Por
indicação, não por falta de opções - coisa que adoro é ver filmes por indicação,
sinto-me agraciada quando me indicam um filme, principalmente se forem pessoas
amantes da arte. A sociedade literária e a torta de casca de batata é o nome do
filme, baseado na obra da autora Mary Ann Shaffer. O filme foi lançado em 10 de
agosto deste ano, pela Netflix com direção de Mike Newell.
Se você não assistiu ao filme, é livre em não querer ler a
resenha.
Sou
suspeita em falar de filmes de romance, mas quero deixar claro, que tem um
tempo que parei de romantizar os filmes, aliás, procuro me manter distante dos
romances, por hora quero viver o meu próprio ou escrever sobre o gênero.
O
fato é que este não é só um filme de romance, ele é sobretudo mais uma obra
fantástica que retrata a História. Depois do Diário de Anne Frank, A vida é
bela, O menino de pijama listrado, A menina que roubava livros, dentre outros, (estes
são os meus prediletos) trazem, pois, a Segunda Guerra Mundial, ou melhor a
trágica vida dos que viveram momentos de terror, violência enfim, a guerra como
ela é.
A
trama começa mostrando o cotidiano da escritora e jornalista Juliet Ashton em Londres 1946,
claro, com a sensibilidade de escritora, chama atenção para reflexão sobre a
guerra, ou “o fim” desta. Uma de suas primeiras falas: “quase acredito que a guerra acabou mesmo...” comenta com o seu
editor e amigo Sidney ao passar por uma rua de Londres e observando a paisagem
urbana.
Juliet
parece sem ânimo para a escrita e também de ofício, a época ela dava palestras
e falava sobre suas obras, além disso escrevia artigos para o The Times. Mas,
não era o bastante. Queria mais! Queria escrever algo maior, queria inspiração.
O filme não retrata muito de sua vida e passado, entretanto em uma cena que
deveria ser a que estivesse mais feliz e encantada com o que conquistara (ao
visitar com seu amigo Sidney um imóvel), recorda-se de um fato que marcara sua
vida: quando perdera seus familiares. Lembra-se de como acabou sozinha. Juliet
apesar de escritora conhecida e jornalista renomada em sua época, vivia uma
vida simples. Numa pensão - para ela bastava-lhe seu quarto e sua máquina de
escrever. Mantinha uma relacionamento pomposo, com o general Mark, que lhe
oferecia segurança, conforto, festas , luxo!
Juliet
não havia encontrado seu eu, sua felicidade, suas esperanças até então. Apesar
de estar rodeada de pessoas queridas a quem lhe tinham devoção e afeto.
Sentia-se a incompletude de não puder fazer nada por aqueles que ainda sofriam
as consequências do pós guerra.
De
repente, numa noite exaustiva após chegar de uma festa com Mark, teve a alegre
surpresa de receber uma carta. Tratava-se de Dawsey Adams que por correspondência,
e sem saber de quem se tratava, mandou-lhe uma carta falando sobre livros. Na verdade,
a carta vinha da ilha de Guernsey, território inglês ocupado pelos nazistas por
cinco anos. Dawsey buscava por um livro de Shakespeare. Contou-lhe que viu seu
nome e endereço em um livro que lera junto aos amigos da Sociedade literária e
a torta de casca de batata quando enquanto a ocupação alemã estavam em seu
território.
Juliete
ficou confusa sobre muitas coisas, mas resolveu responder a carta e também,
fazer alguns questionamentos, em troca, ela iria atrás do pedido de Dawsey. O
que era a Sociedade literária e a torta de casca de batata? E por que deste
nome? Por que havia um porco nesta história toda? Enfim... Comprou o livro e
enviou junto a carta para Dawsey.
O
filme aborda o laço, a união forte entre pessoas - pessoas que se unem e reúnem-se
por um propósito: ser companhia. Não foi por acaso que a Sociedade (o grupo de
leitura) surgiu. Durante o tempo em que viviam o terror da invasão, estes
sujeitos, livraram-se dos pensamentos sobre as dificuldades a que enfrentavam.
Aproximaram-se por estarem submetidos a uma situação a que não queria, estarem
sendo encurralados por alemães que se colocavam como superiores num território que
a eles não pertenciam.
Tudo
começou com Elizabeth. Sobrinha de uma das protagonistas, a Amelia. Uma senhora
que havia perdido a filha pelo bombardeio. Elizabeth reunira alguns amigos e
amigos dos amigos. Juntos, escondidos dos alemães, levaram o que tinham de
melhor para o jantar na casa de Amelia. Licor, o porco de Dawsey o qual os
alemães haviam roubado. Naquele período, eles plantavam batatas, que se tornara
o único alimento de todos. E, claro, no jantar tinha a especialidade do Sr.
