“Como podemos ser tão diferentes e nos sentirmos tão iguais?”
Uma lição
de amor/ A Força do Amor, tem como título original: I Am Sam. Filme americano,
do gênero drama, lançado em 2001, escrito e dirigido por Jessie Nelson,
estreado no Brasil no ano de 2002.
Sam Dawson é
um homem com deficiência mental e apresenta atraso cognitivo. Leva uma vida
normal, tem amigos que fazem parte do seu dia a dia e são assim como ele,
especiais e excepcionais! Um grupo de amigos que trepida inveja em qualquer
outro – envolvidos pelo afeto, companheirismo e cobertos de generosidade e
humanização.
O filme
começa com Sam em seu ambiente de trabalho, uma cafeteria, da qual todos por lá
o tratam com respeito e inclusão. A trama inicia quando durante sua atividade
no trabalho ele recebe uma ligação, Sam sai correndo pela rua e chega à sala de
um hospital, onde lá sua vida começa a ganhar mais brilho; nasce sua razão de
viver, a filha a qual ele devotaria todo o seu amor e cuidado. Lucy, fora fruto
de um relacionamento inesperado entre Sam e uma mulher que recebe abrigo na
casa de Sam. Porém, esta mulher sem nenhuma explicação, abandona Sam e o bebê.
O filme nos
traz algumas reflexões iniciais e alguns questionamentos: como Sam cuidará de
sua filha, sozinho? Será que sua mãe voltaria um dia? E quando a criança
crescer? Como ficará a vida de Sam diante de tal situação...?
Com o apoio
de seus amigos e ajuda de uma amiga vizinha, Sam se envolve cada vez mais com
sua filha, entregando todo o seu amor àquela criança. Sua atenção, seus mais
sinceros cuidados e proteção. É emocionante cada minuto do filme, cada cena nos
faz envolver-se com a história, fazendo-nos reconhecer que nossa humanidade
está aquém do respeito as diferenças, as singularidades de cada ser. Sam tinha
uma mentalidade de uma criança de 7 anos, a inocência de 7 anos de vida, mas
todo amor que ele tem... ah! Talvez não caiba em muitos que se dizem ser gente.
É cativante
a paixão devotada por ele a sua filha. Desde o primeiro momento ao segurá-la
nos braços, e o seu olhar, e o seu cuidado encharcados de amor. Cada momento
entre Lucy e Sam é fascinante aos olhos.
Nos
primeiros dias, Sam sente dificuldade em seus iniciais cuidados; hora de
alimentá-la, como pôr sua frauda; que horas ela deve dormir ou tomar banho. Em
tímido desespero Sam pede ajuda: “[...] é tudo tão pequeno, você vem aqui pra
me ajudar?” foi o que ele disse a vizinha Enne, sua amiga. Quando ela explica
os horários de alimentar a criança, com sentimento profundo, ele pede desculpas
a Lucy.
Sua amiga Enne ensina os horários de alimentá-la
sintonizando a TV com os programas nos devidos horários. E Sam faz assim como
recomendado.
Lucy começa a crescer e com isso, logo o enche de perguntas e mais
perguntas...
– Papai por que a neve cai em flocos?
– Porque ela vem em flocos.
– Papai a mostarda é feita de que?
– A mostarda é um ketchup amarelo.
– Papai por que tem homens carecas?
– Alguns homens são carecas porque a cabeça deles brilha e
não tem cabelo nela. A cabeça deles faz mais parte da cara.
– Papai só tem joaninhas, ou tem também joaninhôs, também, e
se eles existem o nome deles é esse mesmo?
– Não. Chamam besouros.
– Papai onde o céu termina?
(...)
Lucy e suas
perguntas começam a deixar Sam confuso; em uma cena Lucy questiona a seu pai
“se Deus quis que ele fosse assim, ou se foi um acidente?” Sam não reconhece
uma maneira de explicá-la suas limitações enquanto humano. E a questiona
assustado o que ela queria dizer com aquela pergunta. E se desculpa por ele não
ser como as outras pessoas, os outros pais.
