- As nuvens negras cobrem por certo tempo. Mas elas passam rapidinho. E logo o céu volta ao seu estado normal, mostrando então sua beleza. Assim são os desafios, obstáculos e tempestades em nossas vidas. A conquista e a vitória virão – acredite!
sábado, 15 de dezembro de 2018
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
quarta-feira, 12 de dezembro de 2018
Caminho
Ela viu passar o tempo bem próximo a ela – encontrou a força precisa para seguir.
Viram o caminho que você pintou, seguiu, enfim seus desejos!
Soubemos de suas conquistas e torcíamos por você. Toda gratidão foi demonstrada quando tudo se realizou. Sabe aquele medo? Ela já não sente mais. É dona de si e de do seu proprio caminhar. Vê a sua frente tudo que fez e fará por si – por ela mesma.
Compreendo o quão é difícil para muitos, seguir sem rumo, sem expectativas. Mas é preciso acreditar, sobretudo sonhar.
Ouviu falar certa vez sobre “quebrar a cara” com pessoas, sobre confiar em pessoas e no que elas representam – soube de certa forma quem é de verdade e manteve-se então naquela rota.
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
O que a história nunca viu
Este
texto foi redigido, lido e relido várias e várias vezes. Foi uma busca
frenética para melhorá-lo ou tentar dizê-lo doutra forma, simples e objetivo, de modo com que
chegue melhor ao leitor. Não quero que chegue a todos – não sei se estou pronta
a críticas dos donos da razão, todavia, cegos de toda razoabilidade humana.
Ponho quatro questões iniciais, com elas não espero respostas, mas reflexão. Que elas não sejam também, refletidas sob o ângulo de fake news.
1.
Você avaliou
e/ou analisou criticamente os planos de governo dos candidatos à presidência?
2.
Consegue encaixá-los
num plano que envolva a igualdade, equidade e dignidade de todos em nossa
nação?
3.
Quais as
consequências se candidato A ou B vencerem as eleições?
4.
Que tipo de
mudança gostaria de vivenciar no Brasil?
Começo
respondendo a 4ª: eu quero que a gente saia do mapa da fome de novo. Quero que
as pessoas não tenham seus direitos negados, quero que a economia se
estabilize... Também quero que a corrupção acabe, óbvio, mas gostaria que me
explicassem melhor como se acaba com ela. Mas o que é mais importante em nosso
país? Os direitos humanos, a desigualdade social, acabar com a fome... Tudo
isso é mais importante.
A
violência tem aumentado, a insegurança é algo medonho que nos acompanha do acordar
ao chegar em casa novamente, depois de um dia lá fora. O mapa da violência é,
sobretudo, ainda maior sobre as minorias, as mulheres, os negros, infuos, quilombolas e grupos LGBT.
Da
educação nem se fala – as notas do Inep são ainda baixas. Contudo, não se pode
negar as melhorias e avanços. A inclusão através de políticas afirmativas que
oferece oportunidades de milhares de jovens adentrarem na educação técnica/profissionalizante
e superior.
Quando
você começa a analisar as várias mudanças ocorridas com os últimos governos e
percebe, em outros projetos de candidatos eletivos desenhando um verdadeiro
retrocesso para políticas públicas, da conquista de direitos, e da propagação da
violência e discriminação às minorias é como você enxergar o país indo ao caos
de vez.
Analise
comigo: um governante que prega homofobia, misoginia, defende a ditadura, um
parlamentar inoperante (estando deputado que teve apenas uma proposta aprovada
no Congresso Nacional), que vai contra aos direitos humanos, que é racista
(veja, um país como o Brasil que luta diariamente pelo fim da discriminação racial,
ter um governante racista é a gota!), é a favor da tortura, declaradamente, e
sim, ele também não vai cuidar da Amazônia, pretende explorá-la e entregá-la
para exploração – assim, sem respeito algum aos povos indígenas, pois é! Isso mesmo.
Não
vejo boas razões de votar no candidato, que segundo as pesquisas, está já com
sua faixa sobre o peito. E digo mais, você que tem dúvida... analise bem as
razões de votar nestes dois candidatos. Repito: são as consequências disso e
daquilo. Não estou dizendo que apague o que o Partido dos Trabalhadores fez ao
país. Estou pedindo que considere os avanços, as melhorias feitas por pessoas
que estavam a frente. Os milhões de famílias que puderam adquirir um lar, o
acesso à educação. A inclusão e igualdade visível aqui e acolá.
Peço
também que coloque no outro lado da balança o que o Bolsonaro representa: ele não
sabe falar de seus projetos, tem como sombra um economista que pretende colocar
o país ao que se vivia antes da Constituição. Ele é sinônimo de privatização.
Ele é sinônimo de retrocesso aos direitos trabalhistas, a educação, aos
direitos humanos, aos direitos de minorias, à Constituição e tantas coisas.
Sem
mais.
Pense
bem. Você pode evitar isto. Você que pretende anular o voto ou votar em branco.
Você pode evitar levar o Brasil assim... pode olhar para o outro, invés de olhar para si. A questão é representatividade, é resistência. Você pode evitar levar o Brasil assim... nessa dança de vampiros.
Pense
bem.
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quarta-feira, 15 de agosto de 2018
A sociedade literária e a torta de casca de batata - Resenha
Por
indicação, não por falta de opções - coisa que adoro é ver filmes por indicação,
sinto-me agraciada quando me indicam um filme, principalmente se forem pessoas
amantes da arte. A sociedade literária e a torta de casca de batata é o nome do
filme, baseado na obra da autora Mary Ann Shaffer. O filme foi lançado em 10 de
agosto deste ano, pela Netflix com direção de Mike Newell.
Se você não assistiu ao filme, é livre em não querer ler a
resenha.
Sou
suspeita em falar de filmes de romance, mas quero deixar claro, que tem um
tempo que parei de romantizar os filmes, aliás, procuro me manter distante dos
romances, por hora quero viver o meu próprio ou escrever sobre o gênero.
O
fato é que este não é só um filme de romance, ele é sobretudo mais uma obra
fantástica que retrata a História. Depois do Diário de Anne Frank, A vida é
bela, O menino de pijama listrado, A menina que roubava livros, dentre outros, (estes
são os meus prediletos) trazem, pois, a Segunda Guerra Mundial, ou melhor a
trágica vida dos que viveram momentos de terror, violência enfim, a guerra como
ela é.
