- As nuvens negras cobrem por certo tempo. Mas elas passam rapidinho. E logo o céu volta ao seu estado normal, mostrando então sua beleza. Assim são os desafios, obstáculos e tempestades em nossas vidas.
A conquista e a vitória virão – acredite!
Vivemos, agimos e reagimos uns com os outros; mas sempre, e sob quaisquer circunstâncias, existimos a sós. Os mártires penetram na arena de mãos dadas; mas são crucificados sozinhos. Abraçados, os amantes buscam desesperadamente fundir seus êxtases isolados em uma única autotranscendência; debalde. Por sua própria natureza, cada espírito, em sua prisão corpórea, está condenado a sofrer e a gozar em solidão. Sensações, sentimentos, concepções, fantasias - tudo isso são coisas privadas e, a não ser por meio de símbolos, e indiretamente, não podem ser transmitidas. Podemos acumular informações sobre experiências, mas nunca as próprias experiências. Da família à nação, cada grupo humano é uma sociedade de universos insulares.
Muitos desses universos são suficientemente semelhantes, uns aos outros, para permitir entre eles uma compreensão por dedução, ou mesmo por mútua projeção de percepção. Assim, recordando nossos próprios infortúnios e humilhações podemos nos condoer de outras pessoas em situações análogas; somos até capazes de nos pormos em seu lugar (sempre, evidentemente, em sentido figurado). Mas em certos casos a ligação entre esses universos é incompleta, ou mesmo inexistente. A mente é o seu campo, porém os lugares ocupados pelo insano e pelo gênio são tão diferentes daqueles onde vivem o homem e a mulher comuns que há pouco ou nenhum ponto de contato na memória individual para servir de base à compreensão ou a ligações entre eles. Falam, mas não se entendem. As coisas e os fatos a que os símbolos se referem pertencem a reinos de experiências que se excluem mutuamente.
Contemplarmo-nos do mesmo modo pelo qual os outros nos veem é uma das mais confortadoras dádivas. E não menos importante é o dom de vermos os outros tal como eles mesmos se encaram. Mas e se esses outros pertencerem a uma espécie diferente e habitarem um universo inteiramente estranho? Assim, como poderá o indivíduo, mentalmente são, sentir o que realmente sente o insano?
Hoje, partiu para outra dimensão, mais um (grande) cantor e compositor brasileiro.
Vanderli Catarina, mais conhecido como Vander Lee.
Nasceu em Belo Horizonte, em março de 1966.
Foram 19 anos de carreira.
Conheci suas músicas, ainda quando fazia o ensino fundamental... Um professor, o qual admiro muito, não só pelo ser que é, pelo excelente mestre na Língua Portuguesa e Literatura... Sim, ele cantava em sala de aula! E declamava lindas poesias, ele esbanjava/esbanja um talento lindo!
Cantava em sala de aula, dentre outras canções da MPB, as belas canções do Vander Lee.
Passei a gostar do cantor e de suas músicas - ouço-as lendo as letras.
Conheci um amigo, que também me fez gostar mais ainda desse grande cantor. Compartilhou comigo (via e-mail - zipado) vários discos.
Sem mais... Não saberia falar do Vander Lee, da pessoa dele ou de como ele é. Nunca fui a um show ao vivo... vontade não faltou! Mas não tenho dúvida que foi um grande homem por aqui!
Que os anjos o receba com flores e belas canções... ao eterno Vander Lee, obrigada por suas canções!
Aqui pensando com meus botões... Nessas tantas ou poucas ou visíveis e até invisíveis oportunidades que surgem em nossa vida. Nos preocupamos por demasia no amanhã e então a gente pensa que se começarmos algo novo irá de alguma forma atrapalhar o andar da carruagem. E "a gente" demora a perceber que tudo (T U D O) que realizamos, começamos, escolhemos ou se agarrarmos as oportunidades: o presente - será só mais algo novo; novas chances; novos rumos - é algo mais a acrescentar àquilo que já somos/tornamos. Aquilo que tu és!
Tenho lido sobre a prática. Me desfiz de preconceitos e, por curiosidade ou ironias do destino - conheci a meditação através de um livro.
