quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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Gosto muito do meu mundinho. Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas. Às vezes tem um céu azul, outras tempestade. Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos. Mas não cabe muita gente. Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso. São necessárias.

(Caio Fernando Abreu)

(...)

(...)

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança. Não são pensamentos escuros, embora noturnos. 
Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende?
Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu.
Mas se você tivesse ficado, seria diferente?
Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia –qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por que. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.
Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina. Mas de tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo.
Mesmo que a gente se perca não importa.Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro.Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.
E eu acho que é por isso que te escrevo, para cuidar de ti, para cuidar de mim – para não querer, violentamente não querer de maneira alguma ficar na sua memória, seu coração, sua cabeça, como uma sombra escura.


(Caio Fernando Abreu)

domingo, 21 de novembro de 2010

Falando ao oceano...


Falando ao oceano...
Algumas folhas de papel, caídas sobre a areia de uma praia pouco visitada, traziam as seguintes linhas: 
 
"Quando abraço o oceano com o olhar, volto a questionar milhões de coisas, tantas quanto as ondas que ganham a areia. 
 
Volto a questionar: Como alguém pode sentir-se só na presença do mar? Na presença desta brisa incessante? Na companhia deste perfume raro?! 
 
Como ainda posso me sentir só, sabendo que os braços do Invisível me abraçam, que aqueles que partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção, somos amados por alguém!? Como ainda posso me sentir só? 
 
Talvez seja porque eu me isole do Mundo, e seja exigente demais com as pessoas. Pode ser isso. 
 
Talvez seja porque eu não permita que os outros conheçam minha vida, meus sonhos, minhas dificuldades - acho que há um pouco de orgulho nisso. 
 
Quem sabe seja porque eu procure a solidão, e não ela que me persiga, como eu imaginava. 
 
É... talvez eu precise conversar mais com as pessoas, me interessar mais por suas vidas, ouvir. 
 
Há tempos que não ouço alguém; um desconhecido relatando os acontecimentos corriqueiros do dia-a-dia; um colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos. 
 
Meus irmãos: há tempos não converso com eles sobre assuntos profundos, como planos para o futuro, lembranças boas do passado. 
 
É curioso, pois lembro-me de que há algumas semanas ouvi uma mensagem de cinco minutos, num programa de rádio, que falava sobre isso, sobre como as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isto é prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é conseqüência da outra. 
 
O locutor dizia que `Quem ama não se sente só´, pois está sempre se doando, se envolvendo com os corações mais próximos, na intenção de ajudar. 
 
Dizia ainda que, quando nos sentimos úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação, de nosso amor, também esquecemos da solidão. 
 
Acredito que ele tenha razão, pois lembro que naquele dia fui visitar uns tios que não via há muito tempo, e aquela visita fez-me tão bem! 
 
Falamos de assuntos comuns, como notícias de televisão, notícias da família, mas ao final saí de lá menos tenso, menos preocupado com a solidão. 
 
Abracei minha tia, e a ouvi dizer, por entre lágrimas discretas: `Gostamos muito de você, viu? Venha mais vezes! Não é sempre que recebemos visitas!´ 
 
Ela está certa. Não é sempre que recebemos visitas, pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu. 
 
Naquela tarde, vi que poderia ser útil em pequenas coisas, e que aquilo me afastava um pouco da solidão. 
 
Dentro do carro, voltando para casa, observando o movimento intenso nas ruas, lembro de fazer estas mesmas perguntas: Como pode alguém sentir-se só na presença de tanta gente, de tanta vida!? 
 
Quantos desses corações esperam apenas por uma visita? E quantos deles estão dispostos a fazer uma? 
 
E aqui está você, amigo oceano, à minha frente, ouvindo todas estas minhas divagações. Acho que foi sua presença, rei das águas, que me ajudou a entender melhor o que se passa em meu íntimo. 
 
Agradeço profundamente por sua companhia, por conseguir me ouvir, e por me dizer, mesmo sem falar, que o que preciso fazer é visitar mais o coração de meu próximo. 
 
Muito obrigado."

sábado, 20 de novembro de 2010

Angel (katherine Jenkis)

Anjo

Gaste todo seu tempo esperando, por aquela segunda chance,
Por uma mudança que resolveria tudo
Sempre há um motivo para não se sentir bom o bastante,
E é difícil no fim do dia.
Eu preciso de alguma distração, oh, perfeita liberação
A lembrança vaza de minhas veias...
Deixe-me vazia, e sem peso e talvez
Eu encontrarei alguma paz esta noite.

Nos braços de um anjo, voe para longe daqui
Deste escuro e frio quarto de hotel, e da imensidão que você teme.
Você é arrancado das ruínas, de seu devaneio silencioso.
Você está nos braços de um anjo, talvez você encontre algum conforto aqui

Tão cansado de seguir em frente, e para todo lugar que você se vira
Existem abutres e ladrões nas suas costas,
E a tempestade continua se retorcendo, você continua construindo a mentira
Que você inventa para tudo que lhe falta
Não faz nenhuma diferença, escapar uma última vez
É mais fácil acreditar
Nesta doce loucura, oh esta gloriosa tristeza
Que me faz ajoelhar.

Nos braços de um anjo, voe para longe daqui
Deste escuro e frio quarto de hotel, e da imensidão que você teme.
Você é arrancado das ruínas, de seu devaneio silencioso.
Você está nos braços de um anjo, talvez você encontre algum conforto aqui