A
trama começa mostrando o cotidiano da escritora e jornalista Juliet Ashton em Londres 1946,
claro, com a sensibilidade de escritora, chama atenção para reflexão sobre a
guerra, ou “o fim” desta. Uma de suas primeiras falas: “quase acredito que a guerra acabou mesmo...” comenta com o seu
editor e amigo Sidney ao passar por uma rua de Londres e observando a paisagem
urbana.
Juliet
parece sem ânimo para a escrita e também de ofício, a época ela dava palestras
e falava sobre suas obras, além disso escrevia artigos para o The Times. Mas,
não era o bastante. Queria mais! Queria escrever algo maior, queria inspiração.
O filme não retrata muito de sua vida e passado, entretanto em uma cena que
deveria ser a que estivesse mais feliz e encantada com o que conquistara (ao
visitar com seu amigo Sidney um imóvel), recorda-se de um fato que marcara sua
vida: quando perdera seus familiares. Lembra-se de como acabou sozinha. Juliet
apesar de escritora conhecida e jornalista renomada em sua época, vivia uma
vida simples. Numa pensão - para ela bastava-lhe seu quarto e sua máquina de
escrever. Mantinha uma relacionamento pomposo, com o general Mark, que lhe
oferecia segurança, conforto, festas , luxo!
Juliet
não havia encontrado seu eu, sua felicidade, suas esperanças até então. Apesar
de estar rodeada de pessoas queridas a quem lhe tinham devoção e afeto.
Sentia-se a incompletude de não puder fazer nada por aqueles que ainda sofriam
as consequências do pós guerra.
De
repente, numa noite exaustiva após chegar de uma festa com Mark, teve a alegre
surpresa de receber uma carta. Tratava-se de Dawsey Adams que por correspondência,
e sem saber de quem se tratava, mandou-lhe uma carta falando sobre livros. Na verdade,
a carta vinha da ilha de Guernsey, território inglês ocupado pelos nazistas por
cinco anos. Dawsey buscava por um livro de Shakespeare. Contou-lhe que viu seu
nome e endereço em um livro que lera junto aos amigos da Sociedade literária e
a torta de casca de batata quando enquanto a ocupação alemã estavam em seu
território.
Juliete
ficou confusa sobre muitas coisas, mas resolveu responder a carta e também,
fazer alguns questionamentos, em troca, ela iria atrás do pedido de Dawsey. O
que era a Sociedade literária e a torta de casca de batata? E por que deste
nome? Por que havia um porco nesta história toda? Enfim... Comprou o livro e
enviou junto a carta para Dawsey.
O
filme aborda o laço, a união forte entre pessoas - pessoas que se unem e reúnem-se
por um propósito: ser companhia. Não foi por acaso que a Sociedade (o grupo de
leitura) surgiu. Durante o tempo em que viviam o terror da invasão, estes
sujeitos, livraram-se dos pensamentos sobre as dificuldades a que enfrentavam.
Aproximaram-se por estarem submetidos a uma situação a que não queria, estarem
sendo encurralados por alemães que se colocavam como superiores num território que
a eles não pertenciam.
Tudo
começou com Elizabeth. Sobrinha de uma das protagonistas, a Amelia. Uma senhora
que havia perdido a filha pelo bombardeio. Elizabeth reunira alguns amigos e
amigos dos amigos. Juntos, escondidos dos alemães, levaram o que tinham de
melhor para o jantar na casa de Amelia. Licor, o porco de Dawsey o qual os
alemães haviam roubado. Naquele período, eles plantavam batatas, que se tornara
o único alimento de todos. E, claro, no jantar tinha a especialidade do Sr.
Ebbe - a torta de casca de batatas. No final, na volta para casa, foram pegos
pelos nazistas. Foi ai que surge a titulação do grupo. Elizabeth a fim de
evitar o pior, diz aos militares que eles faziam parte de um grupo de leitura.
Foi quando começaram a ler para os generais e fazerem seu oficio: se reunir
todos os dias, para ler.
Os
membros da sociedade conseguem nos apresentar como a leitura pode ser saudável
para as questões de nossas vidas, como a literatura tem a capacidade de mudar
nossas vidas, nosso eu, no psique.
A
fotografia, a trilha sonora, todo o filme é carregado de originalidade a época e
aos momentos vividos.
Nesse
contexto, Juliet passou a se corresponder com Dawsey e faz a proposta de ir a
ilha conhecer o grupo e a história deles. Agora ela tinha um tema pra seu novo livro.
Fato que ela só descobriria depois - a viagem proporciona à escritora mais do
que material para seu livro. Fazer amizades sinceras, ser ela mesma em um novo
lugar, e encontrar o amor – em suas diversas formas. O que ela encontra por lá
e as relações, mudam sua vida por completo.
O
romance entre Juliet e Mark fica mais sério quando, ao embarcar ele a pede em
casamento. Chegando na Ilha de Guernsey, dá de cara com Dawsey, mas sem saberem
quem eram. Ele estava trabalhando quando ela chega e pergunta por um hotel.
Dawsey não pôde ajuda-la e, então ela seguiu caminho. Conheceu o Sr Ebbe, e seu
neto Elli, nos correios quando foi em busca de ajuda para hospedagem. O Sr Ebbe
fica encantado com a beleza de Juliet e ali ela reconheceu como membro da
Sociedade quando se apresentaram.
A
noite, Juliet teria o encontro com o grupo de leitura na casa de Amelia. Lá
para surpresa dela, conheceu Dawsey oficialmente e o restante dos membros. Juliet
questiona pela fundadora Elizabeth, mas ficou sem respostas e com mais dúvidas.
É
interessante como a trama se dá. Uma pesquisadora, que fora com intenções, mas
que se toma cada vez mais como parte daquele povo, daquelas pessoas. E passa a
querer ajuda-los e conhecer mais e mais suas histórias. Juliet não mais estava
a trabalho, mas fazia parte daquelas pessoas, de suas histórias, medos e
traumas.