Ebbe - a torta de casca de batatas. No final, na volta para casa, foram pegos
pelos nazistas. Foi ai que surge a titulação do grupo. Elizabeth a fim de
evitar o pior, diz aos militares que eles faziam parte de um grupo de leitura.
Foi quando começaram a ler para os generais e fazerem seu oficio: se reunir
todos os dias, para ler.
Os
membros da sociedade conseguem nos apresentar como a leitura pode ser saudável
para as questões de nossas vidas, como a literatura tem a capacidade de mudar
nossas vidas, nosso eu, no psique.
A
fotografia, a trilha sonora, todo o filme é carregado de originalidade a época e
aos momentos vividos.
Nesse
contexto, Juliet passou a se corresponder com Dawsey e faz a proposta de ir a
ilha conhecer o grupo e a história deles. Agora ela tinha um tema pra seu novo livro.
Fato que ela só descobriria depois - a viagem proporciona à escritora mais do
que material para seu livro. Fazer amizades sinceras, ser ela mesma em um novo
lugar, e encontrar o amor – em suas diversas formas. O que ela encontra por lá
e as relações, mudam sua vida por completo.
O
romance entre Juliet e Mark fica mais sério quando, ao embarcar ele a pede em
casamento. Chegando na Ilha de Guernsey, dá de cara com Dawsey, mas sem saberem
quem eram. Ele estava trabalhando quando ela chega e pergunta por um hotel.
Dawsey não pôde ajuda-la e, então ela seguiu caminho. Conheceu o Sr Ebbe, e seu
neto Elli, nos correios quando foi em busca de ajuda para hospedagem. O Sr Ebbe
fica encantado com a beleza de Juliet e ali ela reconheceu como membro da
Sociedade quando se apresentaram.
A
noite, Juliet teria o encontro com o grupo de leitura na casa de Amelia. Lá
para surpresa dela, conheceu Dawsey oficialmente e o restante dos membros. Juliet
questiona pela fundadora Elizabeth, mas ficou sem respostas e com mais dúvidas.
É
interessante como a trama se dá. Uma pesquisadora, que fora com intenções, mas
que se toma cada vez mais como parte daquele povo, daquelas pessoas. E passa a
querer ajuda-los e conhecer mais e mais suas histórias. Juliet não mais estava
a trabalho, mas fazia parte daquelas pessoas, de suas histórias, medos e
traumas.
Alguns
membros do grupo sentia receio pela vinda de Juliet, como Amelia. Tinham medo
da aproximação com outras pessoas, por causa do gorveno e diziam que a guerra para
eles ainda não havia acabado. Tinha esperanças que Elizabeth voltasse para
casa. Juliet descobriu que Elizabeth havia sido levada com os alemães. Foi em
uma noite quando tentou ajudar uma criança faminta. Mataram a criança e levaram
Elizabeth. Desde então nunca tiveram notícias dela. Dawsey contava isso a
Juliet quando ela mesma questionou sobre quem era o pai de Kit. A criança
morava com Dawsey e ela a chamava de pai. Ela era filha de Elizabeth com um
soldado alemão, por quem a corajosa Elizabeth se apaixonara. Amelia era contra
o relacionamento. Mas kit acaba ficando com Dawsey porque na noite em que sua
mãe foi pega, ela o deixou com ele, para que cuidasse dela. Foi então que ele
passou a cuidar da criança, com a ajuda de Amelia.
Juliete,
passa a ter dúvidas sobre sua vida e planos. Se apaixonara pelo simplicidade,
bondade, coragem, beleza e mistério de Dawsey, pela pessoa que era por dentro e
por fora. Até então, não conheciam a vida daquela escritora, seus planos, sua
história. Juliet preferiu esconder ou omitir seu anel de noivado. Para ela, era
muito luxo a ser mostrado aquele povo simples. Além de atrair olhares de “fofoqueiros”
como o da anfitriã da casa em que estava hospedada. A sra que lhe falara um
pouco daquele grupo de leitores, levantando falso e mentiras sobre a vida de
Elizabeth. Numa noite, Juliet a pegou lendo seus textos... invadiu a
privacidade de Juliet e vira do que ela estava escrevendo sobre os membros da Sociedade.
O
filme é um drama histórico, entretanto está longe de debelar cenas enfadonhas e
com apreensões complexas, o oposto disso, o filme todo é rico em estudos e o
cuidado em mostrar a história sem amarras, o romance e sensibilidade de um bom filme
é encantador!
As
cenas de humor muito leve e em originalidade respeitoso, mostrados através dos membros
da Sociedade, e a maneira como o passado é apresentado por cenas de flahsbacks de
como era a vida dos protagonistas e personagens secundários durante a Segunda
Guerra Mundial, o que nos leva ainda mais a conhecer a história de cada
personagem ali presente.