A partir de então passei a buscar mais sobre o assunto. Tenho tentado e me empenhado a aprender a meditar - ou por que não dizer: a silenciar minha mente.
Assista ao vídeo. Espero que você também possa se abster de seus conceitos e preconceitos sobre a meditação e também se interesse por esta arte... Ou melhor, a este encontro com Deus e consigo mesmo, enfim a paz.
Alguma vez na vida ouvimos e
também já dissemos qual a nossa palavra, nossa música ou sei lá o quê, que
representava para aquela pessoa/para nós. Um exemplo: sabe qual meu filme? “Comer, rezar amar”.
Eu poderia dizer também qual a minha
palavra... Mas, eu não sei. Assim como a Liz que, estava perdida quando esteve em
Roma. Enquanto todos diziam sua palavra ou qual seria a palavra de determinado lugar... Ela
só sabia dizer quem ela foi um dia e quem ela era ou como ela era vista e/ou
conhecida.
Comer, rezar e amar é um filme
do gênero drama e fora lançado em outubro de 2010. É também um livro da autora Elizabeth
Gilbert (o qual irei ler, sim acabei de baixar ele em PDF!).
Liz ou Elizabeth é escritora,
casada e não tem filhos (mas não por sua escolha, o filme deixa claro, quando
em uma conversa com sua amiga, o quanto ela sempre quis ter filhos, os dois tentaram por muito tempo). Contudo,
Liz é apenas uma escritora e que tem sonhos bem íntimos, os quais guarda em sua
“caixa”. Sim, ela tem uma caixa de fotos e curiosidades sobre os países/lugares
em que ela deseja ir antes de morrer! Ela escreve artigos sobre os lugares que
já conheceu. A trama de início mostra Liz abatida e confusa em sua vida profissional, amorosa e também pessoal. Ela já
não suporta ou não entende o andar de sua vida. E, cada vez mais se sente só e
sem respostas.
É tocante e inesquecível... sim é
essa a palavra, “i n e s q u e c í v e l” as frases marcantes em que Liz por
vezes é a narradora de sua vida ou trajetória. Sem falar na trilha sonora,
primeiro um tom ‘nova-iorquino’, depois indiano, depois italiano e por fim, indiano de novo.
Em uma noite qualquer, Liz em sua
casa se sente perdida... Ela então começa a conversar com Deus. Liz não tinha
crença alguma, o filme deixa isso claro. Mas ela se entrega a isso e implora
por uma resposta e que Deus a escute. Ela então volta para sua cama e diz ao
homem (seu companheiro de quase 15 anos) com quem está casada há 1 ano que não quer continuar casada! E então começa o sofrimento (a parte ruim da separação: divorcio e sentimento de culpa).
Liz conhece um jovem ator, de
28 anos que estava a encenar um de seus livros. Ela se apaixona por David e alí
se entrega por inteira.
Mas, não seria um drama se
acabasse assim – felizes para sempre.
Há 6 meses atrás – Liz estava
em Bali, onde conversava com um Monge que leu sua mão e disse: “você terá
dois relacionamentos, um longo e um curto”. Sim, era uma profecia! E ela estava se
cumprindo.
Liz não durou muito tempo ao
lado do David. E tudo estava exatamente acontecendo – assim como o Monge havia
lhe dito.
Liz resolve viajar para Itália à procura de se encontrar. Encontrar a si mesma e seu equilíbrio.
Liz conhece várias pessoas e se
diverte como nunca! Mas ainda não sentia feliz como demonstrava à todos. Seu próximo
destino foi a Índia. Conheceu com mais afinco a espiritualidade da Guru. Foi onde ela se encontrou e encontrou Deus. Foi onde ela pôde
enxergar além de si mesma e ainda perdoar-se.
Ela entendeu que “Há momentos
que temos de procurar o tipo de cura e paz que só podem vir da solidão.”
Ela aprendeu a lidar com sua
solidão. “Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão.
Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência
humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo
de satisfazer seus próprios anseios não realizados.”
E assim como o Monge havia
profetizado – ela voltou a Bali. E lá conheceu um novo amor. Não foi fácil para
perceber isso tampouco deixar-se amar novamente.
