Esses dias, está rolando uma campanha, principalmente nas Redes Sociais
com a seguinte frase: "Mexeu com uma, mexeu com todas. Situando o
acontecido, trata-se de uma manifestação, iniciada por algumas atrizes em apoio
a Susllem (figurinista da maior emissora do Brasil). A referida mulher, disse
ter sido assediada, em seu local de trabalho, por um renomado ator (o qual fora
afastado por tempo indeterminado pela emissora, após denúncia).
Quando vi
dezenas de mulheres vestindo àquela camisa, bem como as milhares de hashtags
procurei pesquisar sobre do que se tratava, apesar de já está estampado
(literalmente falando). Mesmo assim fui, para saber como aquilo aconteceu!
E algumas pessoas podem até achar normal, ou algo pequeno... E dizer: - “ela
se doeu com isso?!” Ou ainda, “e ela não se acha bonita mesmo?!”
Hey! Estamos falando de assédio sexual... não foi só uma “cantada” se é que
isso também não seja assédio.
Segundo a
Susllem, o acusado tocou a genitália dela com a mão esquerda e proferiu as
seguintes palavras: “como você se veste bem, como sua cintura é fina, fico
olhando a sua bundinha e imaginando o seu peitinho, você nunca vai dar para
mim?”
Eu não preciso pesquisar quem é o acusado (sobre sua vida, se tem
esposa, filhas/os), tampouco ler sobre a vida da vítima etc. Porque igual a
esse caso existem muito ai a fora. O problema é o silêncio e a importância dada
a coisas deste tipo. E é sobre este silêncio que quero falar.
Def.: O assédio sexual pode ser definido como avanços de
carácter sexual, não aceitáveis e não requeridos, favores sexuais ou contatos
verbais ou físicos que criam uma atmosfera ofensiva e hostil. Pode também ser
visto como uma forma de violência contra mulheres ou homens e também como
tratamento discriminatório.
Agora, neste momento enquanto você ler esse texto – há uma mulher
passando pela rua e alguém próximo a ela assobiando ou falando ‘oh... lá em
casa...’ ou ainda ‘ei, minha gatinha!’, ‘ei, gostosa...’, tem
uma mulher em um ônibus e um homem tentando encostar-se nela, tem uma mulher em
casa, vestida com um short curto ou uma blusa decotada e um homem soltando
piadas ou tentando tocá-la, tem uma mulher se vestindo, enquanto um homem a
observa e toca sua própria genitália (...) e muitos outros casos.
E após isso: silêncio. Porque temos medo. Porque dizemos que é a nossa
palavra contra a de um homem. Porque não temos provas. Porque talvez eu não
devesse me vestir assim. Porque talvez eu tenha culpa em algo. Porque, talvez,
eu deva tomar/redobrar meu cuidado. Não posso falar, ou serei despedida deste
emprego. Não vou denunciar, porque este professor vai me marcar até o fim do
semestre (...).
Hey... o que
há de errado?! Será que é nossa culpa?! Será que não posso me vestir como bem
quero?! Será que ele pode mesmo dizer o que bem quiser e me tocar só porque ele
é meu chefe? Será que DEVO FICAR CALADA? Até quando?!
Já ouviu falar em machismo? Virou até clichê dizer: “você tem um pensamento
machista” ou “nossa, como você é machista”.
Mais uma
definição:
Machismo é o
comportamento, expresso por opiniões e atitudes, de um indivíduo que recusa a
igualdade de direitos e deveres entre os gêneros sexuais, favorecendo e
enaltecendo o sexo masculino sobre o feminino. O machista é o indivíduo que
exerce o machismo.
E há quem diga que mulheres também não são machistas. Dou apenas dois
exemplos, talvez sejam suficientes para captar a dimensão do significado destes discursos machistas.
Ex. 1.
Quando uma mulher se recusa a dividir as tarefas domésticas, (quando digo se
recusa, estou dizendo que ela aceita a situação e não procura mudar) porque
disseram a ela que a função dela (enquanto mulher) era servir ao homem. Assim
ela faz sozinha as tarefas de casa porque isso é dever da mulher. (Ela enxerga
isto como dever)
Ex.2. Vi comentários
nas Redes, de mulheres que foram contra a campanha (‘mexeu com uma, mexeu com
todas’) - “Eu não estava lá, eu não tenho como saber o que aconteceu...
Disse uma internauta.
Agora uma reflexão: a sociedade que impôs o machismo? Se você disser que
sim, você concorda que é um hábito cultural. Na verdade, não há quem discorde
disto. Contudo, o que estamos fazendo para mudar?
Será que é dizendo a sua FILHA como ela deve se comportar lá fora
(dizendo implicitamente que tenha e sinta medo)... ou não seria melhor ensinar
a seu FILHO como se comportar e respeitar as pessoas (sobretudo, as meninas)?
Assim, se isto é cultural, a coisa deve ser cortada, isto é, vista e consertada
desde o início da formação de uma pessoa. É em casa; é no berço; com a irmã; é
com as primas; é com as colegas da vizinhança; é na escolinha assim que
começarem a vida escolar.
E esse silêncio, isso de abafar um caso, uma situação... de se calar
ante ao que você está passando, e, nem ao menos conversar com alguém em quem
você confie... Não, isso não deve persistir. E quando a gente fala e põe isso
de "mexeu com uma, mexeu com todas", estamos deixando bem claro que
NÃO queremos que aconteça com mais ninguém. Porque não, é NÃO.
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A Central de Atendimento à Mulher -
Ligue 180 é um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial,
oferecido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres do Ministério
das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. O atendimento é
oferecidos 24 horas por dia, todos os dias, inclusive sábados, domingos
e feriados.