quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Uma lição de amor/ I Am Sam - Resenha

“Como podemos ser tão diferentes e nos sentirmos tão iguais?”


            Uma lição de amor/ A Força do Amor, tem como título original: I Am Sam. Filme americano, do gênero drama, lançado em 2001, escrito e dirigido por Jessie Nelson, estreado no Brasil no ano de 2002.
            Sam Dawson é um homem com deficiência mental e apresenta atraso cognitivo. Leva uma vida normal, tem amigos que fazem parte do seu dia a dia e são assim como ele, especiais e excepcionais! Um grupo de amigos que trepida inveja em qualquer outro – envolvidos pelo afeto, companheirismo e cobertos de generosidade e humanização.
            O filme começa com Sam em seu ambiente de trabalho, uma cafeteria, da qual todos por lá o tratam com respeito e inclusão. A trama inicia quando durante sua atividade no trabalho ele recebe uma ligação, Sam sai correndo pela rua e chega à sala de um hospital, onde lá sua vida começa a ganhar mais brilho; nasce sua razão de viver, a filha a qual ele devotaria todo o seu amor e cuidado. Lucy, fora fruto de um relacionamento inesperado entre Sam e uma mulher que recebe abrigo na casa de Sam. Porém, esta mulher sem nenhuma explicação, abandona Sam e o bebê.
            O filme nos traz algumas reflexões iniciais e alguns questionamentos: como Sam cuidará de sua filha, sozinho? Será que sua mãe voltaria um dia? E quando a criança crescer? Como ficará a vida de Sam diante de tal situação...?
            Com o apoio de seus amigos e ajuda de uma amiga vizinha, Sam se envolve cada vez mais com sua filha, entregando todo o seu amor àquela criança. Sua atenção, seus mais sinceros cuidados e proteção. É emocionante cada minuto do filme, cada cena nos faz envolver-se com a história, fazendo-nos reconhecer que nossa humanidade está aquém do respeito as diferenças, as singularidades de cada ser. Sam tinha uma mentalidade de uma criança de 7 anos, a inocência de 7 anos de vida, mas todo amor que ele tem... ah! Talvez não caiba em muitos que se dizem ser gente.
            É cativante a paixão devotada por ele a sua filha. Desde o primeiro momento ao segurá-la nos braços, e o seu olhar, e o seu cuidado encharcados de amor. Cada momento entre Lucy e Sam é fascinante aos olhos.
            Nos primeiros dias, Sam sente dificuldade em seus iniciais cuidados; hora de alimentá-la, como pôr sua frauda; que horas ela deve dormir ou tomar banho. Em tímido desespero Sam pede ajuda: “[...] é tudo tão pequeno, você vem aqui pra me ajudar?” foi o que ele disse a vizinha Enne, sua amiga. Quando ela explica os horários de alimentar a criança, com sentimento profundo, ele pede desculpas a Lucy.
Sua amiga Enne ensina os horários de alimentá-la sintonizando a TV com os programas nos devidos horários. E Sam faz assim como recomendado.
Lucy começa a crescer e com isso, logo o enche de perguntas e mais perguntas...
– Papai por que a neve cai em flocos?
– Porque ela vem em flocos.
– Papai a mostarda é feita de que?
– A mostarda é um ketchup amarelo.
– Papai por que tem homens carecas?
– Alguns homens são carecas porque a cabeça deles brilha e não tem cabelo nela. A cabeça deles faz mais parte da cara.
– Papai só tem joaninhas, ou tem também joaninhôs, também, e se eles existem o nome deles é esse mesmo?
– Não. Chamam besouros.
– Papai onde o céu termina?
(...)
            Lucy e suas perguntas começam a deixar Sam confuso; em uma cena Lucy questiona a seu pai “se Deus quis que ele fosse assim, ou se foi um acidente?” Sam não reconhece uma maneira de explicá-la suas limitações enquanto humano. E a questiona assustado o que ela queria dizer com aquela pergunta. E se desculpa por ele não ser como as outras pessoas, os outros pais.
Lucy o deixa feliz completando: “Não se preocupe, eu tenho sorte. Nenhum dos outros pais costuma ir ao parque”.