O Monge lhe disse: “Às vezes,
perder o equilíbrio por amor, faz parte de viver a vida em equilíbrio.” E foi
ai que Liz percebeu o que a vida havia lhe reservado.
Ela conheceu Felipe. Um homem
maduro e que também era recém divorciado. Por um acaso e por ironia do destino, eles se conheceram da forma menos previsível e incomum – ele a atropelara quando
vinha em seu carro e por descuido jogou Liz e sua bicicleta para longe!
Liz foi capaz de “Acreditar no
amor de novo”.
Liz encontrou-se na meditação e nos ensinamentos do Monge Ketut, na pureza das pessoas as quais deixou-se envolver-se como a curandeira e sua filha
Tutti. Liz demonstrou amizade, respeito, companheirismo, carinho, fidelidade,
compaixão amor a todos que conheceu durante um ano viajando e, foi assim que
encontrou a si mesma.
Comer, rezar e amar é um filme
longo, são mais 2 horas inteiras de pura viajem por culturas diferentes, crença e espiritualidade, pessoas diferentes, músicas de te fazer sentir-se lá... do outro lado da “telinha”.
Um filme que sim, tem muita comida e que te faz querer comer enquanto assiste. É também
um filme emocionante e confortador – porque passamos a refletir em muitas,
muitas coisas.
Sim, este é o meu filme. Eu
pude me ver em um bocado de coisas! Espero que você também assista e possa
tirar algo dele, algo de bom.
[Irei ler o livro. Posso dizer que estou ansiosa para começar...Já vi que tenho 406 páginas pela frente!]
"Merecemos mais do que ficar juntos por termos medo de sermos destruídos se não ficarmos."
"Acredite no amor de novo."
"Às vezes, perder o equilíbrio por amor, faz parte de viver a vida em equilíbrio."
"Ter um filho é como fazer uma tatuagem na cara. Você precisa realmente ter certeza de que é isso que você quer antes de se comprometer.”
“As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho: a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo, para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não! Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesma, e depois vão embora. “
“Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela, pela primeira vez na sua vida. Bem-vinda à experiência humana. Mas nunca mais use o corpo ou as emoções de outra pessoa como um modo de satisfazer seus próprios anseios não realizados."
“Galopamos pela vida como artistas de circo, equilibrados em dois cavalos que correm lado a lado a toda velocidade – com um pé sobre o cavalo chamado ‘destino’, e o outro sobre o cavalo chamado ‘livre arbítrio’. E a pergunta que você precisa fazer todos os dias é: qual dos cavalos é qual? Com qual cavalo devo parar de me preocupar, porque ele não esta sob meu controle, e qual deles preciso guiar com esforço concentrado.”
“Imagine que o universo é uma imensa máquina giratória. Você quer ficar perto do centro da máquina – bem no eixo da roda -, e não nas extremidades, onde os giros são mais violentos, onde você pode se assustar e enlouquecer. O eixo da calma fica no seu coração. É aí que Deus reside dentro de você. Então, pare de procurar respostas no mundo. Simplesmente retorne sempre ao centro, e sempre vai encontrar a paz.”
"Há momentos que temos de procurar o tipo de cura e paz que só podem vir da solidão."
"É melhor viver o seu próprio destino de forma imperfeita do que viver a imitação da vida de outra pessoa com perfeição."
"O importante e' viver e ser feliz mesmo que isso signifique deixar tudo pra trás e recomeçar,pois na vida e no amor as conquistas são feitas todos os dias."
"O local de descanso da mente é o coração. A única coisa que a mente escuta o dia inteiro são sinos dobrando, barulho e discussão, e tudo que ela quer é tranqüilidade. O único lugar em que a mente vai encontrar paz é dentro do silêncio do coração. É para lá que você tem de ir." Monge para Liz Gilbert
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.
Parafraseio Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma". Não aguentamos ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor: "Se eu fosse você..." Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: "Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas".
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos. Foi trabalhar num programa social com os índios. Contou-me sua experiência. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. Todos à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem.
Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou." E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos, passei uma semana num mosteiro na Suíça. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda.
Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz aonde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminada por
algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em "U" definiam um espaço vazio onde quem quisesse podia sentar numa almofada. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei.
Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá
para se alimentar de silêncio. E comecei a me alimentar de silêncio também...
Fonte: http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/160/artigo234825-1.asp Acesso em 15/05/2016.
“O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. "Você o tratava mal, agora está arrependido?" "Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava".”
De onde vem a sensação de que a nossa felicidade pode ser destruída a qualquer momento?
Por uma razão ou outra, a gente vive com medo. A sensação de que as coisas podem repentinamente dar errado faz parte da nossa essência, eu acho. Alguns a têm mais forte; outros, mais fraca. Mas a ansiedade essencial em relação ao futuro está lá, em todos nós – mesmo quando estamos apaixonados e contentes. Ou, sobretudo, quando apaixonados e contentes.
Lembro de uma amiga me dizendo, anos atrás: “Eu tenho um cara que me ama, estou feliz com o meu trabalho, adoro a minha família. A pergunta que eu me faço, todos os dias, é ‘quando vai dar merda’”? No caso dela, que eu saiba, nunca deu. Mas ela sentia que era apenas questão de tempo. Cedo ou tarde aconteceria.
Você pode rir – como eu ria – desses sentimentos extremados da amiga, mas eles não são piada. Já vi pessoas ficarem com tanto medo do futuro que detonam o presente. É uma espécie de pânico em câmera lenta. O sentimento de desastre iminente é tão forte, a sensação de insegurança é tão grande, que a pessoa conclui (mesmo de maneira inconsciente) que é melhor chutar logo o pau da barraca e sair correndo, em qualquer direção – deixando para trás o relacionamento, o emprego, o futuro e tudo o mais que estava dando certo e por isso mesmo parecia estar sob ameaça. É uma piração, claro, mas gente normal faz essas coisas todos os dias.
Existe uma coisa chamada medo de ser feliz.
Não estou falando daquele clichê sobre as pessoas terem medo de se entregar ao sentimento do amor e por isso não darem bola ao que sentimos por ela. Em geral, essa situação esconde um equívoco: a pessoa em questão não sente nada relevante por nós, mas preferimos acreditar que ela tem “medo de amar”. É uma ficção que protege a nossa auto-estima e rende uma boa história para contar aos amigos. Mas quase nunca é verdade.
Existem, porém, pessoas tocadas por dores tão intensas, por experiências tão sofridas, que não conseguem evitar a sensação de que tudo de mau vai se repetir, de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde. Esse sentimento é ainda mais forte quando tudo vai bem e existe algo importante a ser perdido. Apaixonada e feliz, a pessoa começa a ser perseguida por seus medos. Sonha que vai ser abandonada, imagina que algo de errado vai acontecer com a pessoa que ama, sente, de maneira inexplicável, que aquilo de bom que ela tem está sob ameaça, e que não vai durar.
Esse é o medo causado pela felicidade.
Em alguns, ele está à flor da pele. Em outros, esconde-se sob outros sentimentos e se manifesta de forma subterrânea. Mas, como eu disse no início, acho que ninguém está livre da sensação secreta de desastre. Todos têm traumas. Todos passaram por momentos difíceis na infância, quando não éramos capazes de entender e de nos proteger. Muitos de nós, menos afortunados, sofreram perdas terríveis, precoces, que deixaram uma profunda sensação de desamparo. Essas coisas provocam marcas que se refletem na forma como lidamos com o amor e com a sensação de felicidade. Alguns, de forma leve e otimista. Outros, de maneira pesada e pessimista. É um traço de personalidade, uma consequência da história de cada um. A gente ama como vive, cada um à sua maneira.
Isso não quer dizer que as coisas não mudem e não possam se tornar melhores e mais fáceis.
A gente se acostuma com tudo, até com a sensação de felicidade. No início ela nos apavora e desperta todos os medos e pressentimentos. Depois, a gente vai se habituando. Percebe que o Fulano não vai sumir de uma hora para outra. Que as pessoas no trabalho não nos acham uma fraude. Que a família, os amigos, as relações sociais que construímos são sólidas e não irão desmoronar de uma hora para outra.