O
curta-metragem é em tudo uma surpresa daquelas agradáveis. Veja, de repentino
Mark chega a ilha e apenas sobre o olhar dele e sobre suas atitudes, Juliet desconstrói
e confirma tudo sobre sua vida e seus desejos, sobre o que realmente sentia por
Mark; pois ela descobre que sua ida a ilha leva-a a ser melhor, uma pessoa
melhor.
Mark
questiona sobre seu noivado, pois vê que ela não estava com o anel em seu dedo.
Questiona sobre suas atitudes. Mark fora com a intenção de levar os resultados
da busca por Elizabeth - Juliet havia lhe pedido para pesquisar (a partir de
seus privilégios) o paradeiro da jovem. As notícias não foram boas. Juliete
reuniu seus amigos e contara que Elizabeth havia sido localizada em um campo de
concentração na Alemanha. Ela morreu na tentativa de salvar uma garota que
estava sendo espancada. Elizabeth pegou o cassetete e bateu no guarda. A garota
foi poupada mais mataram a Elizabeth. Todos ali ficaram devastados. Havia
esperanças por todos de que um dia ela voltaria.
Juliet
não teve escolhas e teve que voltar com seu noivo Mark para Londres, naquele
mesmo dia. Tinha o trabalho que a esperava, Sidney seu editor lhe aguardava
para retomar sua rotina.
E
não tinha nada que a mantivesse ali, aliás, ela só descobriria depois, quando
não tivesse mais os olhares daqueles que se tornaram seus amigos. E assim fez.
Voltou a Londres sob a despedida calorosa e dolorosa daqueles a quem ela
aprendeu a amar.
Em
Londres ficou sem rumo e sem expectativas de como seriam seus próximos dias -
ela havia prometido aos seus amigos da Sociedade que não escreveria sobre a
história deles. Ela estava devastada com as notícias, com a monotonia de sua
volta. Sentia que só melhoraria se escrevesse, se ao menos estivesse conectada
novamente àquelas pessoas, a Kit, a Amelia, a Dawsey, ao Ebbe, ao Elli, e a Isola.
Só se sentiria melhor se escrevesse o que viu, o que viveu - o que descobrira,
seu eu.
Começou
a reorganizar-se, pôs fim ao relacionamento com Mark; começou a escrever. Não
seria um livro para publicação - todavia deu de presente a Sidney seu editor e
amigo. Outra cópia enviou a Sociedade Literária.
Os
membros se reuniram e leram a carta que havia junto ao livro, o qual ela
intitulou como Guernsey: A Sociedade Literária
e Torta de Casca de Batata. Na carta ela pedia perdão por ter escrito o
livro, mas deixa claro que não irá publicar e que agora pertence a eles. “Vocês acham possível pertencermos a alguém antes
mesmo de tê-lo conhecidos”, “Se for possível eu pertenço a vocês e vocês a mim,
ou simplesmente ao espirito que encontrei entre vocês em Guersey - essa é a
melhor definição de família que conheci”.
Enaltece a personagem Elizabeth e o quanto a vida dela mudou o curso da sua
própria vida: “mesmo sem tê-la conhecido
pessoalmente, a vida dela mudou a minha para sempre, de maneiras que estou
apenas começando a descobrir”.
Neste
instante, sem mesmo dizer nada, Dawsey percebe do que Juliet falava. Juliet
deixou uma mensagem para cada membro, especialmente a Dawsey - que naquele
mesmo dia, resolve ir a Londres a procura de Juliet. Preparem-se para mais uma
surpresa que o filme traz, Juliet estava no porto a ponto de embarcar, quando
Dawsey chega a Londres. Ela desce do navio e vai ao encontro dele.
E
foi assim, no olhar dos dois... inicialmente com um Oi, tímidos e subitamente começam a falar sem freios. Juliet o pede
em casamento no momento em que ele sem receio começa a proferir suas intenções,
antes dele falar o mesmo. Surpreso e sem palavras, ele escuta ela dizer que
está apaixonada por ele! Ele diz sim!
Disse sim àquela que também mudara sua vida e perspectiva de vida.
E
a última cena, não poderia ser melhor: Juliete no jardim de sua casa, olha
Dawsey ler aquele mesmo livro que ela enviara quando, por correspondência ele
havia lhe pedido informações sobre a biografia. Shekespeare, - Sonho de uma
Noite de Verão. “[...] olhou para ele,
intrigada com sua estranha inconstância. Lisandro, ao abrir os olhos e ver sua
queria Hérmia, recobrou a razão que o feitiço havia nublado. E com a razão, seu
amor por Hérmia. E passaram a falar sobre as aventuras da noite, sem saber se
aquilo tinha mesmo acontecido ou se haviam sonhado o mesmo sonho confuso”.
Juliet
realizada com Dawsey e Kt em seu novo lar e sua felicidade era transparente não
eram um sonho.
Ansiosa
por ler o livro.
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