Então ela disse: “quer trocar
seus olhos com os meus?”
Simplesmente há coisas que
queria vê-lo fazendo. Tudo bem que poderia até estar sendo injusta comigo. Mas
há vezes que penso que talvez ele fosse mais feliz se pudesse ver melhor. É
claro que esta percepção ele perdera aos poucos, mas antes havia coisas que ele
não pudera fazer, e agora, agora ele pode. Mas não deve. Não deve porque não
consegue. Simplesmente porque não há mais perfeição em seus olhos. Em sua
visão.
Fico às vezes pensando em como
seria bom pra ele fazer o que sempre quis, puder dirigir, puder ir além de seus
limites. Eu sei que não vi o bastante como ele já vira, mas poderia suportar
tudo que ele vive agora, só para vê-lo em minha frente e feliz com uma nova
visão. Porque sei também que a mais linda visão não é aquela visível aos olhos.
E sim, aquelas as quais muitas vezes não podemos enxergar.
Conheço os sonhos do meu pai,
sei que ele crê que um dia pode ter sua visão de volta. Perfeita, sem manchas
em raio-X, sem que possua impossibilidade de puder enxergar as coisas ao redor.
Sem exames anuais para ver se houve agravamentos.
Só queria que ele pudesse tê-la
de volta.
Quando eu perguntei se ele
queria meus olhos, vi em seu semblante, um olhar que nunca...
Ah, foi como se nada pedisse. E
então ele só sorriu. Mas foi um sorriso que não lembro bem, mas talvez o
sorriso que dera quando pronunciei pela primeira vez: “papai”.
Fiquei sem chão. Sem ar. Sem
sentido. Só queria dar-lhe um abraço. Senti um conforto tão imenso e tão bom.
Ele acredita em milagres. Eu
também creio. E a prece, no mais íntimo dele é: “Deus Meu, dá-me forças para
acreditar no milagre. Todos os dias, cada vez mais.” (A minha também).
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