segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Do tatame à mesa de cirurgia

Ontem, meu filho de 5 anos foi campeão na sua primeira competição de karatê. O menino entrou no tatame como quem entra no quintal de casa: tranquilo, focado e cheio de energia. Saiu com a medalha no peito e o brilho nos olhos de quem acabou de descobrir que é capaz de muito mais do que imaginava. E eu, claro, ali na arquibancada, quase precisei de um desfibrilador para aguentar tanta emoção.


Hoje, porém, o campeão troca o quimono por um avental cirúrgico imaginário. É dia de postectomia — aquela cirurgia simples, que estima-se que até 20 a 25% dos meninos precisarão em algum momento da infância. Nada grave, mas ainda assim… é cirurgia, né? Para mãe, cirurgia nunca é “simples”.


E o meu pequeno campeão, de novo, mostrou força. Um chorinho leve de manhã, uns olhos marejados… mas nada que escondesse sua coragem. E, como bom estrategista de cinco anos, já tinha sua lista de recompensas pela bravura: Hot Wheels, pistas e carrinhos novos, Kinder Ovo e, claro, o melhor prêmio de todos — uns dias sem ir à escola.

Enquanto o vejo ali, sereno e forte, percebo que as crianças têm uma sabedoria que a gente perde ao crescer. Ele me ensina, sem saber, que é possível enfrentar o que assusta com leveza, que é permitido chorar e, ainda assim, ser corajoso. Ontem, ele me ensinou a lutar no tatame. Hoje, me ensina a lutar na vida.


E eu só posso agradecer. Porque, se a maternidade é um treino constante de paciência e resiliência, meus filhos são, sem dúvida, os melhores senseis que eu poderia ter.



quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A ansiedade que não aparece nas fotos


Hoje, na academia, entre uma série de exercícios e outra, a conversa caiu no tema ansiedade. Minha amiga, num tom de admiração, comentou que eu não tenho problemas. Que eu sou tranquila, equilibrada, que não me impressiono demais. Ela dizia isso como quem enxerga serenidade onde talvez haja tempestade. Não foi julgamento, não foi crítica. Foi elogio sincero.


E eu fiquei pensando: ah, se ela soubesse.


Porque a verdade é que sim, eu me impressiono demais. Só que, no meu caso, os sintomas não aparecem em placas luminosas: eles aparecem nos dedos machucadas, que minha manicure reconhece como sinais de alerta.

Aí entra a parte “engraçada” — se é que dá para rir disso. Eu sou mãe de dois pequenos, empreendedora, dona de casa, estudante e esposa. Minhas cobranças começam antes mesmo de escovar os dentes. Já acordo fazendo inventário mental: a bolsa da escola está completa? Coloquei o calção, a blusa que minha filha pediu? A meia extra? Porque se eu esquecer, já sei que no fim do dia vou carregar a culpa como se tivesse cometido um crime federal.

E quando a noite chega, não é só “boa noite” e cama. Não. Eu preciso esperar meus filhos adormecerem, porque sinto que eles precisam perceber minha presença ali. Só depois disso eu me permito fechar os olhos — já pensando se a casa está em ordem, se a rotina do dia seguinte vai fluir ou se a ansiedade vai dar as caras.

E, no meio disso tudo, ainda me pressiono: será que meus filhos estão bem na escola, longe de mim? Será que eu estou dando conta? A maternidade é um eterno questionário sem gabarito, e a gente tenta responder de improviso.

É por isso que digo: ansiedade não escolhe, não faz distinção. Não importa se você parece calma, organizada, ou até exemplar. Ela chega, em maior ou menor escala, para lembrar que não somos super-heroínas.

E talvez seja aí que entra a importância da sororidade. Não para competir sobre quem aguenta mais, mas para compreender que todas nós carregamos fardos invisíveis.


Então, se eu pareço tranquila, lembre-se: tranquilidade, às vezes, é só a maquiagem social que a gente passa para sobreviver ao dia.

E se você também acorda com listas mentais, termina o dia se culpando por meias esquecidas e ainda assim segue firme, saiba: você não está sozinha. Estamos todas tentando — e isso já é muito.