segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

O TEMPO DAS COISAS - Ana Jácomo


Poderíamos, com mais frequência, tentar deixar a vida em paz para desembrulhar suas flores no tempo dela, no tempo delas, e, em alguns momentos, nem desembrulhar. Apesar da nossa cuidadosa aposta nas sementes, algumas simplesmente não vingam e isso não significa que a vida, por algum motivo, está se vingando de nós. Há muito mais jardim para ser desembrulhado.
Poderíamos, mais vezes, tentar respeitar os dias e as noites das coisas, os sóis e as luas de cada uma, os amanheceres, os entardeceres, as madrugadas, a sabedoria reparadora e tecelã dos intervalos, as estações todas com seus jeitos todos de dizer. Percebermos, mais vezes, a partir da nossa própria experiência humana, que tudo o que vive, queira ou não, está submetido à inteligência natural e engenhosa das fases. Dos ciclos. Da permanente impermanência. Da mudança.Poderíamos, amiúde, tentar desviar nossa atenção do relógio perigoso da expectativa, geralmente adiantado demais. Aquele tal cuja velocidade transtornada dos ponteiros costuma apontar para o tamanho e a urgência das nossas carências. Para a necessidade de preenchimento imediato e contínuo do que chamamos de vazio, às vezes porque é, às vezes por falta de palavra melhor. Aquele tal relógio que geralmente só antecipa frustração e atrasa sossego. Aquele tal que costuma só fomentar dificuldades e alimentar fomes.
Mas, não. A crisálida ainda está se acostumando com a ideia de ser borboleta e já queremos que voe. A flor ainda é botão e, em vez de apreciá-la como botão, ficamos apressados para vê-la desabrochada. O fruto ainda precisa amadurecer, mas o arrancamos, verde, do pé, por mera ansiedade. Ainda é a vez do tempo estar vestido de noite, mas queremos que se troque rapidinho para vestir-se de manhã.
Nossa impaciência, nossa pressa àvida pelo resultado das coisas do jeito que queremos, no tempo que queremos, geralmente altera o sábio fluxo do tempo da vida e o desdobramento costuma não ser lá muito agradável. Não é raro, nós o atribuímos à má sorte, ao carma, ao mau-olhado. Não é raro, culpamos Deus, os outros, os astros, os antepassados. Não é raro, é claro, nós ainda nos achamos cobertos de razão.
Esse é um dos capítulos mais difíceis do livro-texto e do caderno de exercícios: o aprendizado do respeito ao sábio tempo das coisas.

sábado, 30 de novembro de 2019

Parar um pouco o relógio – solução?


Aos sábados ela encontra inspiração. Na verdade nunca soube por quê, nestes dias, em específico, há tanto o que falar. Por vezes, pensa que talvez seja tão-só o acúmulo de muitas coisas – ditas e não ditas; ocultadas, de certo, pouco refletidas.
            É estranho pensar assim, contudo talvez seja mesmo a correria da semana, as prioridades que a gente acha que deve dar a algumas coisas. Refletir, pensar, parar um pouco o relógio – solução?
Aos sábados ela encontra espaço. Para ela é dia de acordar tarde: 11h da manhã no mínimo. Acorda, olha pro lado, vê o amor de sua vida ali também, dorme feito anjo. Não, é feito coala mesmo! Hiberna. Eles pegam no celular poucas vezes ao dia – primeira mensagem dela: sua mãe. Dá-lhe bom dia! E a abençoa com preces ao Criador.
Outras mensagens começam a entrar... Amigos, familiares, com aquele desejo de “bom dia, e bom final de semana”.
            Aos sábados, veem pouca televisão. Na verdade quase nunca ela é ligada! Filmes e séries são visitadas aos sábados – um filme, um clássico que sempre quiseram ver ganha seu espaço e atenção, especialmente, nesse dia da semana. Café às 11h30, almoço às 14h30, só aos sábados.
            Final da tarde, ela, um pouco cansada, mas ainda procura algo a fazer... apanhar roupas no varal, por mais roupas na lavadeira, ir ao mercado, preparar o jantar... e, finalmente pensa: poxa, o sábado acabou.
À noite, ele, joga vídeo game, na semana parece difícil fazer coisas assim, vida de adulto. Ela, deixa o silêncio dentro de si tomar espaço, músicas de uma playlist que lhe traz tranquilidade, reflexão, paz interior, alento, descanso, pensamentos e pensamentos que invadem e aquela lembrança e aquele aconchego que só alguns, os de intensidade, pode sentir. E ela vê que não consegue mais pensar em outra coisa e tampouco sabe no que estar a pensar... apenas para, ouve as canções, e se sente calma, leve, esperançosa, e ao mesmo tempo agradecida por tudo.
Sente-se grata pelos dias difíceis, pela rotina, pelo que conquistou e pelo que estar a viver. Vê gratidão até pelos medos do dia a dia e pela fraqueza que as vezes ronda um dia ou dois na sua semana e então, lembra do quão vívido e raro é sentir tudo isso e ao mesmo tempo, vê sua fé, que ainda pequena exala e exala calmaria, esperança, gratidão. Lembra das coisas boas também, dos acontecimentos que trouxeram alegria e das vivências.
Ali, estão novamente, prontos para uma nova semana. Conversam sobre planos, conversam, leem algo juntos, riem...  não só aos sábados, diariamente.


sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Sobre realizar-se



Tenho encontrado pessoas bacanas por aqui. Dia desses me surpreendi com um pássaro. 
- Espera um pouco, preciso falar desse pássaro, breve voltarei falar de pessoas.
Eram aqueles comuns, talvez uma rolinha comumente conhecida como rolinha-roxa ou rolinha-vermelha. Estávamos no carro, parados no semáforo. De repente uma rolinha estava no capot de um automóvel ao lado. Lá ele permaneceu enquanto o carro estava parado... o sinal abriu e lá foi ele, seguiu viagem. Não sei se ele pertencia a família e estava apenas dando um passeio, porque lá se ia durante um longo caminho. E não importava se a velocidade ou a força do vento arrancasse as “asinhas”, ele apenas gostou daquela carona.
Lembrei deste episódio essa semana, porque tava pensando na sorte que tenho em conhecer pessoas de bem. Elas te impulsionam e te motivam. Estão na mesma sintonia, enxergam a mesma esperança!
Fiz alguns convites a colabores que poderiam ajudar numa causa e olha que fui atendida em todas elas! Isto me anima, assim como aquela rolinha que viu empecilhos e mesmo assim continuou a acreditar na bondade humana. Se você tem propósitos e acredita no quanto algo será benéfico para alguém ou algum grupo de pessoas - eu falo de coletivo mesmo - vá longe! Persiga na busca por pessoas que podem unir forças a você.
A rolinha-roxa é uma das primeiras especies brasileiras a se adaptar ao meio urbano, é a mais comum em boa parte das grandes cidades. Engraçado, elas gostam de estar perto dos humanos, em espaços que são totalmente alterados pelo homem e são diferentes do próprio habitat original da espécie.
Percebe como essa ave é exemplo para nós?

Estou inclinada a crer que sim.
Por mais que as vezes, queiramos deixar de acreditar que a bondade existe - ainda tem gente lá fora precisando do seu exemplo e de um toque para juntar-se a você. Acredite. 
Será que somente eu penso assim...?




sexta-feira, 1 de março de 2019

O que te faz ser?

Um ano se passou desde minha mudança. E o que mudou?

Se você acha maduro/a o bastante para dizer que aprendeu, tudo bem. Mas eu, meu caro e minha cara – assumo que tenho muito a aprender.
Diga-me você, o que mais fez você mudar? O que te faz ser o que é... digo isso de você acordar todos os dias e saber que sua vida só depende de você próprio. Você cresceu. Têm lá seus 25 ou 30 anos e aí?! O que te faz ser?
Ser o quê?
O que tu é! O que você pensa que é.
O ano começou assim cheio de surpresas, e teve aqueles acontecimentos desagradáveis também: a tragédia de Brumadinho, os meninos mortos no RJ, números absurdos de feminicídio que aparecem na mídia e tantas outras coisas que 2019 tem mostrado.
Já estamos em Março. Nossa, o tempo parece estar correndo. Este ano, como todos os outros tenho os mesmos propósitos e claro, outros mais. Mas ainda desejo o mesmo de sempre: ser e estar num estado de tranquilidade, paz e harmonia comigo mesma. Tenho buscado mostrar as pessoas o quanto isso é importante. Porque não adianta você sonhar e buscar algo lá fora se cá, dentro de nós – é uma bagunça.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no neblina de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Ele é pesado, é estranho. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar pra pensar, nem pensar!” O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no ônibus, no tempinho do almoço, ali na mesa com pessoas ao redor, na frente do celular ou do computador, simplesmente lavando a louça ou no banho.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar. Lya Luft fala que: “Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.”
Estou aqui e sou a mesma. Mudei e continuarei mudando. O essencial permanecerá. Sou eu própria quem afirmo, sou o que sou e amo isso.

O que espero é que no mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.