quarta-feira, 5 de abril de 2017

"Mexeu com uma, mexeu com todas"


Esses dias, está rolando uma campanha, principalmente nas Redes Sociais com a seguinte frase: "Mexeu com uma, mexeu com todas. Situando o acontecido, trata-se de uma manifestação, iniciada por algumas atrizes em apoio a Susllem (figurinista da maior emissora do Brasil). A referida mulher, disse ter sido assediada, em seu local de trabalho, por um renomado ator (o qual fora afastado por tempo indeterminado pela emissora, após denúncia).
Quando vi dezenas de mulheres vestindo àquela camisa, bem como as milhares de hashtags procurei pesquisar sobre do que se tratava, apesar de já está estampado (literalmente falando). Mesmo assim fui, para saber como aquilo aconteceu!
E algumas pessoas podem até achar normal, ou algo pequeno... E dizer: - “ela se doeu com isso?!” Ou ainda, “e ela não se acha bonita mesmo?!” Hey! Estamos falando de assédio sexual... não foi só uma “cantada” se é que isso também não seja assédio.
Segundo a Susllem, o acusado tocou a genitália dela com a mão esquerda e proferiu as seguintes palavras: “como você se veste bem, como sua cintura é fina, fico olhando a sua bundinha e imaginando o seu peitinho, você nunca vai dar para mim?”
Eu não preciso pesquisar quem é o acusado (sobre sua vida, se tem esposa, filhas/os), tampouco ler sobre a vida da vítima etc. Porque igual a esse caso existem muito ai a fora. O problema é o silêncio e a importância dada a coisas deste tipo.  E é sobre este silêncio que quero falar.
Def.: O assédio sexual pode ser definido como avanços de carácter sexual, não aceitáveis e não requeridos, favores sexuais ou contatos verbais ou físicos que criam uma atmosfera ofensiva e hostil. Pode também ser visto como uma forma de violência contra mulheres ou homens e também como tratamento discriminatório.
Agora, neste momento enquanto você ler esse texto – há uma mulher passando pela rua e alguém próximo a ela assobiando ou falando ‘oh... lá em casa...’ ou ainda ‘ei, minha gatinha!’, ‘ei, gostosa...’, tem uma mulher em um ônibus e um homem tentando encostar-se nela, tem uma mulher em casa, vestida com um short curto ou uma blusa decotada e um homem soltando piadas ou tentando tocá-la, tem uma mulher se vestindo, enquanto um homem a observa e toca sua própria genitália (...) e muitos outros casos.
E após isso: silêncio. Porque temos medo. Porque dizemos que é a nossa palavra contra a de um homem. Porque não temos provas. Porque talvez eu não devesse me vestir assim. Porque talvez eu tenha culpa em algo. Porque, talvez, eu deva tomar/redobrar meu cuidado. Não posso falar, ou serei despedida deste emprego. Não vou denunciar, porque este professor vai me marcar até o fim do semestre (...).
Hey... o que há de errado?! Será que é nossa culpa?! Será que não posso me vestir como bem quero?! Será que ele pode mesmo dizer o que bem quiser e me tocar só porque ele é meu chefe? Será que DEVO FICAR CALADA? Até quando?!
            Já ouviu falar em machismo? Virou até clichê dizer: “você tem um pensamento machista” ou “nossa, como você é machista”.
Mais uma definição:
Machismo é o comportamento, expresso por opiniões e atitudes, de um indivíduo que recusa a igualdade de direitos e deveres entre os gêneros sexuais, favorecendo e enaltecendo o sexo masculino sobre o feminino. O machista é o indivíduo que exerce o machismo.
E há quem diga que mulheres também não são machistas. Dou apenas dois exemplos, talvez sejam suficientes para captar a dimensão do significado destes discursos machistas.
Ex. 1. Quando uma mulher se recusa a dividir as tarefas domésticas, (quando digo se recusa, estou dizendo que ela aceita a situação e não procura mudar) porque disseram a ela que a função dela (enquanto mulher) era servir ao homem. Assim ela faz sozinha as tarefas de casa porque isso é dever da mulher. (Ela enxerga isto como dever)
Ex.2. Vi comentários nas Redes, de mulheres que foram contra a campanha (‘mexeu com uma, mexeu com todas’) - “Eu não estava lá, eu não tenho como saber o que aconteceu... Disse uma internauta.
Agora uma reflexão: a sociedade que impôs o machismo? Se você disser que sim, você concorda que é um hábito cultural. Na verdade, não há quem discorde disto. Contudo, o que estamos fazendo para mudar? 
Será que é dizendo a sua FILHA como ela deve se comportar lá fora (dizendo implicitamente que tenha e sinta medo)... ou não seria melhor ensinar a seu FILHO como se comportar e respeitar as pessoas (sobretudo, as meninas)?
            Assim, se isto é cultural, a coisa deve ser cortada, isto é, vista e consertada desde o início da formação de uma pessoa. É em casa; é no berço; com a irmã; é com as primas; é com as colegas da vizinhança; é na escolinha assim que começarem a vida escolar.
E esse silêncio, isso de abafar um caso, uma situação... de se calar ante ao que você está passando, e, nem ao menos conversar com alguém em quem você confie... Não, isso não deve persistir. E quando a gente fala e põe isso de "mexeu com uma, mexeu com todas", estamos deixando bem claro que NÃO queremos que aconteça com mais ninguém. Porque não, é NÃO.



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Um comentário:

Anônimo disse...

Saudade de você!