Alguns
membros do grupo sentia receio pela vinda de Juliet, como Amelia. Tinham medo
da aproximação com outras pessoas, por causa do gorveno e diziam que a guerra para
eles ainda não havia acabado. Tinha esperanças que Elizabeth voltasse para
casa. Juliet descobriu que Elizabeth havia sido levada com os alemães. Foi em
uma noite quando tentou ajudar uma criança faminta. Mataram a criança e levaram
Elizabeth. Desde então nunca tiveram notícias dela. Dawsey contava isso a
Juliet quando ela mesma questionou sobre quem era o pai de Kit. A criança
morava com Dawsey e ela a chamava de pai. Ela era filha de Elizabeth com um
soldado alemão, por quem a corajosa Elizabeth se apaixonara. Amelia era contra
o relacionamento. Mas kit acaba ficando com Dawsey porque na noite em que sua
mãe foi pega, ela o deixou com ele, para que cuidasse dela. Foi então que ele
passou a cuidar da criança, com a ajuda de Amelia.
Juliete,
passa a ter dúvidas sobre sua vida e planos. Se apaixonara pelo simplicidade,
bondade, coragem, beleza e mistério de Dawsey, pela pessoa que era por dentro e
por fora. Até então, não conheciam a vida daquela escritora, seus planos, sua
história. Juliet preferiu esconder ou omitir seu anel de noivado. Para ela, era
muito luxo a ser mostrado aquele povo simples. Além de atrair olhares de “fofoqueiros”
como o da anfitriã da casa em que estava hospedada. A sra que lhe falara um
pouco daquele grupo de leitores, levantando falso e mentiras sobre a vida de
Elizabeth. Numa noite, Juliet a pegou lendo seus textos... invadiu a
privacidade de Juliet e vira do que ela estava escrevendo sobre os membros da Sociedade.
O
filme é um drama histórico, entretanto está longe de debelar cenas enfadonhas e
com apreensões complexas, o oposto disso, o filme todo é rico em estudos e o
cuidado em mostrar a história sem amarras, o romance e sensibilidade de um bom filme
é encantador!
As
cenas de humor muito leve e em originalidade respeitoso, mostrados através dos membros
da Sociedade, e a maneira como o passado é apresentado por cenas de flahsbacks de
como era a vida dos protagonistas e personagens secundários durante a Segunda
Guerra Mundial, o que nos leva ainda mais a conhecer a história de cada
personagem ali presente.
O
curta-metragem é em tudo uma surpresa daquelas agradáveis. Veja, de repentino
Mark chega a ilha e apenas sobre o olhar dele e sobre suas atitudes, Juliet desconstrói
e confirma tudo sobre sua vida e seus desejos, sobre o que realmente sentia por
Mark; pois ela descobre que sua ida a ilha leva-a a ser melhor, uma pessoa
melhor.
Mark
questiona sobre seu noivado, pois vê que ela não estava com o anel em seu dedo.
Questiona sobre suas atitudes. Mark fora com a intenção de levar os resultados
da busca por Elizabeth - Juliet havia lhe pedido para pesquisar (a partir de
seus privilégios) o paradeiro da jovem. As notícias não foram boas. Juliete
reuniu seus amigos e contara que Elizabeth havia sido localizada em um campo de
concentração na Alemanha. Ela morreu na tentativa de salvar uma garota que
estava sendo espancada. Elizabeth pegou o cassetete e bateu no guarda. A garota
foi poupada mais mataram a Elizabeth. Todos ali ficaram devastados. Havia
esperanças por todos de que um dia ela voltaria.
Juliet
não teve escolhas e teve que voltar com seu noivo Mark para Londres, naquele
mesmo dia. Tinha o trabalho que a esperava, Sidney seu editor lhe aguardava
para retomar sua rotina.
E
não tinha nada que a mantivesse ali, aliás, ela só descobriria depois, quando
não tivesse mais os olhares daqueles que se tornaram seus amigos. E assim fez.
Voltou a Londres sob a despedida calorosa e dolorosa daqueles a quem ela
aprendeu a amar.
Em
Londres ficou sem rumo e sem expectativas de como seriam seus próximos dias -
ela havia prometido aos seus amigos da Sociedade que não escreveria sobre a
história deles. Ela estava devastada com as notícias, com a monotonia de sua
volta. Sentia que só melhoraria se escrevesse, se ao menos estivesse conectada
novamente àquelas pessoas, a Kit, a Amelia, a Dawsey, ao Ebbe, ao Elli, e a Isola.
Só se sentiria melhor se escrevesse o que viu, o que viveu - o que descobrira,
seu eu.
Começou
a reorganizar-se, pôs fim ao relacionamento com Mark; começou a escrever. Não
seria um livro para publicação - todavia deu de presente a Sidney seu editor e
amigo. Outra cópia enviou a Sociedade Literária.
Os
membros se reuniram e leram a carta que havia junto ao livro, o qual ela
intitulou como Guernsey: A Sociedade Literária
e Torta de Casca de Batata. Na carta ela pedia perdão por ter escrito o
livro, mas deixa claro que não irá publicar e que agora pertence a eles. “Vocês acham possível pertencermos a alguém antes
mesmo de tê-lo conhecidos”, “Se for possível eu pertenço a vocês e vocês a mim,
ou simplesmente ao espirito que encontrei entre vocês em Guersey - essa é a
melhor definição de família que conheci”.
Enaltece a personagem Elizabeth e o quanto a vida dela mudou o curso da sua
própria vida: “mesmo sem tê-la conhecido
pessoalmente, a vida dela mudou a minha para sempre, de maneiras que estou
apenas começando a descobrir”.
Neste
instante, sem mesmo dizer nada, Dawsey percebe do que Juliet falava. Juliet
deixou uma mensagem para cada membro, especialmente a Dawsey - que naquele
mesmo dia, resolve ir a Londres a procura de Juliet. Preparem-se para mais uma
surpresa que o filme traz, Juliet estava no porto a ponto de embarcar, quando
Dawsey chega a Londres. Ela desce do navio e vai ao encontro dele.
E
foi assim, no olhar dos dois... inicialmente com um Oi, tímidos e subitamente começam a falar sem freios. Juliet o pede
em casamento no momento em que ele sem receio começa a proferir suas intenções,
antes dele falar o mesmo. Surpreso e sem palavras, ele escuta ela dizer que
está apaixonada por ele! Ele diz sim!
Disse sim àquela que também mudara sua vida e perspectiva de vida.
