quinta-feira, 24 de julho de 2025

Por que eu não falo de política

Não é desinteresse. Não é alienação.

Eu leio. Eu escuto. Eu observo tudo com atenção. Mas não falo.

Talvez seja defesa. Talvez cansaço. Talvez seja só uma memória — das muitas vezes em que vi meu pai, homem simples, honesto até os ossos, se exaltar diante de injustiças que pareciam imutáveis. Vi a política tirar o brilho dos olhos dele. Vi a revolta consumir seus domingos. Vi o nó na garganta diante da corrupção que parecia vencer sempre.


Então, cresci entendendo que falar de política doía. E mais do que isso: muitas vezes, não adiantava. Porque nem todo mundo queria escutar — só vencer a discussão.

E eu… eu cansei das lutas que não levam a lugar algum.


É um defeito? Talvez seja.

Talvez seja medo de me consumir por dentro.

Ou só uma escolha de paz.

Não é omissão, é um limite que tracei.

Eu leio, me informo, voto com consciência. Mas não dou palco à raiva.

Não quero que ela me molde.

Então eu escuto.

Porque tem gente que ainda precisa colocar pra fora.

E tudo bem.

Eu só escolhi guardar em silêncio o que em mim ainda grita.



sexta-feira, 18 de julho de 2025

Quando vocês crescerem

Filhos, se um dia encontrarem esse texto, talvez em um caderno velho, em uma pasta perdida do computador, ou em algum cantinho do meu blog, saibam: escrevi com o coração cheio e os olhos um pouco marejados.

Hoje vocês ainda são pequenos — Nael com suas descobertas encantadas, suas perguntas que exigem do mundo mais do que simples respostas, e Naeli com sua doçura de quem brinca de boneca sendo, ao mesmo tempo, uma tempestade de imaginação e ternura.

Vocês me chamam o tempo todo. Chamam pra ver um desenho, pra contar uma história pela metade, pra mostrar um desenho mal recortado ou uma dancinha nova. Chamam quando o brinquedo quebra, quando querem o meu braço pra dormir, quando um precisa da minha atenção e o outro já está agarrado em mim. Eu vivo em um constante "vem aqui, mamãe", e isso, meus filhos, é o som mais bonito da minha rotina.

Talvez, quando forem grandes, achem que mamãe era cansada demais, distraída em alguns momentos ou até ranzinza em outros. E é verdade, às vezes eu estava exausta. Tentando ser estudante, profissional, esposa, dona de casa e mãe — tudo ao mesmo tempo. Mas também é verdade que cada sorriso de vocês me empurrava para frente. Cada abraço, mesmo os mais grudados e suados, eram combustível.

Quando crescerem, talvez nem se lembrem do quanto brigaram pelo meu colo, das vezes em que adormeceram aos meus pés enquanto eu ainda digitava ou estudava. Talvez não lembrem que eu comia o que sobrava, que trocava um banho tranquilo por um banho corrido entre brinquedos espalhados pelo chão. Mas tudo bem. Porque isso é o amor de uma mãe: dar, sem cobrança. Ser, sem medida.

Espero que, quando forem grandes, carreguem com vocês a leveza de terem sido amados sem limites. Que saibam que toda a correria teve um propósito. E que se, um dia, a vida parecer dura demais, vocês se lembrem que vieram do afeto, do riso fácil, do “tudo bem chorar”, do “eu tô aqui, filho”.

Se forem ler isso em um momento de dúvida, insegurança ou saudade… fechem os olhos por um instante. Imaginem minha voz dizendo o que sempre disse: “Mamãe está fazendo tum-tum aqui dentro do seu peito”.


E estará. Sempre.


Com todo amor do mundo,

Mamãe.