            É fascinante a performance do ator principal, consegue por excelência ser originalmente encantador a cada cena.
Como duas crianças de mesma idade eles passam os mais felizes e divertidos dias, até que a vida deles sofre algumas mudanças, quando Lucy começa a frequentar a escola; Lucy envolvida com seus colegas passa a se questionar sobre o comportamento de seu pai. Alguns colegas passam a chama-lo de retardado, e Lucy acata: dizendo que: “é possível ser um retardado para reconhecê-lo”.
Lucy passa a mostrar outros livros para o seu pai, mas Lucy reconhece algo que a deixa com vergonha quando estão lendo juntos em uma passagem do livro que diz: “Como podemos ser tão diferentes e nos sentirmos tão iguais?”
            Suas vidas começa a mudar quando a escola chama Sam para uma conversa e o diz que Lucy não consegue acompanhar seus coleguinhas na escola, e se recusa a apreender, a evoluir. Em casa, Lucy se recusa a ler e diz ser burra. E completa: “se você não consegue ler, eu também não consigo ler”. Seu pai a convence dizendo emocionado que se sente realizado quando ela ler e ela termina a leitura.
            O clímax ocorre quando na festa surpresa de Lucy, Sam e seus amigos, junto aos colegas de Lucy, a menina é levada pela Senhora da Vara da Família, que fora visitá-la. E na hora que Lucy chega, ela é surpreendida! Um coleguinha grita: “ele não é seu pai, você disse que foi adotada!”
            Sam fica sem Lucy por um tempo, só pode vê-la duas vezes por semana e por duas horas. Ele passa a procurar por um advogado que o ajude. Até que com muito esforço e persistência, uma advogada aceita ajudá-lo, no entanto, ela só o ajuda (pro bono) para impressionar alguns seus amigos que a vê conversando com ele.
 Rita é uma advogada, mãe e esposa. Estas ultimas sem muita dedicação. Ela é uma pessoa que sofre com alguns problemas – seu filho uma criança que não recebe atenção merecida e a trata com desobediência e rebeldia. E seu esposo, é um homem infiel.
            Rita passa a se envolver cada vez mais com o caso de Sam e, com ele, passa a valorizar algumas coisas e ser mais calma, mais humilde e humana.
Durante o filme, Sam e Rita enfrentam várias sessões, até que Sam se conforma e faz o que para ele seria melhor para sua filha – deixá-la com sua mãe adotiva, aquela com quem ele sempre quis para Lucy; uma mulher paciente, carinhosa e que estava disposta a dar atenção e o amor que Lucy precisava.
            Há passagens em que Lucy passa dias fugindo de casa pela janela para ir de encontro à casa do pai; de madrugada, quando todos já dormiam, ela pulava a janela de sua casa e ia para a casa de Sam que era vizinha a sua. Dizia a seu pai que não conseguia dormir, e, Sam a esperava adormecer todas as vezes que isso acontecia e depois ia deixá-la em sua casa. É comovente a forma como a mãe adotiva da Lucy diz para o Sam quando evita que mais um desses episódios ocorresse novamente; então ela vai à casa de Sam com Lucy em seus braços, e simplesmente diz que ela não seria capaz de dar o mesmo amor que ele sente por sua filha. E a entrega nos braços de Sam.
            O julgamento final não se passa no filme, mas o que sabemos é que Sam fez o que achara melhor para Lucy, a deixa com sua mãe adotiva.
Histórias assim, nos fazem refletir sobre comportamentos – o comportamento humano. Os valores que nós por muitas vezes esquecemos ou fazemos questão de não usá-los. O respeito as pessoas, seja ela como for, surda, cega, com deficiência mental, paraplégicas, etc. seja lá qual for sua deficiência. O fato é que pessoas assim são cidadãs e cidadãos como qualquer outro, e como tais possuem os mesmos direitos que pessoas “normais”. 
E para a inclusão, o que falta? 

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