Lucy o deixa feliz completando: “Não se preocupe, eu tenho
sorte. Nenhum dos outros pais costuma ir ao parque”.
É
fascinante a performance do ator principal, consegue por excelência ser
originalmente encantador a cada cena.
Como duas crianças de mesma idade eles passam os mais
felizes e divertidos dias, até que a vida deles sofre algumas mudanças, quando
Lucy começa a frequentar a escola; Lucy envolvida com seus colegas passa a se
questionar sobre o comportamento de seu pai. Alguns colegas passam a chama-lo
de retardado, e Lucy acata: dizendo que: “é possível ser um retardado para
reconhecê-lo”.
Lucy passa a mostrar outros livros para o seu pai, mas Lucy
reconhece algo que a deixa com vergonha quando estão lendo juntos em uma
passagem do livro que diz: “Como podemos ser tão diferentes e nos sentirmos tão iguais?”
Suas vidas
começa a mudar quando a escola chama Sam para uma conversa e o diz que Lucy não
consegue acompanhar seus coleguinhas na escola, e se recusa a apreender, a
evoluir. Em casa, Lucy se recusa a ler e diz ser burra. E completa: “se você
não consegue ler, eu também não consigo ler”. Seu pai a convence dizendo
emocionado que se sente realizado quando ela ler e ela termina a leitura.
O clímax
ocorre quando na festa surpresa de Lucy, Sam e seus amigos, junto aos colegas
de Lucy, a menina é levada pela Senhora da Vara da Família, que fora visitá-la. E
na hora que Lucy chega, ela é surpreendida! Um coleguinha grita: “ele não é
seu pai, você disse que foi adotada!”
Sam fica
sem Lucy por um tempo, só pode vê-la duas vezes por semana e por duas horas.
Ele passa a procurar por um advogado que o ajude. Até que com muito esforço e
persistência, uma advogada aceita ajudá-lo, no entanto, ela só o ajuda (pro bono) para
impressionar alguns seus amigos que a vê conversando com ele.
Rita é uma advogada,
mãe e esposa. Estas ultimas sem muita dedicação. Ela é uma pessoa que sofre com
alguns problemas – seu filho uma criança que não recebe atenção merecida e a
trata com desobediência e rebeldia. E seu esposo, é um homem infiel.
Rita passa
a se envolver cada vez mais com o caso de Sam e, com ele, passa a valorizar
algumas coisas e ser mais calma, mais humilde e humana.
Durante o filme, Sam e Rita enfrentam várias sessões, até
que Sam se conforma e faz o que para ele seria melhor para sua filha – deixá-la com
sua mãe adotiva, aquela com quem ele sempre quis para Lucy; uma mulher
paciente, carinhosa e que estava disposta a dar atenção e o amor que Lucy
precisava.
Há passagens em que Lucy passa
dias fugindo de casa pela janela para ir de encontro à casa do pai; de
madrugada, quando todos já dormiam, ela pulava a janela de sua casa e ia para a
casa de Sam que era vizinha a sua. Dizia a seu pai que não conseguia dormir, e,
Sam a esperava adormecer todas as vezes que isso acontecia e depois ia deixá-la
em sua casa. É comovente a forma como a mãe adotiva da Lucy diz para o Sam
quando evita que mais um desses episódios ocorresse novamente; então ela vai à
casa de Sam com Lucy em seus braços, e simplesmente diz que ela não seria capaz
de dar o mesmo amor que ele sente por sua filha. E a entrega nos braços de Sam.
O
julgamento final não se passa no filme, mas o que sabemos é que Sam fez o que
achara melhor para Lucy, a deixa com sua mãe adotiva.
Histórias assim, nos fazem refletir sobre comportamentos – o
comportamento humano. Os valores que nós por muitas vezes esquecemos ou fazemos
questão de não usá-los. O respeito as pessoas, seja ela como for, surda, cega,
com deficiência mental, paraplégicas, etc. seja lá qual for sua deficiência. O
fato é que pessoas assim são cidadãs e cidadãos como qualquer outro, e como tais possuem os mesmos direitos
que pessoas “normais”.
E para a inclusão, o que falta?