E
a última cena, não poderia ser melhor: Juliete no jardim de sua casa, olha
Dawsey ler aquele mesmo livro que ela enviara quando, por correspondência ele
havia lhe pedido informações sobre a biografia. Shekespeare, - Sonho de uma
Noite de Verão. “[...] olhou para ele,
intrigada com sua estranha inconstância. Lisandro, ao abrir os olhos e ver sua
queria Hérmia, recobrou a razão que o feitiço havia nublado. E com a razão, seu
amor por Hérmia. E passaram a falar sobre as aventuras da noite, sem saber se
aquilo tinha mesmo acontecido ou se haviam sonhado o mesmo sonho confuso”.
Juliet
realizada com Dawsey e Kt em seu novo lar e sua felicidade era transparente não
eram um sonho.
Ansiosa
por ler o livro.
terça-feira, 7 de agosto de 2018
Viena
Visitara
Viena por curiosidade, porque de algum modo o que lhe falaram daquela cidade a
encantou – no fundo tinha um pouco dela em Viena e de Viena existia muito mais nela.
Sempre
gostou de filmes europeus, parece que a vanguarda e todas as suas
características, são definidas nos filmes europeus. Não é só a luz, a
fotografia que encanta! Mas é toda a trama e como tudo é abordado... de maneira
que um conto do cotidiano se transforma em cenas cinematográficas sem trabalho
algum! Era disso que Anne falava e, não é à toa que é considerado por muitos,
como o lugar onde se faz o melhor cinema do mundo.
Mas,
voltando a sua excursão – quando ela disse para onde iria, ninguém acreditou...
na verdade não deram crédito algum. Apenas a uma pessoa importava e ela,
estaria lá esperando naquele café o Café Sperl da rua Gumpendorferstrasse 11. Anne
pegaria o metrô, e desceria na estação bem próxima, Museumsquartier (linha 2) –
cerca de 450 metros de distância do Café Sperl. Anne chegaria as 08h. E ele
estaria lá... Ele estava lá.
Como quem
quer fazer surpresa, ou só por gostar de servir – ele pediu café: A opção foi
“café da manhã” que acompanhava pães, manteiga, geleia, café e leite. Falou no
ouvido de Anne que tinha pressa. Queria logo leva-la em todos os lugares que
sonhou estar com ela ali e beijá-la em casa beco, e dentro dos Museus, e nos
parques, e no meio de todos enquanto andavam pelas ruas daquela cidade
encantadora!
E disse
ela: eu tinha pressa de você. Desse
momento, do agora, mas deixe-me tomar o café, estou exausta – E então
sorriu.
Falou
onde estava hospedado no Wombats City Hostel Vienna – at the Naschmarkt. Falaram-lhe que era simplesmente um dos melhores
hostels da Europa. Com ótima localização, ótimo atendimento, quartos limpos e
amplos, bom banheiro, tem café da manhã pago a parte e um bar muito animado. Na
região há vários restaurantes, mas foi apenas um fato que a animou ficar ali, é
que o mercado de Viena fica bem na frente. Anne contou-lhe o fascínio que tinha
por mercados, ela dizia que sentia-se naqueles espaços. “É um lugar onde vejo todos, e suas expressões, e as melhores piadas!
Os gritos, e berros de pessoas oferecendo isso e aquilo!”
De súbito, um beijo!
Anne foi surpreendida... Afonso a beijou no café.
Terminaram e saíram do Café
Sperl e foram caminhando – como bom professor de História, Afonso começou a
falar dos prédios, e da história que guardava aquela cidade.
Anne
ficava encantada, não só o ouvia mas em tudo perguntava o porquê o que
implicava discussões sobre quaisquer assunto.
“Viena é dividida em 23 distritos, sendo que a
maioria das atrações estão nos distrito de Inner City e Leopoldstadt, 1º e 2º
distritos.” Disse com empolgação para Anne...
– Caminhar pelas ruas de Inner City, por si
só, é muito interessante. Esse distrito é um verdadeiro museu a céu aberto,
então vamos caminhar com calma e observar cada detalhe da arquitetura dos
prédios, das praças e monumentos.
Anne a
cada passo que dava sentia uma enorme vontade de pegar-lhe em sua mão, segurar
mesmo, não como quem não quer se perder, mas como alguém que se sente feliz por
estar onde está e por estar com quem está. Então, pegou em sua mão. E
caminharam.
Depois
tomaram o ônibus, 1A... compraram um passe de um dia do transporte público da
cidade e estavam dispostos a realizar quantas viagens quisesse a fim de
conhecer o máximo da cidade. A primeira parada foi o Palácio Imperial de
Hofburg.
Depois foram a região da rua Kärntner Strasse onde concentra
um grande número de prédios históricos, igrejas, lojas, restaurantes... etc.
Andaram mais um pouco pelo centro de Viena... Ele lhe falava da beleza da
arquitetura e tudo que sabia dali. Foram a Stephasndom, a Catedral de Viena,
uma das principais atrações da cidade. Falava para Anne que a Igreja foi
construída em 1160, é considerada uma das catedrais góticas mais antigas da
Europa.
Anne já cansada sugeriu que era hora de almoçar. Pararam em
um restaurante, o Restaurant Lebenbauer. Era um lugar a céu aberto, tinha
muitas plantas, as mesas eram simples de madeira rústica com toalhas brancas,
Anne se sentia bem. E enquanto olhavam o cardápio, ela perguntou-lhe:
- o que faremos depois,
querido?
- Vou leva-la a um lugar...
- Como sempre, você cheio de
suspenses... (riu)
Chegou o garçom e perguntou o que eles queriam... Anne
treinara muito o alemão e conseguiu falar.
- Bitte, “Pasta mit Lachs” – Pediu Anne ao garçom.
- Und der Herr?
Perguntou o garçom a Afonso.
- Das Gleiche. Bitte.
Afonso havia pedido o mesmo para ele.
Fala de você, Anne... Não me
disse se decidiu terminar o livro. Afonso questionou curioso.
Ainda está escrevendo? Afonso insistia, porque sabia que Anne estava
confusa sobre muitas coisas.
- Sim, Afonso! O livro já está
com a editora. Faltam apenas alguns retoques com questões de capa,
dedicatórias, essas coisas.
