quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A era pós-pré-treino: Eu, renovada e monitorada

Aconteceu.

A revolução.

O renascimento.

A Era Pós-Pré-Treino™ deu tão certo que agora eu evoluí de fase e desbloqueei o item mais poderoso do jogo: meu relógio inteligente Amazfit — um pequeno oráculo preso ao meu pulso, pronto para narrar minha vida como se fosse um documentário da BBC.


De repente, eu, mãe de dois, estudante, trabalhadora, dona de casa, empreendedora e sobrevivente emocional, virei também uma pessoa que faz 10 mil passos por dia… ou finge que faz (porque o relógio vibra celebrando até quando eu balanço o braço para chamar as crianças).


O Amazfit tem uma função de estresse.

A função detecta o estresse.

A função mede o estresse.

E o estresse sou eu.


O relógio olha para mim como quem diz:

“Querida… respira. Eu tô vendo tudo daqui.”


E eu respondo mentalmente:

“Eu sei, Amazfit, eu sei. Mas você já tentou convencer uma criança de 3 anos de que meia não é opcional?”


Aí tem a função de ciclo menstrual.

O relógio sabe antes de mim.

Ele literalmente me avisa que estou sensível… e, veja só, eu realmente estou chorando porque acabou o café.

Ele olha meus hormônios e fala:

“Se prepara, amor. Hoje não é dia de discutir relação, escolher roupa ou fazer contas.”


E os passos?

Ele marca tudo.

Marca quando eu corro atrás do filho de 5 anos para ele não sair sem escovar os dentes.

Marca quando eu subo escada com mochila, lancheiras, cadernos, garrafinhas e dignidade na mão.

Marca até quando eu tenho que ir na cozinha buscar algo que eu mesma esqueci.


A função do sono…

Ah, essa é uma obra-prima da comédia.

Ela me diz:

“Seu sono foi leve.”

E eu fico pensando:

“Leve? Leve é pouco, meu anjo. Leve é peso de algodão. O que eu tive foi um cochilo interrompido 14 vezes por ‘mamãe, cadê meu dinossauro azul?’, ‘mamãe, posso beber água?’, ‘mamãe, você sabe que o Japão existe?’”


Mas o ponto alto dessa história toda é outro.

Eu M-U-D-E-I.


Zero álcool.

Alimentação decente.

Atividade física regular.

Suplementação.

Sono (quando dá).

E agora o relógio me ajudando a não fugir de mim mesma.


Eu comecei a ter tempo.

E fiz escolhas com esse tempo, escolhas que sempre deixei para depois porque a gente, mulher, mãe, estudante, trabalhadora, vira uma máquina de cuidar — e esquece da própria engrenagem.


Hoje, sou quase uma versão Marvel de mim mesma.

Uma super-heroína com tênis confortável, pré-treino na veia e um relógio que me julga carinhosamente.


E a sensação?

É de vitória.

De respiro.

De existir.

De não estar apenas vivendo por inércia.


Porque quando eu paro, no fim do dia, e o relógio vibra dizendo “meta alcançada”, sinto vontade de responder:


“Pois é, Amazfit…

A vida também.”

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A pressa que não cabe no relógio

Você anda apressado?

Seu dia parece curto demais?
Anda comendo rápido, falando rápido, vivendo rápido… como se estivesse sempre tentando pegar um ônibus que já arrancou da parada?

Outro dia, me peguei dizendo pela milésima vez: “Nossa, a semana passou voando!”
E logo em seguida pensei:
Mas quem está voando… é a semana, ou sou eu correndo atrás dela?

Há quem diga que é o tempo moderno, que tudo anda acelerado, que a vida pede pressa.
Mas a verdade é que a pressa não está no relógio, está em nós.
É essa mania de achar que, se pararmos um pouco, vamos ficar para trás — como se a vida fosse uma competição em que o troféu fosse apenas sobreviver ao mês.

Corremos para trabalhar.
Corremos para resolver.
Corremos para responder mensagem, para postar, para entregar, para provar, para não decepcionar.

E no meio dessa maratona sem medalha, esquecemos de viver.

Não é que o tempo esteja mais curto.
É que estamos enchendo cada minuto de tarefas, expectativas, metas, cobranças.
Estamos ocupando cada espacinho da agenda — e deixando vazios os espaços da alma.

A pressa se tornou hábito.
E o hábito virou identidade.
Mas quem foi que disse que precisamos ser rápidos para sermos completos?

Se a vida fosse realmente curta como dizem, por que insistimos em atravessá-la correndo?

Talvez a pergunta certa seja outra: o que estamos tentando evitar quando aceleramos?
O silêncio?
A solidão?
A reflexão que aparece quando paramos?
Ou o medo profundo de perceber que estamos cansados demais?

A pressa nunca foi sinal de produtividade.
Às vezes é só um jeito educado de esconder a exaustão.

E sabe o mais curioso?
Quando desaceleramos — mesmo que só por um minuto — percebemos que o tempo não voa, ele caminha.
Devagar.
Constante.
No passo que sempre teve.

Quem estava correndo éramos nós.

Então, da próxima vez que sentir tudo rápido demais, pare um pouco.
Um gole de café sem olhar para o celular já é um começo.
Uma respiração mais longa também serve.
Porque desacelerar não é perder tempo —
é recuperar o pedaço de vida que deixamos cair pelo caminho.

A vida não é curta. 
Curto é o tempo que a gente realmente vive dentro dela.