Não é desinteresse. Não é alienação.
Eu leio. Eu escuto. Eu observo tudo com atenção. Mas não falo.
Talvez seja defesa. Talvez cansaço. Talvez seja só uma memória — das muitas vezes em que vi meu pai, homem simples, honesto até os ossos, se exaltar diante de injustiças que pareciam imutáveis. Vi a política tirar o brilho dos olhos dele. Vi a revolta consumir seus domingos. Vi o nó na garganta diante da corrupção que parecia vencer sempre.
Então, cresci entendendo que falar de política doía. E mais do que isso: muitas vezes, não adiantava. Porque nem todo mundo queria escutar — só vencer a discussão.
E eu… eu cansei das lutas que não levam a lugar algum.
É um defeito? Talvez seja.
Talvez seja medo de me consumir por dentro.
Ou só uma escolha de paz.
Não é omissão, é um limite que tracei.
Eu leio, me informo, voto com consciência. Mas não dou palco à raiva.
Não quero que ela me molde.
Então eu escuto.
Porque tem gente que ainda precisa colocar pra fora.
E tudo bem.
Eu só escolhi guardar em silêncio o que em mim ainda grita.
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