Enquanto almoçavam, Afonso não parava de dizer o quanto
estava feliz daquela visita e que enfim ele estava em Viena com Anne. Ele
falava das coisas que planejou, da vida em Viena e de como estava a pesquisa
com o doutorado na Universidade de Viena (University of Vienna).
Afonso parecia confuso para Anne. Ao mesmo tempo em que
estava feliz, algo o deixava preocupado.
Anne não quis entrar na privacidade dele. Sempre que o via no
Brasil tentou por diversas vezes saber mais e conhecer sua vida, seus sonhos,
projetos, seus medos. Sempre o via distante e neutro.
Anne sempre fora de se entregar – via confiança nas pessoas.
Por vezes se machucara. Algumas vezes prometeu distancia, mas não conseguia.
Ela se sentia bem nesse mistério. Anne reconhecia nela a paixão por sentir-se
querida e amada. Queria encontrar isto em si mesma para que não houvesse essa
necessidade tremenda de desejar encontrar-se no outro. Anne era de personalidade
transparente e a mesmo tempo misteriosa. Ela saberia disso, mais tarde.
- Vamos para o meu hotel?
Disse Afonso. E continuou: Depois te levo em um lugar que conheci aqui,
você vai adorar!
Afonso estava instalado no Ober St. veit. Pegaram um táxi, parecia
mais rápido e estava muito frio, era dezembro.
Deixaram o casaco na porta de entrada. Anne tirou também sua
touca e luvas. Anne ligou o aquecedor, ele havia esquecido de liga-lo antes de
sair.
Ficaram então ali, no sofá. Juntos. Abraçados.
O apartamento era branco, não haviam muitas cores. Móveis
brancos, paredes de vidro com molduras de madeira (Anne era fascinada por
construções assim), na sala um sofá pequeno, uma mesinha com quatro cadeiras e
um arranjo com uma flor, um relógio grande em algarismos romanos na parede, uma
estante de livros, uma escrivaninha; logo ali era também a cozinha. Era tudo
muito lindo e arrumadinho.
Anne estava sem reação, e o beijou. Ela dizia que era a única
solução para aquele frio.
Afonso ria da situação e disse: “esse é o meu melhor momento, o que me senti mais alegre aqui em
Viena”. Viena não é a mesma sem você, Anne”.
Anne o levou para o quarto. Lá havia uma cama e dois abajus,
as paredes eram brancas. Anne fechou a cortina da parede externa que eram de
vidros. E ali ficaram.
Afonso a colocou na cama... tirou-lhe delicadamente suas
botas, seu jeans e blusa. Anne se sentia inteiramente dele, quando ele a
tocava. Anne o olhou com delicadeza e o mesmo fez – tirou-lhe sua calça, sua
camisa - botão a botão enquanto ele passava as mãos em seu cabelo e acariciava
seu rosto. Anne o tocava como quem toca num piano, doce e sem pressa.
De repente beijaram-se novamente. Demoradamente e lascivo.
Afonso a estimulava com suas mãos quentes e beijava o corpo de Anne...
Ali estavam e permaneceram por algumas horas, aquecidos, ou
melhor, sobrepostamente aquecidos – perfeitamente aquecidos.
Foram para o banheiro. Havia uma banheira mais que
convidativa – Anne enchera e ficaram os dois abraçados e fizeram amor ali, uma
vez mais, em pé, no banheiro de frente ao espelho.
Anne preparou café e rosquinhas. Havia cereais e frutas, pão
e geleia.
Choveu um pouco naquela noite. Não saíram mais.
- “Espero que não chova
amanhã” disse Afonso.
- “O que está preparando para
nós?” Anne desconfiada
perguntou.
- Você vai ver, doce Anne. Falava Afonso enquanto a olhava enrolada ao
lençol, tentando fazer um coque alto no cabelo.
Dormiram como dois amantes. Agarradas ao que mais lhe
prendiam: a presença um do outro.
Era quase 09h. Anne acordou e de modo repentino se viu
sozinha, na cama. Saiu do quarto em direção a cozinha, e, lá estava ele
preparando o café. Anne riu e se viu no reflexo da parede de vidro.
- Nossa, você fica
ainda mais linda quando acorda! Afonso solta seu bom dia.
- Ah, para Afonso!
Estou toda assanhada! (ela ria sem vergonha e sem pudor.)
Ele foi ao encontro dela e a beijou. Disse: “estou tentando mostrar um pouco mais de
meus dotes. Não sei se acertei no café
(ele ria), mas tentei, linda Anne”.
No fundo, uma música... era Bob Dylan.
Pegaram o ônibus e foram ao Volksgarten, um parque em estilo
francês construído entre 1820-1823. Era um dos lugares mais agradáveis de se
conhecer em Viena! Um lugar lindo, cheiro de árvores e várias espécies de
flores! Era este o lado da cidade que Afonso queria mostrar a Anne.
Ficaram por ali umas horas e conversaram sobre várias coisas.
Anne enfim perguntou porque Afonso estava estranho. Ela disse:
- Sinto-o feliz Afonso. Mas ao
mesmo tempo você está distante. O que te passa? Vim aqui por você Afonso. Anne desabafa e começa a chorar, desconfiando
de que já saberia a resposta. Anne desde o início daquela viajem, sabia. Ela
sentiu ao vê-lo. Aquilo era apenas mais uma viajem? Uma aventura a mais para
Afonso?
- Querida Anne, não voltarei para o Brasil. Ficarei aqui.
Recebi uma proposta e essa é uma decisão já tomada.
Ficaram no silêncio. Aquele que rasga por dentro com todas as
lembranças... com todos os planos traçados que agora, desfalecem-se
automaticamente sem pedido de permissão. Anne via naquilo uma oportunidade de
dizer o que sentia. O que realmente sentia. Mas não disse – seria um desgaste,
mais um desgaste e seria também por demais arriscado. Anne sempre foi
sentimental demais, para ela a vida deveria sempre ter cores reservas. Todavia
Anne era forte e suportou e viveu aquele instante de angustia pois sabia que
seria a última vez a ver e estar com o seu Afonso.
E então, o que menos ele esperava que acontecesse... Ela o
abraçou. Porque era a única
forma de demonstrar o carinho que ela sentia, e naquele momento ele percebeu
que era sim, o abraço uma ação fundamental para o seu coração viver pleno. E
começou a pensar: amanhã não terei este
abraço. E a abraçou mais forte ainda, como daquela vez que se viram
novamente após três anos naquele campo de frente ao mar, ali fora do carro,
olhando nos olhos e sem nada dizer, dizendo o quanto aquilo estava sendo bom.
