segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Pulcros momentos


Ele me conta a cada vinda, uma história. Quando ele fala é como se estivesse vivendo aquilo novamente; as lembranças não são apenas simples lembranças de momentos bons contados por ele, é como se ele vivesse aquilo e estivesse me levando para lá, os momentos com a sua mãe, junto às palavras que saem como um novo broto.

Hoje me falara, da árvore de Natal! Não era uma simples árvore dizia ele... Havia um presépio também – um presépio que tinha vida! É a cada dia ele estava diferente, o cenário ganhava movimento. As bolas de sua árvore eram lindas, brilhantes e enormes, frágeis como cristal, encantadoras! Havia presentes ao pé da árvore. Maravilhava a muitos daquela cidade. O brilho, a dedicação, o prazer em enfeitar a sua casa... Ele recorda e olha para longe, e vive mais uma vez aqueles luminosos, belos, pulcros, brilhantes, alegres, bonitos momentos, e o filme passa em sua mente chegando até a transporta-me para lá, porque ele fala com a alma cheia de emoção, verdade e encanto.
Suas recordações não são somente cheias de saudades, são repletas da certeza de que sempre A’ teve com ele. De que nunca a esquecera e perdera. Sua mãe simplesmente está viva nele, é claro em seu sorriso e em seu olhar.

 

sábado, 15 de dezembro de 2012

“Pode falar, não importa
 O que tenho de torta,
 Eu tenho de feliz...
(...)Eu tenho tido a alegria como dom.”
Mallu Magalhães

Tiempo, tiempo e tiempo


Ei! Tempo. É você mesmo. É a você que me refiro. Por que você não passa logo e me deixa pensar só mais um pouco o que devo fazer? Entregar-me agora ao acaso e deixar-se correr por ai, e olhar o céu como antes, e as nuvens como simples algodãozinho que me embelezavam os olhos?!

Como a simples menina que via beleza em tudo, como aquela ingênua garota que conseguia aceitar as coisas, e entender que saudade é quando não dá mais pra tolerar um amor incumbido e sem cores. Que canta e sorria ao vento e que sempre diz que será, mesmo ficando “velha”, nunca, mas nunca deixará morrer nela a criança, o olhar de menina.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe. Sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável.”

Clarice Lispector.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Heaven (Paraíso)


A frieza que te abarca




Eu não quero saber da frieza que você tem. Das vezes que posso contar com ela.  Você também não é obrigado a querer estar sempre ligado a ela. Ela te faz bem? Dá-te júbilo ao ser frio com os outros, com os sentimentos dos outros, com as tristezas dos outros?
Não saberia se você, homem, fostes sempre assim.
Por que você é assim? Primeiro diz que estás chateado e depois age friamente...? Eu não saberia dizer se o reconheço, porque para mim nunca fostes assim, nunca demostrara-se ser assim. Este não é o perfil de outrora.
Se um dia eu disser que não durmo enquanto não ouço tua voz, isso é verdade. Acredite.
Aliás, não espere que ele acredite. Somente diga. E se ele não da à mínima para isso, repita. Repita e repita quantas vezes puder. Ninguém é obrigado a conhecer o outro inteiramente, e isso é impossível, uma vez que nem nós mesmos nos conhecemos por completo, mas é possível mostrarmos um pouco a cada dia para um alguém.
Quer viver um amor que suporte tudo? Se você quer, tudo bem! Mas antes de acatar, faça esta mesma pergunta para o alguém. Certamente você ouvirá a mesma resposta. Não se anime por imediato, antes de olhar as expressões, o olhar, os movimentos de toda a face, e do corpo também (cruzar os braços é suspeito).
Uma vez, uma jovem enquanto estava em seu assento, no ônibus, uma senhora falava: “sinto saudades dele...”.  De súbito, ela retira o fone do ouvido e pergunta: “como, falou comigo?” De fato, ela estava a dizer algo que estava sentindo no devido momento, e continuou... “Meu esposo, se foi há quinze anos, e ainda lembro-me dele todos os dias, como se fosse ontem que nos conhecemos e passamos a se amar dia após dia, intensamente (...)”, e ainda disse: minha jovem, não acredite em paixão. “Ela é como a chama, um encanto, máscara viva que se vai, fácil”. A jovem sorriu e consentiu aquelas palavras. De relance olhou para ela e perguntou: “e quanto aos amores à distância, é possível?”. As últimas palavras ditas por ela e depois dali a jovem não conseguiu dizer mais nada, além de um ‘Obrigada’, “o destino é a ponte que você irá construir até a pessoa amada, isso não depende da intensidade e sim da concretude”.

sábado, 1 de dezembro de 2012

O novo que vem vindo'



Mais um se foi. Não ele ainda não foi até que tu digas: agora podes ir’.


