Hoje, na academia, entre uma série de exercícios e outra, a conversa caiu no tema ansiedade. Minha amiga, num tom de admiração, comentou que eu não tenho problemas. Que eu sou tranquila, equilibrada, que não me impressiono demais. Ela dizia isso como quem enxerga serenidade onde talvez haja tempestade. Não foi julgamento, não foi crítica. Foi elogio sincero.
E eu fiquei pensando: ah, se ela soubesse.
Porque a verdade é que sim, eu me impressiono demais. Só que, no meu caso, os sintomas não aparecem em placas luminosas: eles aparecem nos dedos machucadas, que minha manicure reconhece como sinais de alerta.
Aí entra a parte “engraçada” — se é que dá para rir disso. Eu sou mãe de dois pequenos, empreendedora, dona de casa, estudante e esposa. Minhas cobranças começam antes mesmo de escovar os dentes. Já acordo fazendo inventário mental: a bolsa da escola está completa? Coloquei o calção, a blusa que minha filha pediu? A meia extra? Porque se eu esquecer, já sei que no fim do dia vou carregar a culpa como se tivesse cometido um crime federal.
E quando a noite chega, não é só “boa noite” e cama. Não. Eu preciso esperar meus filhos adormecerem, porque sinto que eles precisam perceber minha presença ali. Só depois disso eu me permito fechar os olhos — já pensando se a casa está em ordem, se a rotina do dia seguinte vai fluir ou se a ansiedade vai dar as caras.
E, no meio disso tudo, ainda me pressiono: será que meus filhos estão bem na escola, longe de mim? Será que eu estou dando conta? A maternidade é um eterno questionário sem gabarito, e a gente tenta responder de improviso.
É por isso que digo: ansiedade não escolhe, não faz distinção. Não importa se você parece calma, organizada, ou até exemplar. Ela chega, em maior ou menor escala, para lembrar que não somos super-heroínas.
E talvez seja aí que entra a importância da sororidade. Não para competir sobre quem aguenta mais, mas para compreender que todas nós carregamos fardos invisíveis.
Então, se eu pareço tranquila, lembre-se: tranquilidade, às vezes, é só a maquiagem social que a gente passa para sobreviver ao dia.
E se você também acorda com listas mentais, termina o dia se culpando por meias esquecidas e ainda assim segue firme, saiba: você não está sozinha. Estamos todas tentando — e isso já é muito.