segunda-feira, 13 de maio de 2013

Resenha - Os escritores da liberdade


LAGRAVENESE, Richard. Escritores da Liberdade. EUA/Alemanha, 2007.



Escritores da Liberdade, filme com título original Freedom Writers, dirigido por Richard LaGravenese com produção de Danny Devito, Michael Shamberg e Stacey Sher. A obra tem como estrela a presença de Hilary Swank, fazendo o papel de uma professora principiante. Baseado no livro The Freedom Writers Diaries e nos relatos da professora Erin Gruwell e seus diversos alunos.
Faz-se necessário discutir a definição do tema mais abordado no filme; Gangue. Segundo o dicionário Wikipédia, (derivado da palavra inglesa gang) é um grupo de indivíduos que compartilham de uma identidade comum e, na concepção atual, se envolvem em atividades ilegais. Historicamente o termo refere-se tanto a grupos criminosos como grupos de pessoas comuns. O filme inicia-se com a narração de Eva, uma garota que viu seu lar sendo invadido por policiais e levarem o seu pai por uma causa injusta. Eva, assim como os outros adolescentes presentes no filme, faz parte de gangue – que segundo ela, é onde está o seu povo, e que tudo deve ser feito para a proteção destes. O drama relata uma história real e foca a guerra de tensões raciais vivida em Los Angeles.
A professora Erin Gruwell escolheu ensinar nesta escola, pois ali havia o programa de integração voluntária como reflexão das políticas sociais. No entanto, assim como mencionado por ela, “não era bem o que ela imaginava que seria”. A senhora G’ foi uma luz em uma sala escura para aqueles adolescentes que somente com idades de 14 e 15 anos, viviam em uma guerra todos os dias. Alguns usavam até mesmo sinalizadores nos tornozelos. Erin Gruwell lecionaria inglês básico e literatura em uma turma de 1º ano onde diversas raças, culturas e etnias se enfrentavam com olhares maldosos todos os dias.
É fascinante o modo como ela enfrenta aquela turma, que para ela torna-se a partir dos primeiros dias um desafio. Partindo da realidade daqueles jovens Erin faz acreditar que suas vidas pode sim tornar-se melhor. Erin acredita no potencial dos seus alunos e faz de tudo para que eles acreditem e conheçam isso neles.
A escola onde Erin leciona, segundo os coordenadores e professores, era a mais reconhecida da área antes do programa de integração, como alguns aludiram, antes de ser um reformatório. Erin percebe que para muitos daquela escola, a sala 203 era tida como a turma dos burros e até mesmo os que ali se encontravam definiam-se assim. Para tanto, Erin apesar de todos os obstáculos que encontra e a não aceitação dos alunos com seus métodos de ensino, se esforça e se utiliza de métodos extracurriculares. A cada dia ela se interessava por a turma 203 e aos poucos fora conquistando a cada um. Em uma aula, Erin faz uma dinâmica com eles; colocou uma fita no chão, a qual dividiu a sala, e a cada pergunta feita, os alunos que se identificassem com tal, se aproximariam da fita. A partir dali a Sra. Gruwell é tocada pela dura realidade daqueles adolescentes, que por motivos que acreditavam serem os certos, enfrentavam-se como numa guerra. Erin de forma didática e ao mesmo tempo ousada desafia-os a escreverem suas histórias – contariam em um caderno o seu dia-a-dia. Eles teriam que escrever todos os dias sobre o passado, o presente e até mesmo o futuro. É encantador a ousadia da Sra.G’ para aqueles alunos. Ela ainda sugere a eles que se quiserem que seus cadernos sejam lidos, eles poderiam deixar em uma armário da sala, que estaria aberto até o fim da aula.
Ela se surpreende quando no final do dia, após a suposta reunião com os pais (suposta, pois nenhum familiar compareceu). Mas Erin ganha seu dia, quando encontra o armário repleto de cadernos. E ler todos ali mesmo. A partir de então, Erin passa a conhecer cada rosto, e o que guardavam seus alunos naqueles semblantes. Por falta de apoio e recursos escolares, Erin consegue permissão para levar a turma 203 a um passeio ao Museu, onde conheceriam um pouco do holocausto vivido por judeus. A partir daí passa a trabalhar valores e sentimentos, com o propósito de sensibilizá-los para infinitas questões como: discriminação, pobreza, preconceitos e tolerância, o que veio a diminuir significativamente a violência na sala de aula, e de certa forma passa-se a haver uma maior integração dos alunos nas aulas e um novo olhar diante da realidade vivida. Erin aposta em um projeto – por falta de apoio da coordenação pedagógica, ela compra para a turma livros novos, um deles foi o “Diário de Anne Frank”, a qual os leva a escreverem uma carta para a mulher que abrigou Anne em sua casa quando perseguida no holocausto. Nestas cartas, os alunos deveriam relatar suas experiências tanto boas quanto ruins. Um dos adolescentes pergunta se suas cartas serão entregues para Mep Gies e se talvez quando as lesse ela poderia vir conhecer a todos da turma; eles propõem até mesmo realizarem eventos para angariar fundos Erin percebe a mudança e a dedicação e cooperação entre seus alunos. Com dinheiro em mãos, Erin faz de tudo para conseguir realizar o grande desejo da turma.  E enfim, a Sra. Mep Gies vai à escola e conversa em meio a todos da turma – expõe sua experiência quando escondeu a Anne Frank. Marcus, um dos alunos, emocionado diz que para ele, ela é sua grande heroína. Ela alega que fez somente a coisa certa. E diz que não é uma heroína. Diz ainda, “(...) que todos nós somos pessoas comuns e que mesmo com pequenas atitudes podemos acender uma luzinha numa sala escura.” E no fim, ela os chama de heróis. Pois leu suas cartas e viu o que todos enfrentam todos os dias e diz com toda certeza expressa em sua face: “vocês são os heróis. Vocês são heróis todos os dias!”.
Cabe ressalta que o enredo torna-se importante também, por mostrar outros aspectos como a extrema dedicação de uma professora ao acreditar na transformação de seus alunos e a inserção da literatura e do conhecimento de outras culturas como base para mudança. É notável ainda a relação ódio e amor entre aluno e professor, que se torna fonte surpresas que ocorre no filme, e a partir desta relação surgem outras vertentes abordadas no drama.
Assim como no inicio do filme, a narração finaliza com a Eva em uma cena onde todos agora se sentem como iguais. Seus diários são digitados por eles mesmos e a professora Erin Gruwell, fez com que todos fossem arrumados juntos; a Sra. Gruwell não prometeu que o livro seria publicado, mas motiva-os a fazerem isso, pois eles tinham uma coisa para dizer para as pessoas. O livro seria uma coisa para deixar para as pessoas, eles eram agora escritores com suas próprias vozes e suas próprias histórias. E o nome foi: “O diário dos escritores da liberdade”.

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