Enquanto olho a caixa da adolescência, não consigo deixar de me perder em lembranças. É uma caixa de papelão comum, mas para mim, guarda um universo inteiro. Ali dentro, entre cartas amareladas e cadernos de rabiscos, está um pedaço do meu passado, da minha juventude, dos dias em que o tempo parecia ser infinito e o futuro uma terra distante e misteriosa.
Sento-me no chão do quarto da casa da minha mãe, agora mais uma vez o meu quarto, e mergulho na nostalgia. A casa da minha mãe nunca muda. As paredes pintadas de um azul pálido, a cama com a colcha de flores desbotadas, a estante cheia de livros que li e reli, tudo está exatamente como eu me lembro. É como se o tempo tivesse parado ali dentro, enquanto lá fora o mundo se transforma a cada instante.
Pego uma carta, e reconheço a caligrafia imediata e inconfundível de um amigo de escola. Palavras de amizade eterna, planos para o futuro, piadas internas que me fazem sorrir. Como é possível que, em um simples pedaço de papel, estejam contidos sentimentos tão intensos? Sentimentos que, apesar de terem sido vividos há tanto tempo, ainda conseguem tocar meu coração.
Reviro os cadernos, e vejo os rabiscos, desenhos de sonhos que talvez nunca se realizem, versos de poesias ingênuas, pensamentos soltos de uma mente inquieta e apaixonada. Vejo os corações desenhados ao lado dos nomes, amores platônicos que fizeram meu coração bater mais forte, que me fizeram acreditar que o mundo era um lugar cheio de possibilidades e surpresas.
A cada objeto que tiro da caixa, uma nova lembrança se acende. É como se eu estivesse desenterrando pedaços de mim mesma, pedaços que ficaram guardados, mas nunca esquecidos. É um sentimento doce e agridoce ao mesmo tempo. A nostalgia tem essa capacidade de nos envolver em um abraço aconchegante, mas também de nos lembrar do que se perdeu, do que não volta mais.
Levanto-me e olho ao redor. Este quarto foi testemunha de tantas risadas, lágrimas, segredos sussurrados ao escuro da noite. Foi um refúgio, um lugar onde pude ser eu mesma, sem máscaras, sem pressões. Agora, ao revisitá-lo, sinto-me como uma estranha em uma terra familiar. As memórias estão todas ali, mas eu mudei. Cresci, amadureci, e talvez tenha perdido um pouco da leveza e da inocência daqueles tempos.
Fecho a caixa com cuidado, como se estivesse guardando um tesouro precioso. A casa da minha mãe nunca muda, mas eu mudei. E tudo bem. Porque, mesmo que o tempo passe e a vida nos leve por caminhos inesperados, sempre haverá um lugar para onde podemos voltar. Um lugar onde as lembranças moram, onde os sonhos antigos ainda têm vida, e onde podemos nos reconectar com quem fomos, e talvez, encontrar um pouco mais de quem somos.