Com o tempo, enfim, a gente relaxa e a maldita sensação de precariedade enfraquece. De alguma forma, a gente se acostuma a estar feliz e a se sentir seguro. Amado também, o que é muito, muito importante. Em algum momento, a gente começa a desfrutar da nossa existência e os medos recuam para segundo ou terceiro plano. Então um dia, numa manhã qualquer, diante da cafeteira fumegante, a gente talvez seja capaz de perceber – quem diria – que não está com tanto medo assim de ser feliz. Grande dia esse na história da nossa vida.
Como toda uma cidade ajudou o primeiro menino diagnosticado com autismo a superar obstáculos e ser feliz
Donald Triplett foi 'caso 1' do estudo realizado pelo psiquiatra que estabeleceu o transtorno como condição médica; hoje, aos 82 anos, ele leva uma vida comum em uma pequena cidade dos EUA - e deve isso não só aos pais, mas aos 3 mil habitantes de Forest.
Depois do filme "Rain man", uma grande história sobre autismo que poderia ser retratada nas telas de cinema seria a vida de Donald Grey Triplett. Aos 82 anos e vivendo em uma pequena cidade dos Estado Unidos, ele foi um dos protagonistas dos primórdios deste tipo de transtorno quando ele começou a ser publicamente reconhecido como tal.
O relatório da pesquisa científica que primeiro colocou o autismo no mapa, ao mostrá-lo como algo diagnosticável, lista Donald como o "caso 1" entre 11 crianças que foram estudadas pelo psiquiatra Leo Kanner, cristalizando a ideia de que se estava diante de um novo tipo de condição médica que não estava ainda nos livros, sendo chamada primeiro de "autismo infantil".
Nascido em 1933 em Forest, no Estado do Mississippi, e filho de um advogado e uma professora, ele era uma criança profundamente isolada, que nunca havia correspondido a um sorriso de sua mãe ou reagido à sua voz. Parecia estar sintonizado a uma realidade própria, dotado de uma lógica particular e uma forma caracteristicamente sua de usar seu idioma, o inglês.
Donald podia falar e imitar o som de palavras, mas elas pareciam estar vazias de sentido. Na maioria das vezes, ele apenas ecoava o que alguém havia dito antes. Por um tempo, pronunciava continuamente as palavras "vinho Trumpet" e "crisântemo", assim como a frase: "Eu poderia colocar uma pequena vírgula".
Seus pais tentaram quebrar essa barreira, sem sucesso. Donald não demonstrava interesse nas outras crianças que eles traziam para brincar com o menino, nem olhava para o Papai Noel quando ele trazia uma surpresa para ele. E, ainda assim, eles sabiam que ele estava ouvindo e que era inteligente.
Aos dois anos e meio de idade, durante um Natal, ele cantou sozinho e com afinação perfeita músicas que havia ouvido de sua mãe uma única vez. Sua memória fenomenal permite que ele lembre a ordem das miçangas que seu pai havia colocado aleatoriamente em cordão.
Mas esses dons não impediram que ele fosse colocado em uma instituição, por ordens médicas. Era sempre assim naquela época para crianças que desviavam do que era "normal". As recomendações médicas de rotina incluíam pedidos para que os pais apagassem seu filho ou filha da memória e seguissem com suas vidas.
Em meados de 1937, quando Donald tinha 3 anos, seus pais o mandaram para longe, mas não se esqueceram dele. Visitavam o menino uma vez por mês, provavelmente debatendo ao longo do percurso para casa se deveriam trazê-lo de volta consigo.
Foi o que fizeram no fim de 1938, quando o levaram para se consultar com Kanner na cidade de Baltimore, no Estado de Maryland. O médico ficou frustrado a princípio. Ele não sabia em qual "caixa" psiquiátrica Donald poderia ser colocado, porque nenhuma das existentes parecia adequada.
Mas após várias consultas com o menino e de ver outras crianças se comportarem de forma igual, ele publicou seu estudo pioneiro que estabeleceu os padrões para obter um diagnóstico desta nova condição.
História
A partir de então, a história do autismo se desdobrou ao longo de vários capítulos com o decorrer das décadas, com reviravoltas dramáticas ou bizarras e médicos, educadores, ativistas e os próprios autistas hora sendo taxados como heróis ou como vilões.