Até que eu diga: “agora sim, o ano acabou...” porque se você não realizou ou viveu o bastante do que planejara, ele ainda não podes ter ido. O ano apenas se reinicia do seu estado de felicidade encontrado em muitas pessoas; sonhos, planos, realizações... Para alguns até mesmo pode ser um ano de tristeza, quando ao perceber que no passado não conseguiu realizar-se como desejara. Mas por que não tentar e acreditar no novo que vem vindo?
Digo sempre que o passado já não importa. Hoje digo: dele só tirarei o que de bom me serviu. Aprendizagens nos erros, mancadas e fortalezas! Vitórias, novos amigos, e até mesmo uma cena que me marcara.
Confesso que pensei não suportar passar um ano assim, distante das pessoas que mais amo. Mas consegui, por um lado, acho que consegui. É eu consegui. Apesar de tudo - eu aprendi com tudo isso, e é o que importa. Lágrimas já se sucumbiram...
Alguns medos já se foram. E isso é bom para mim. A confiança aumentara em mim. A fé se fortaleceu. Quanto aos sonhos, ainda os busco.
Não coloquei em um papel o que eu faria, nem ao menos o que eu desejaria conquistar, não planejei querer conhecer um alguém; acredito que tudo fora traçado. Diante de mim, o que pus foi a confiança, o pedido de mais um ano de realizar-me e de chegar até aqui e somente agradecer. Tentei fazer tudo no seu tempo. Corri e cheguei, e, não digo: pronto chegamos ao fim, mas sim, apenas estou a caminhar... Nada está acabado.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Almas perfumadas



Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas,pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.

Ana Cláudia Saldanha Jácomo

domingo, 18 de novembro de 2012

Batata não é feijão

Momento Reflexão
Analisar como pensam as crianças é experiência deliciosa, e de ensino profundo.
Duas meninas, uma de cinco, outra de sete anos, estavam na sua mesinha jantando.
A menorzinha encontrou um grão de feijão na sopa, e disse para a outra:
Quando eu tiver uma semente de feijão, vou plantar no meu canteiro.
A outra acabou de engolir a sua colherada, passou o guardanapo na boca, e replicou:
Feijão não tem semente. A semente é ele mesmo.
A pequenina não entendeu, e tornou:
Então, como é que ele pode nascer, sem semente?
A outra, depois de pensar um pouco, explicou:
Eu acho que é mesmo a terra que, um dia, vira feijão.
Mas sem ter havido nenhuma semente, antes?
É, mesmo sem ter havido. Ela vai se juntando, juntando, juntando, e fica assim... num grão.
E procurou pelo prato, para ver se encontrava mais algum.
A menorzinha não se conformou muito com essa transformação abstrata. Foi tomando a sopa, e pensando.
Depois de um pedaço de silêncio, reatou a conversa:
Olha, também pode ser assim: um homem faz uma bolinha pequenina, pequenininha de massa... Depois, pinta por cima. Fica o primeiro feijão, então. Depois, os outros nascem...
A outra menina perguntou imediatamente:
E com que é que ele faz a massa?
Pode ser com... batata.
Mas batata não é feijão! - concluiu a maior, voltando a tomar sua sopa, pensando um pouco mais no tema proposto.
As duas continuaram ali, sentadas na mesinha, sem solução para sua dúvida, e com as cabecinhas quentes, de tanto pensar, imaginar e questionar.
* * *
Quem dera pudéssemos manter, após a idade adulta, essa curiosidade saudável e investigadora, que não se contenta com respostas superficiais.
Quem dera pudéssemos guardar na alma o hábito de fazer perguntas, de querer saber mais sobre isso ou sobre aquilo.
Quem sabe, se a idade dos porquês nunca houvesse passado, teríamos evitado aceitar tantas verdades fabricadas, através dos anos.
Muitos deixaram de questionar, de inquirir, aceitando tudo sem o processo indispensável do raciocínio.
Outros tantos foram coagidos a não pensar, a simplesmente concordar com tudo, violentados naquilo que há de mais belo no Espírito: a liberdade de pensamento.
* * *
Sócrates foi proclamado um dos homens mais sábios de todos os tempos, e tinha o hábito de questionar, de descobrir o que estava por trás das coisas e das idéias.
Precisamos nós, conquistar esta sabedoria, e desvendar o mundo de forma madura, encontrando assim as verdades eternas que nos farão cada vez mais felizes.
Se continuarmos aceitando que feijões podem ser feitos de batata, estaremos condenados à estagnação do intelecto, e por conseqüência, ao engessamento moral.

...



Uma mulher precisa de atenção. Carinho exacerbado.