sábado, 28 de setembro de 2024

A Beleza das Pequenas Coisas

Eu gostaria de começar com uma pergunta: você já parou para perceber a beleza que existe nas pequenas coisas do seu dia a dia? Falo sobre aquelas cenas que passam despercebidas enquanto estamos distraídos com a correria da vida. É sobre elas que eu quero falar hoje.



Pense em uma manhã comum, você acorda e o primeiro raio de sol atravessa a cortina, aquele calorzinho tocando o seu rosto. A sensação de uma xícara de café quente entre as mãos. O aroma que invade o ambiente. Ou o som do vento batendo nas folhas de uma árvore lá fora. Esses são pequenos momentos que podem facilmente passar batido, mas se pararmos para perceber, encontramos ali uma espécie de poesia silenciosa, uma felicidade que não precisa ser grandiosa para ser real.


Na vida, muitas vezes nos pegamos buscando o extraordinário. Queremos grandes acontecimentos, sucessos estrondosos, momentos de êxtase. Mas e se o segredo de viver bem estivesse justamente no contrário? No ordinário, no simples, naquilo que muitas vezes deixamos para trás na pressa de ser ou ter mais?


Amélie Poulain, do filme que inspira nosso encontro, tinha essa capacidade de transformar o comum em extraordinário. Ela vivia com um olhar atento ao mundo ao seu redor, encontrando beleza onde muitos veriam apenas banalidade. Ela mostrava que a vida, mesmo em sua aparente simplicidade, é cheia de possibilidades de encantamento.


Mas como podemos aplicar isso em nossas vidas? Como podemos, em meio à rotina, desacelerar e perceber a beleza das coisas simples? A resposta é: praticando a presença. Vivemos tempos de distrações constantes, de cobranças incessantes, onde somos levados a crer que precisamos estar sempre correndo, sempre fazendo algo. Mas, às vezes, o que realmente precisamos é parar. Respirar. Sentir.

Na próxima vez que você estiver caminhando, não olhe apenas para a frente. Observe o caminho. Veja as cores das flores, sinta o cheiro do ar, ouça o som da sua própria respiração. Quando estiver com alguém que ama, realmente esteja presente. Desligue o celular, olhe nos olhos, escute com atenção.

E se, por acaso, bater aquela sensação de que a vida poderia ser mais, que você deveria estar em outro lugar, fazendo algo diferente, lembre-se: a vida está acontecendo agora. Ela não está lá na frente, num futuro distante. Ela está no presente, no instante em que você ouve essas palavras, no ritmo do seu coração.

Que tal começarmos, então, a redescobrir o prazer de viver o agora? Porque, no fim das contas, a felicidade não é um destino. É uma coleção de pequenos instantes, momentos que podemos escolher saborear ou deixar passar.

Lembre-se: a vida é mais bonita quando olhamos para ela com os olhos da alma.

domingo, 22 de setembro de 2024

"Reorganizando as Prateleiras da Vida

Interessante, não é? Descobrir que o mundo é uma espécie de supermercado humano, onde as pessoas se organizam em prateleiras. Temos aquelas que exigem nosso melhor, que esperam atenção, e que não aceitam qualquer resposta que não seja "sim" ou "não". Elas ocupam a prateleira de cima, onde guardamos as taças de cristal que tiramos para ocasiões especiais. Cuidamos com carinho, porque sabemos que um deslize pode causar um estrago enorme.

Logo abaixo, temos a seção do “tanto faz”. É como a prateleira do meio da geladeira, onde ficam aqueles itens que a gente consome sem muita cerimônia. Elas não fazem questão de um espaço exclusivo e se adaptam a qualquer situação. Um “oi” ou um “tchau” é suficiente, e elas continuam ali, sem reclamar.

Por fim, há as pessoas do “não me importo”. Aqueles que ficam na prateleira de baixo, junto com a farinha e os potes de sorvete vazios que a gente guarda sabe-se lá por quê. Elas não se ofendem com o pó que se acumula sobre elas e não reclamam quando esquecemos que ainda estão lá. São as que nos fazem lembrar que, às vezes, o espaço está mais vazio do que deveria.