No entanto, Donald não se envolveu em nada disso. Depois de Baltimore, ele havia voltado para casa, onde passou discretamente o resto de seus dias.
Fomos atrás dele em 2007 como parte da pesquisa para nosso livro, no qual ele é um dos principais personagens, e ficamos impressionados ao saber como sua vida havia sido.
Ainda vivo hoje e saudável aos 82 anos, ele vive em sua própria casa, onde cresceu, dentro de uma comunidade segura, onde todos os conhecem, rodeado por amigos com quem se encontra regularmente, um Cadillac para percorrer as redondezas e um hobby: o golfe.
Isso quando não está desfrutando de sua outra paixão, viajar. Sozinho, ele já rodou os Estados Unidos e conheceu alguns outros países. Tem um armário repleto de álbuns de fotos de suas aventuras.
Ele é o retrato do aposentado feliz - bem distante da vida em uma instituição à qual ele quase foi sentenciado e na qual ele teria esmorecido sem ter feito nada do que realizou.
O crédito disso deve ser dado em grande parte à sua mãe. Além de levá-lo para casa, ela tentou de forma incansável conectá-lo com o mundo à sua volta, dar a ele uma linguagem para se comunicar e fazer com que ele pudesse cuidar de si próprio.
Algo neste esforço funcionou, porque, quando chegou à adolescência, ele conseguiu frequentar uma escola comum e, depois, ir para a faculdade, onde se formou em Francês e Matemática. O crédito deste resultado é do próprio Donald, por sua inteligência inata e sua capacidade de aprendizado que permitiu realizar todo seu potencial.
'Um de nós'
Mas vimos outra coisa quando fomos a Forest - e é neste ponto que o filme sobre Donald ficaria interessante. A própria cidade teve um papel no excelente destino de Donald. Seus cerca de 3 mil habitantes fizeram uma escolha provavelmente inconsciente sobre como tratariam aquele menino estranho que vivia entre eles. Eles decidiram aceitá-lo, considerá-lo "um de nós" e protegê-lo.
Sabemos disso porque, quando o visitamos pela primeira vez e começamos a perguntar pela cidade sobre Donald, ao menos três pessoas nos disseram que iriam atrás de nós e se vingariam se fizéssemos algo com Donald. Isso nos disse muita coisa sobre sua relação com ele.
Com o tempo, conforme conquistamos a confiança das pessoas, mais detalhes vieram à tona sobre como eles o apoiaram ao longo dos anos. Seu livro de formatura da escola está cheio de recados de colegas dizendo como ele é um grande amigo. Algumas meninas até pareciam gostar dele.
Descobrimos que sua participação na peça da escola foi muito celebrada, que as pessoas não consideravam estranha sua obsessão por números, mas um sinal de que ele era algum tipo de gênio.
Falamos com um homem que Donald conheceu na escola e que, hoje, é um pastor. Ele tentou ensinar Donald a nadar em um rio e, quando falhou, buscou mostrar a ele como falar de forma mais fluída, o que era uma causa quase impossível.
Isso porque Donald ainda tem autismo. O transtorno não foi embora. Mas o poder que isso tinha de limitar sua vida foi aos poucos sendo superado, ainda que ele mantenha algumas obsessões e fale de forma um pouco mecânica e não consiga travar uma conversa que vá além da troca de um punhado de gentilezas. Mesmo com tudo isso, no entanto, ele tem uma personalidade formada, é uma companhia agradável e um bom amigo.
O que a história de Donald sugere é que pais que ouçam pela primeira vez que seu filho é autista devem entender que, com este diagnóstico, o destino nunca está definitivamente traçado. Cada indivíduo tem uma capacidade própria de crescer e aprender, como Donald fez, mesmo que ele leve mais tempo para fazer certas coisas do que a maioria das pessoas.
Por exemplo, ele aprendeu a dirigir quando já estava com quase 30 anos. Mas, agora, a estrada ainda pertence a ele. Literalmente.
