tipo de mídia, apenas a concordar, e ouvir reportagens que mostram versões diferentes e no final dar àquele ‘boa noite e até amanhã...’, enfim como estas pessoas serão politizadas, como elas podem ter pensamento crítico do que ocorre com o país? Do que realmente está a acontecer com as reformas e propostas?
As ‘propostas prioritárias’ serão mudanças absurdas à toda a sociedade brasileira, principalmente às mulheres, aos negros, ao idoso, a população que tem pouco recurso. É sim, uma reforma baseada em mitos que se agarra numa ideia de “crise” da previdência – o que também é uma farsa.
As propostas prioritárias como a de congelamento de gastos de todas as áreas, incluindo a saúde e a educação que só poderão ser corrigidos pela inflação dos últimos 12 meses; a reforma da previdência que pretende criar uma idade mínima para aposentadoria de homens e mulheres tanto na iniciativa privada quanto na pública; a concessão de privatizações; as mudanças no ensino médio com modificações no currículo; a reforma trabalhista e a terceirização, tratando de regras de contratação e também da jornada de trabalho.
Percebe o quão estas mudanças mexem com a constituição? Sobretudo com direitos conquistados através dos movimentos sociais como a implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) [que em muito ainda há falhas]; como os direitos trabalhistas trazidos por meio da CLT, a jornada de trabalho, as condições de trabalho [e ainda convivemos com denúncias de casos de escravidão no país]; sobre a reforma da previdência, o presidente falava de igualdade de gênero [ele quer igualar a idade para aposentadoria entre homens e mulheres], no entanto, essas desigualdades persistem com disparidade salários, as jornadas exaustivas tendo estas de lidar com trabalho e com os afazeres domésticos, e, será assim 25 anos de contribuição para ambos os sexos, além da alteração das regras de alguns benefício como o de Prestação Continuada(BPC) [salário mínimo para idosos acima de 65 anos em extrema pobreza e pessoas com deficiência, só será pago a partir dos 70 anos]; a educação nem se fala! A quem irá favorecer esta reforma do currículo?  “Em síntese, a formação dos jovens será dividida em duas fases. 1ª mantém as 13 disciplinas que hoje são obrigatórias. 2ª parte delas passa a ser facultativa com o objetivo de direcionar os estudos dos adolescentes para a formação profissional que ele desejar”. Ótimo! Mas e as escolas do interior... aquelas salas de aula multisseriadas, ou ainda aquelas escolas que a estrutura é péssima, onde não há cadeiras, quadro, giz, professores?
Mas isso ainda existe? Ah, é claro! Então, por que não reformar as escolas, os espaços educacionais? Por que não procurar entender o que está acontecendo nestas cidades, em que a educação não é eficaz? Por que não fiscalizar os repasses de verbas, os projetos que são propostos, a merenda que não chegou ainda? E o transporte para crianças e adolescentes irem da área rural a urbana, que deixa a desejar? Por que não valorizar o profissional da educação?
Há muito o que ser feito e não refeito/reformado.
Então, tem como ser imparcial diante de tudo isto? É sim, necessário falar de política – falar de nossos direitos é exercer a cidadania, portanto, defendê-los é nosso dever.