E foi ali que perceberam que sempre poderiam ter um ao outro.
E viram que nada, absolutamente nada no mundo supera a força dessa troca mágica
de suas energias quando seus corações se encontram e se encaixam no mesmo
compasso, ali naquele abraço, naquele aperto que, ao invés de sufocar, acalmava,
afagava. E seus mundos mudaram, após aquele abraço. Porque o mundo muda quando
você abraça.
Anne partiu. E de Viena trouxe um pouco – a saudade dos
lugares, da cultura que esbanja cada cantinho daquele lugar; das tortas doces e
do café especial daquela cidade e, sobretudo, a lembrança de Afonso.
quinta-feira, 19 de julho de 2018
O PARAÍSO SÃO OS OUTROS, de Valter Hugo Mãe
Hoje conheci um autor interessante, ou melhor, vi um título de um Livro dele e fui escacaviando outras obras e textos avulsos. Compartilho com vocês, um destes textos:
O PARAÍSO SÃO OS OUTROS, de Valter Hugo Mãe
Reparei desde pequena que os adultos vivem muito em casais, mesmo
que nem sempre sejam óbvios porque algumas pessoas têm par mas andam avulsas
como as solteiras, há casais de mulher com homem, há de homem com homem e
outros de mulher com mulher. Há também casais de pássaros, coelhos, elefantes,
besouros, pinguins – que são absurdamente fiéis –, quero dizer: há casais de
pinguins e até golfinhos que podem ser casais. Tudo por causa de amor. O amor
constrói. Gostarmos de alguém, mesmo quando estamos parados durante o tempo de
dormir, é como fazer prédios ou cozinhar para mesas de mil lugares. Mas amar é
um trabalho bom. A minha mãe diz. Vivo num lugar quente, aqui tem muitos
mosquitos e encontramos borboletas nas flores. No verão, abrimos as janelas
cobertas com redes. Ficamos a ver tudo coado por esta brancura. Também há gatos
soltos e outros dentro das casas. Os gatos soltos são os nossos. Nós não temos
outros. Eles entram no quintal e levam os restos. Andam em beiras estreitas.
Todos os gumes são estradas para eles. Sabem não cair e, quando caem, sabem
cair. Alguns casais de bicho também são de pinguim homem com pinguim homem ou
golfinho mulher com golfinho mulher. Mas eu nunca vi e não tenho provas. Nunca
sequer vi um pinguim ou um golfinho e fico triste por isso. Os gatos são casais
misturados. Eu acho. Não são fiéis. Os cachorros também não. São fiéis aos
donos mas, entre si, não namoram com muito cuidado. A minha mãe explicou que o
amor também é namorar com cuidado. Eu adoraria ver jacarés, ursos brancos ou
cobras de dez metros. Uma vizinha da nossa rua tem uma vaidosa galinha
d'Angola. Eu gosto de animais e mais ainda dos esquisitos e invulgares, até dos
que parecem feios por serem indispostos. Os bichos só são feios se não
entendermos seus padrões de beleza. Um pouco como as pessoas. Ser feio é
complexo e pode ser apenas um problema de quem observa. Eu uso óculos desde os
cinco anos de idade. Estou sempre por detrás de uma janela de vidro. Não faz
mal, é porque eu inteira sou a minha casa. Sou como o caracol, mas muito mais
alta e veloz. A minha mãe também acha assim, que o corpo é casa. Habitamos com
maior ou menor juízo. O jacaré é um bicho indisposto, eu sei. Gosto muito dele,
mas não devo chegar perto. Nunca vi, já disse. Tenho pena. Talvez seja pior
para o jacaré, por não o amar. Eu gosto dele mas não sei se constrói. Estou a
ser sincera. Ainda tenho que ler sobre isso. Talvez os bichos ferozes construam
coisas às quais não sabemos dar valor. É importante pensarmos no valor que cada
coisa ou lugar tem para cada bicho. Só assim vamos compreender a razão de cada
coisa ser como é. Depois de entendermos melhor, a beleza comparece. Os casais
são criados por causa do amor. Eu estou sempre à espera de entender melhor o
que é. Sei que é algo como gostar tanto que dá vontade de grudar. Ficar
agarrado, não fazer nada longe. Os casais são isso: gente muito perto. Quero dizer:
acompanhando, porque mesmo em viagem não deixam de acompanhar, pensam o dia
inteiro um no outro. Às vezes falamos com alguém que pertence a um casal e essa
pessoa nem ouve porque está a pensar em quem ama. Chega a ser bizarro. Quase
mal-educado. Os casais, de todo modo, não são fechados, têm amigos e outra
família, alguns têm filhos. Filhos que eles próprios geraram ou que adotaram
para criar. Os filhos, conseguidos de uma forma ou de outra, são
invariavelmente valiosos. Mães e pais, juntos ou separados, são sempre mães e
pais, e não perdem o amor. Apenas as doenças fazem mães e pais perder o amor.
Cientistas de todo o mundo procuram urgentemente uma cura. Mas não parece nada
fácil. Creio que só uma esperança qualquer pode curar. A esperança parece inventada
pela espera. Eu não sei esperar. Todos os dias me assusto por não ter
esperança. Quero muito ter. A minha mãe manda fazer um esforço. Ela diz:
acredita sempre. Eu acredito, só não estou certa de saber ficar à espera.
Quando for maior vou seguramente melhorar neste desafio. Os casais têm muitos
processos para se consumarem. Alguns vestem-se de cores bonitas ou de branco
muito limpo, assinam papéis, convidam gente para ver. Outros comem para
engordar e também convidam gente para engordar com eles. Quem casa,
normalmente, engorda de qualquer jeito. Há casais que se conhecem num
transporte público, numa praça ou no trabalho e ficam. Ficam casais, quero
dizer. Dão abraços, trocam número de telefone, assistem a filmes a preto e
branco, comem doces, reluzem. Embora existam os que fazem festas, há uma
infinidade de casais que não as têm, e outros que nem dizem nada a ninguém. Vão
viver juntos ou não. São casais mas só eles sabem. Gostam um do outro, mas só
eles sabem. Muitos amores são discretos. Deve ser como construir um prédio em
algures onde ninguém nunca foi para poder construir em segredo. Uma vizinha
nossa desapareceu. Soubemos que estava apaixonada num país longínquo. A minha
mãe diz que ela agora vive de pernas para o ar porque foi para o lado de baixo
do globo terrestre. Eu imagino que a saia dela levante e seja difícil de
caminhar. A coisa mais divertida de perceber: os casais não eram família antes.