*John Donvan e Caren Zucker são autores de "In A Different Key: The Story of Autism" (Em um tom diferente: A História do Autismo, em inglês)
Este
não é mais um texto sobre alguém, nem tampouco abreviações do que é ter alguém
por perto. Você pode pensar que é apenas a descrição de uma vida e até mesmo
sobre a amizade. É mais um agradecimento a alguém especial – é sobre saber que
é amado. É sobre conhecer alguém que é tão grande, mas tão imenso e exuberante
em tudo. E ao mesmo tempo, simples.
Falo
do Sr. T
Acho maravilhoso perceber o quanto algumas
vidas vão de encontro com a nossa de um modo tão mágico e bonito. Num mundo
grandioso com bilhões e bilhões de pessoas – é mesmo um milagre encontrar
pessoas assim, como o Sr. T. Pessoas raras e que fazem grande diferença em
nossa marcha.
A
gente vive numa correria e, que as vezes, no fim do dia até nos perguntamos se
deixamos de sorrir, se fizemos alguém sorrir durante aquele dia. Você talvez
nem perceba, olhos também sorri – almas transbordam! Perceba o olhar, a essência
do outro está ali. Falando em olhar, o Sr. T marca com o olhar... Ele é bem
apertadinho, quase não visível – mas o Sr. T sabe mostrar o olhar a quem
merece, a quem deseja senti-lo, e enxergar sua alma e ver a alma do outro também.
Sem medir esforços, ele olha e te entende e te cativa.
Ana
Jácomo em sua definição de amigo, fala:
“Amigo,
obra-prima que conta o milagre que acontece toda vez que a vida arruma um modo
para aproximar as almas irmãs. Buquê de risos desarmados, olhares que ouvem,
abraços que dizem. Árvore frondosa e a sombra dela, onde podemos descansar um
pouco, ouvir o canto bom de um passarinho e outro, sorrir para a folha que sabe
dançar mesmo quando cai. Lugar de azul macio quando faz sol no coração da gente
e quando as chuvas mais fortes alagam nossos olhos. Canção feita de acordes que
acordam belezas que às vezes demoram à beça para cantar de novo. Uma ideia
feliz do quanto o amor é pura arte.”
Tem
definição mais bela que essa?
Ao
lê-la, vejo o Sr. T
Você
pode ver diferenças de idade entre amigos – e daí? Amigo não escolhe época,
data de nascimento, tempo bom ou ruim. Não encontramos, eles são enviados. São
presentes.
É
abraço inesperado e sincero. Abraços que falam e que não falham quando
precisamos. É acalento e, silêncio; tão cheio de vida que só quem sabe do poder
de um abraço, entende. Porque podemos até visitar o céu ao mesmo instante.
Podemos
até ficar distantes, por obra do destino ou de escolhas – porque a vida exige
de você que voe por outros ares e sonhe e persista!, mas você que tem um amigo
assim, ‘desses que te faz lembrar que o amor é pura arte’, nunca o esquecerá e
tenha certeza, nada mudará entre vocês. Nada.
E
cada vez que o vemos, tentamos absorver um bocadinho da sabedoria, da fé, do
encantamento e do sorriso que leva no rosto.
Sr.
T é exemplo disso. A cada novo encontro, novas oportunidades de conhecer um ao
outro. E na distância, permanece a orar um pelo outro.
Sei
um pouco da vida dele. Ele não é de contar de suas dores. Prefere relatar dias
alegres – dias com sua mãe; dias em que sorria e chorava quando ainda criança
na escola; de época quando adolescente e jovem, ele também já falou.
O
Sr. T sabe que quando ficar triste, cansado e aborrecido, ele pode ir até as
lembranças boas, porque elas têm um jeito de renovar a energia no momento
presente. Ele me ensinou isso! Além de sobretudo, não permitir nunca, mas nunca
perdermos a fé.
O
que mais falar de alguém assim?
Desejo
de verdade, um dia, que todos tenham a oportunidade e a sorte de conhecer gente
assim, como o Sr. T.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Quero apenas cinco coisas... Primeiro é o amor sem fim A segunda é ver o outono A terceira é o grave inverno Em quarto lugar o verão A quinta coisa são teus olhos Não quero dormir sem teus olhos. Não quero ser... sem que me olhes. Abro mão da primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda
Pablo Neruda foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México. Neruda recebeu o Nobel de Literatura em 1971.