E no meio de tudo isso, você, curador da sua própria vida, vai descobrindo onde colocar cada um, quem fica em destaque, quem fica no canto, e quem talvez já deveria ter saído de circulação. É um aprendizado constante, mas essencial. Afinal, arrumar as prateleiras não é sobre organizar o mundo, mas sim, sobre organizar a si mesmo.

sábado, 21 de setembro de 2024

Os pequenos furações do 501



Nael e Naeli, com seus 4 e 2 anos de pura energia, são como pequenos furacões em casa. Um dia, eles estão correndo pelo corredor, transformando almofadas em montanhas e o sofá em um castelo. No outro, estão aos prantos porque a bolacha quebrou no meio ou porque um deles decidiu que o brinquedo do outro é o melhor do mundo.

Mas, sabe de uma coisa? Assim como os desenhos na parede e os brinquedos espalhados pelo chão, tudo passa. Eles crescem, aprendem a dividir, a consertar bolachas partidas e até a fazer novas montanhas de almofadas. E, em meio ao caos e à bagunça, a gente percebe que o tempo é um vento que leva tudo, inclusive os momentos que achamos que nunca vão acabar.


Aproveite cada segundo, porque até o furacão vira brisa.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Crônica de uma Mãe em Isolamento Social

 


É 2024, mas parece que ainda vivemos em 2020. Eu olho ao redor e sinto o peso das paredes da minha casa, tão familiares e, ao mesmo tempo, tão opressoras. Não há espaço suficiente para todas as demandas, os gritos e as responsabilidades. Sou mãe. Sou trabalhadora. Sou cuidadora. Sou tudo ao mesmo tempo. Mas quem sou eu, de fato?

Quatro anos atrás, assisti pela primeira vez o mundo se encolher diante de um vírus. As notícias falavam de isolamento social, de manter distância, de um novo normal. Na época, me perguntei o que era isso — isolamento. Será que sabiam do que estavam falando? Hoje, já não há mais dúvidas.


Agora, estou aqui, em casa, tentando repousar. É a minha primeira vez com COVID. Não estou de home office. Fiquei doente, faltei ao trabalho. Sem atestado. Não existe mais o luxo do distanciamento adequado. O isolamento tornou-se uma espécie de piada amarga, uma ilusão. Como me isolar quando tudo depende de mim? Como repousar, quando meus filhos precisam de atenção, quando o jantar precisa ser feito e a casa ainda não se organiza sozinha?


Meus filhos estão aqui, ao meu redor. Sempre. Eu rezando que o vírus não os contamine também. As risadas e os gritos se misturam, transformando minha casa em uma bolha de sons, onde não há respiro. Não há mais “eu” entre eles. Se um adoece, todos adoecem. E eu, a mãe de COVID, fico. O mundo lá fora continua girando, mas aqui dentro... tudo parou.

Mas essa mãe precisa estar disponível. Disponível para quem? No fundo, não importa. A resposta é sempre: para todos.

E quando a COVID volta a bater à porta, o que resta? Não há escola, não há rede de apoio. Só há eu. Eu e o protocolo. O protocolo que me obriga a fazer um teste em laboratório, porque o auto teste não é válido para justificar a minha ausência no trabalho. Mais uma ironia cruel. Preciso faltar ao trabalho, mas, para isso, devo sair de casa para validar uma doença que todos sabem que já está aqui, comigo.

Quem cuida de nós? Quem cuida da mãe de COVID? Dos medos que nascem no isolamento? Dos sonhos que não têm mais espaço para florescer entre um grito e um tanto de outras coisas que demandam nossa atenção.

O tempo passa. E se aprendi algo nesses anos, é que o isolamento vai além das paredes físicas. Ele está na ausência de apoio, no vazio deixado pelas expectativas impossíveis. Está na solidão de ser tudo para todos e, ao final do dia, sentir que ainda não foi o suficiente.

O protocolo não faz sentido. Mas faço eu? Sigo, porque é o que sempre faço.