Eles eram gente desconhecida que se torna família. Mesmo que os filhos julguem
que pai e mãe se conhecem desde sempre, isso não precisa de ser verdade. Os
adultos apaixonam-se ao acaso, ainda que façam um esforço para escolher muito
ou com muita inteligência. Já aprendi. O amor é um sentimento que não obedece
nem se garante. Precisa de sorte e, depois, empenho. Precisa de respeito.
Respeito é saber deixar que todos tenham vez. Ninguém pode ser esquecido. Por
vezes, faço uma lista de nomes das pessoas importantes para mim para lembrar
delas. Mesmo que não lhes fale, penso em como estarão se bem ou mal, quando me
parece que podem estar mal telefono a perguntar. Quase sempre estou errada. Mas
gosto de ter a certeza do erro. A minha mãe diz que só crescemos quando
reconhecemos os nossos erros, enquanto não o fizermos seremos menores. Crescer
é diferente de aumentar de tamanho ou ganhar idade. A minha mãe diz que grande
são os que se corrigem. Eu fui bem avisada: a pessoa que eu poderei um dia amar
haverá de estar em algum lugar entretida com a sua vida, como eu. Não conheço
ainda essa pessoa, já me disseram que seria o Miguel, ele é maravilhoso. Não
confio muito, de todo modo. Há tanta gente maravilhosa. Eu ando a ver se escuto
os meus avós e as minhas primas estrangeiras que falam engraçado. Tenho tudo
para ouvir e ver. Ainda não sei nada. Leio livros para aprender. Estou sempre
apressada. Sou muito mexida. Um dia quero uma coisa, no outro quero tudo. Sofro
de um problema de sossego, não sei estar sossegada. Mais tarde corrijo. Um dia,
eu e essa pessoa desconhecida vamo-nos encontrar por algum motivo e uma intuição
talvez nos diga que chegamos à vida um do outro. Eu não acredito sempre nisso.
Mas não posso deixar de estar atenta. Sou mesmo assim, fico atenta a toda
gente. Gosto de olhar discretamente. Confesso. Imagino a vida dos outros. Não é
por cobiça. É por vontade que dê certo. Por exemplo, vejo alguém sem cabelo e
invento que há gente que só gosta de homens carecas e então ser careca passa a
ser uma vantagem, ou, pelo menos, desvantagem nenhuma. Acho que invento a
felicidade para compor as coisas e não para haver preocupações desnecessárias.
E inventar algo bom é melhor do que aceitarmos como definitiva uma realidade
qualquer. A felicidade também é estarmos preocupados só com aquilo que é
importante. O importante é desenvolvermos coisas boas, das de pensar, sentir ou
fazer. As pessoas são tão diferentes. Aprecio muito que o sejam. Fico a pensar
se me acharão diferente. Adoraria que o achassem. Ser tudo igual é
característica do azulejo na parede e, mesmo assim, há quem misture. Eu sou a
favor de uma meia de cada cor. Adoro cores. A minha mãe diz: organiza, julga
que eu baralho demasiado. Às vezes, fico horas a arrumar o quarto. Cansa, mas
gosto do resultado no final. Queria muito acreditar em fadas que mantivessem os
trabalhos chatos sempre feitos. Mas isso não acontece. Para ser menos chato, eu
canto no trabalho. Chego a ficar rouca das horas e da falta de afinação. Sou,
enquanto cantora, prima das catatuas. Não me importo. Ainda assim eu canto.
Adoro cantar. Descubro cada vez mais que o paraíso são os outros. Vi num livro
para adultos. Li só isso: o paraíso são os outros. A nossa felicidade depende
de alguém. Eu compreendo bem. Mães, pais, filhos, outra família e amigos, todas
as pessoas são a felicidade de alguém, porque a solidão é uma perda de sentido
que faz pouca coisa valer a pena. Na solidão, vale só a pena pensar tentar
encontrar alguém. O resto é a tristeza. A tristeza a gente respeita e deita
fora. A tristeza a gente respeita e, na primeira oportunidade, deita fora. É
como algo descartável. Precisamos usar mas não é bom ficar guardada. Os casais
formam-se para serem o paraíso. Ao menos assim devia ser. Há casais que vivem
no inferno mas isso está errado. Pertencer a um casal tem de ser uma coisa boa.
Eu, quando for adulta e encontrar quem vou amar, quero ser feliz. Não vou
sequer ter paciência para quem mo impedir. Precisamos de fugir de toda maldade
antes que deixemos de saber fugir. A maldade deve ser eliminada logo na
primeira situação. A minha tia viveu com o meu antigo tio até ao dia em que ele
bateu nela. Depois, fez a mala e foi procurar apaixonar-se outra vez. Quem bate
é burro e estúpido. A polícia deve prender. Ela casou novamente. O meu novo tio
é brincalhão, conta anedotas e todos gostamos mais dele. A minha tia até ficou
mais bonita. Não sei o que lhe deu. O amor precisa de ser uma solução, não um
problema. Toda a gente me diz: o amor é um problema. Tudo bem. Posso dizer de
outro modo: o amor é um problema mas a pessoa amada precisa de ser uma solução.
As pessoas que amam estão sempre com ar de urgência porque têm saudades quando
não estão acompanhadas e sentem uma euforia bonita quando estão juntas. Eu acho
que as pessoas apaixonadas sentem saudade mesmo quando estão juntas porque
ficam sempre a olhar umas para as outras pasmadas como se fosse a primeira vez.
Até como se fosse a primeira vez que vissem sapos, neve, cataratas, aqueles
peixes voadores, jacarés, prédios com mais de trinta andares ou o Miguel a
enrolar os olhos. As pessoas mais velhas, quando são um casal, dão beijos
pequenos. As pessoas mais novas costumam dar beijos mais longos, cheios de
paciência. Eu não tenho muita paciência. Devo ter a alma mais velha. Não sei.