Umas das verdades de que a gente nem sente falta, não lembra, não percebe ou até não vive, isto é, não põe em prática. Falo daquela frase, ou versículo bem conhecido de que "somos imagem e semelhança do criador".
Sim, nós somos criatura de um criador!
No último dia da criação, disse Deus: "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança" (Gênesis 1:26).
Eu não estou querendo aqui mostrar o que todos já sabem ou dizer que sou perfeita! Mas eu olho ao redor e sinto que, realmente a humanidade precisa saber disso - de que somos imagem e semelhança do amor, da bondade, humildade, honestidade, perfeição... e outros adjetivos grandiosos por ai, mas que nenhum consegue descrever quão maravilhoso é o nosso Deus.
E possa ser que exista pessoas que não acredite nisso, ou seja, de que há um Criador que olha por nós.
E, eu respeito. Sim porque devemos respeitar. Não estou querendo aqui, uma conversão - mas quão bom seria não é? Para tudo há um tempo. "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu". Leia Eclesiastes 3
Às vezes até falamos disso, "há um tempo para tudo!" Reproduzimos certos conceitos, certas reflexões, mas nem sempre compreendemos, apreendemos isso. O tempo de conversão ainda não está em escassez, então tenhamos fé.
Voltando a humanidade... Se todos os dias, cada um pensasse no propósito do que é viver ou do que realmente importa; do que realmente é necessário ser dito ou quando é a hora de calar-se; se percebêssemos que deveríamos sermos nós mesmos, sem cobiça, inveja, desonestidades, mentiras; e, lembrássemos de que devemos honrar uma imagem maior (aquela semelhança que nos deram, com a qual nos formou como pura imagem e semelhança do Criador, que um dia permitiu que também seu filho se entregasse a morte por amor à todos), poderíamos nos tornar pessoas melhores a cada dia.
Não foi à toa que Ele pediu que amássemos uns aos outros - que amássemos como amamos a nós mesmos... E amar, requer respeito ao outro, seja ele quem for! Seja o pobre, o rico também; o mendigo e o usuário das mais pesadas drogas; o negro, pardo, amarelo, branco, índio; as lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros; o convertido e o não convertido; as religiões opostas da sua, ou que segue a Cristo, a cristã ou não; católica, protestante, espirita, judaica, muçulmana, budista, hinduísmo, islamismo, e tantas outras. Isso se chama tolerância, e desta arte o mundo é sedento.
É como uma prece que nunca deve ser calada. É como um ato que nunca deve ser terminado. É como uma oração diária, feita 24 horas e todos os minutos e segundos de que temos a nossa disposição. É como algo que a gente pensasse, lembrasse e refletisse de que tudo que fazemos volta a nós. Amor - do verbo amar. Então se Eu amo. Tu amas. Ele/Ela ama. Nos amamos. Vós amais. Eles amam.
Sai, o dia ta lindo lá fora Vai, a grama espera cambalhotas O mundo foi feito pra você
Sinta o cheiro da verdade nas flores Surfe na alegria das cores Deixe a liberdade te levar pro mundo real
A natureza te espera, a natureza se revela Aos desvendadores da vida motivados pela fé A natureza te grita enquanto a sua se agita Recusando se vestir com as roupas feitas pra você
Lara Lara Lara Lara
Entre nessa passagem secreta Onde o diferente te desperta Sem limites para impedir de ir além Entre nessa passagem secreta Onde o diferente te desperta Sem limites para impedir de ir além
A natureza te espera, a natureza se revela Aos desvendadores da vida motivados pela fé A natureza te grita enquanto a sua se agita Recusando se vestir com as roupas feitas pra você
A gaiola tá aberta passarinho Você tem asas novas, já tem Vai fazer seu ninho, voar voar voar
A natureza te espera, a natureza se revela Aos desvendadores da vida motivados pela fé A natureza te grita enquanto a sua se agita Recusando se vestir com as roupas feitas pra você
Lara Lara Lara Lara
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Às vezes, sou um caos, um amontoado de conclusões precipitadas e
sentimentos descontrolados.
Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.
Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.