Também não acredito muito que beijar seja como construir prédios, embora alguns
beijos pareçam cansar. Há casais que ficam mesmo sem ar, como quem andou a
carregar tijolos. Não estou certa de que quero que me falte o ar ou de que
quero carregar tijolos. Tenho muitas dúvidas. Quando me apaixonar, dizem-me
fico logo esclarecida. Aguardarei, desconfiada. Não aceito as coisas à pressa,
preciso de pensar.
quinta-feira, 7 de junho de 2018
Atos
Cuida bem. Observa os detalhes. Olhe nos olhos. Tente reparar no que ninguém repara. Ouça. Seja sincero. Amor se constrói na simplicidade.Hoje em dia, ele está tão raro porque não param pra notar que ele não tropeça nas grandes montanhas, e sim nas pequenas pedras.
quarta-feira, 6 de junho de 2018
Por que escrevo?
Alguns dias atrás
perguntaram-me por que escrevo, donde vem inspiração, quando comecei a ‘gostar
de escrever’? Talvez não haja explicação – claro, motivação existe e/ou deve
existir em todas ações, mas o motivo e razão pelo qual escrevo é simples: há
coisas em nós, dentro de nós que só são realmente expressadas assim – nas entrelinhas.
Não estou afirmando
que sou solitária ou carente. Não. É diferente. Porque existem dois tipos de
pessoas: aqueles que falam e aqueles que ouvem. E ainda há aqueles super-heróis
que fazem os dois com perfeição, dizem que é dom.
A outra coisa sobre
minhas razões/motivações começaram na adolescência. Eu não tinha um diário – eu
nunca soube o que selecionar do meu dia para “caber” numa folha. Porém, sempre
tive um bloco de notas, uma agenda ou um caderninho – lá continha pensamentos
do dia; sentimentos extraídos de um diálogo; ou até mesmo as frases dos autores
prediletos. Aos 11/13 anos acompanhava meu irmão do meio em suas leituras da
faculdade de Pedagogia – na verdade ele trazia os textos e já me chamava para
lermos juntos. Aquilo para mim foi o início! Quem sabe foi ele o meu mentor
desse processo de paixão pela leitura e escrita. Sou grata a isso!
Comecei com o blog em 2010, lá foi onde
me debrucei a escrever, pesquisar, resenhar livros, transcrever músicas,
comentar quadrinhos. Achava aquilo fantástico! Ter uma plataforma que poderia
chamar de minha, meu espaço, meu lugar secreto! Não importava se eu tinha
leitores, seguidores... Era apenas o lugar onde passei a colecionar os
sentimentos, os textos autorais etc.
A motivação vinha de qualquer coisa, seja
de uma viajem, um passeio, uma desilusão, uma alegria, um novo filme ou livro
pelos quais eu queria compartilhar e comentar.
Conheci alguns sites de escritores que
compartilhavam textos online, o Recanto das Letras. Lá há diversos textos de
todos os gêneros! Comecei também a escrever por lá. Tenho conta no Tumblr, uma também no Instagram com pequenas citações de meus textos, enviei alguns textos para um Projeto de site, de outra escritora que conheci online enfim. Costumo dizer que
apesar das mazelas que vemos todos os dias, das injustiças e questões sociais,
dá para enxergamos a humanidade, falo daquele lado do ser humano (o bom que
todos temos) o que deveria prevalecer a cada momento nosso nesse plano. Gosto
de ver a bondade – seria bonito se só fosse isso que existisse nos jornais, na
tv, nas novelas... Transmitir isso deveria ser Lei. Então eu penso: ela está
perto, ela é presente. Ela pode ser/estar até presente em nós.
Então, minha inspiração
está nesse lado bom do outro, no sentir a alma e enxergar o outro a partir de
sua essência, sabe?
Não importa se temos diferenças, se somos
contrários e as ideologias são divergentes.
É isto que me faz
escrever... descobrir até onde posso ir com a inspiração, com aquela motivação
ou fato que me fez abrir o computador-abrir uma página em branco-e escrever e por
último, não menos importante, a música – instrumental de preferência. Posso até
passar dias, meses sem escrever algo no blog, mas não significa que não estou
escrevendo – acontece que tenho um bloco de notas no celular e acredite, ele é
lotado! Alguns são partilhados no blog, outros são do futuro, quiçá um livro
futuro.
quinta-feira, 24 de maio de 2018
Trecho de Clarice Lispector
Ajoelhou-se trêmula junto da cama pois era assim que se rezava e disse baixo, severo, triste, gaguejando sua prece com um pouco de pudor: alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para que eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.
Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres - |
Não era à toa que ela entendia os que buscavam caminho. Como buscava arduamente o seu! E como hoje buscava com sofreguidão e aspereza o seu melhor modo de ser, o seu atalho, já que não ousava mais falar em caminho. Agarrava-se ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde ela fosse finalmente ela, isso só em certo momento indeterminado da prece ela sentira. Mas também sabia de uma coisa: quando estivesse mais pronta, passaria de si para os outros, o seu caminho era os outros. Quando pudesse sentir plenamente o outro estaria salvo e pensaria: eis o meu porto de chegada.
Mas antes precisava tocar em si própria, antes precisava tocar no mundo.
quarta-feira, 11 de abril de 2018
Sintonia
Você pode não compreender, mas as músicas dizem - não, elas não são o repetir de clichês nem do que mais retrucam lá fora.
Compreende a grandeza do que é ser tocado pela sintonia?
Você simplesmente vê sua alma e seu coração desmanchar-se e relembrar-se, ou refletir sobre a vida e sobre o tudo.
sintonia
substantivo feminino
- 1.eletr qualidade de seleção dos receptores nos quais as emissões de frequências (diferentes daquela que corresponde à regulação do ressoador) produzem um efeito mínimo.
- 2.psic estado das pessoas sintônicas, que se encontram em harmonia ou correspondência com o meio.
Pode entender que lá fora há vida e também a vida de que não aceitou viver. E, traz para si as alegrias diárias e entende a facilidade de ter a felicidade constante em si.
Sabe daqueles momentos de que tu lembra do cheiro de casa e do laço de seu animal de estimação quando se enrosca no seu calcanhar?
Vê o sorriso de hoje e dos risos de ontem e, da coisa chamada saudade - é também se deixar levar-se sentir a música.
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