Força. Força a todas as mães. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dias de de luta e dias de luta

 

Aquela história de "dias de luta e dias de glória" nunca me convenceu. Para ser bem honesta, parece que a glória está perdida no GPS, andando em círculos enquanto eu continuo lutando para passar pela semana. Será que a glória pegou o ônibus errado?

Tem dias que a luta é sair da cama, enfrentar o espelho e aceitar que o cabelo vai fazer o que bem entender. Outros dias, a luta é convencer a criança de quatro anos que vestir a camiseta ao contrário não é um ato de rebeldia estilística (Nael que o diga!). E às vezes, a luta é só não devorar aquele chocolate antes das 10 da manhã.

Mas e a glória? Ah, a glória vem de formas inusitadas! Tipo encontrar uma meia perdida no fundo da gaveta ou finalmente conseguir tomar um café sem interrupções por cinco minutos inteiros! A glória talvez não seja o grande momento épico que a gente imagina. Talvez ela esteja ali, disfarçada de pequenos triunfos que a gente deixa passar despercebidos no meio do caos.

Então, se você está esperando pela grande glória, talvez seja hora de olhar em volta. Pode ser que ela já tenha chegado, só que está usando um pijama confortável, tomando um chá e te dizendo: "Relaxa, o importante é que você está fazendo o seu melhor."



segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Análise Comparativa: "O Gambito da Rainha" e "A Maravilhosa Sra. Maisel"

O Gambito da Rainha" e "A Maravilhosa Sra. Maisel" são duas séries que se destacam não apenas pela qualidade de suas narrativas, mas também por sua abordagem poderosa sobre o empoderamento feminino em épocas históricas onde a presença das mulheres era frequentemente marginalizada. Ambas as séries são ambientadas nos anos 1950 e 1960 e oferecem perspectivas únicas sobre o papel da mulher na sociedade, usando o xadrez e a comédia como cenários para explorar temas universais de identidade, autonomia e desafio às normas estabelecidas.


Protagonistas Femininas Fortes


Beth Harmon, de "O Gambito da Rainha", é uma personagem complexa e introspectiva. Como uma órfã que encontra no xadrez um meio de expressão e uma saída para suas dificuldades, Beth enfrenta o vício e a solidão enquanto persegue seu objetivo de ser a melhor enxadrista do mundo. Sua jornada é marcada por uma busca por identidade e reconhecimento em um campo dominado por homens, onde ela frequentemente enfrenta preconceito e subestimação.


Em contraste, Miriam "Midge" Maisel, de "A Maravilhosa Sra. Maisel", é extrovertida, carismática e espontânea. Midge desafia as expectativas da sociedade ao entrar no mundo do stand-up comedy, um campo igualmente dominado por homens. Sua jornada é mais pública e social, enfrentando não apenas as barreiras do gênero, mas também as convenções de classe e religião. Midge usa seu humor afiado para criticar as normas sociais, enquanto busca realizar seus sonhos de forma ousada e independente.


Temas de Empoderamento e Autodescoberta




Ambas as séries tratam da autodescoberta e do empoderamento, mas o fazem de maneiras distintas. "O Gambito da Rainha" é mais introspectivo, focando na luta interna de Beth contra seus vícios e traumas, e sua capacidade de encontrar equilíbrio e propósito através do xadrez. O empoderamento de Beth está na sua habilidade de dominar um jogo complexo e mentalmente desafiador, ganhando respeito e reconhecimento em um campo elitista e masculinizado.


Por outro lado, "A Maravilhosa Sra. Maisel" aborda o empoderamento de uma maneira mais social e extrovertida. Midge desafia as normas tradicionais de gênero e classe, usando sua inteligência e humor para criticar e subverter as expectativas da sociedade sobre o que uma mulher pode ou deve ser. A série celebra a liberdade de expressão e a capacidade de Midge de fazer o público rir, mesmo ao discutir questões sérias e pessoais.


Estilo e Tom Narrativo


"O Gambito da Rainha" adota um tom mais sombrio e dramático, com uma cinematografia estilizada que reflete a complexidade do mundo interior de Beth. A série usa o xadrez como uma metáfora para o controle, estratégia e o jogo mental da vida, com um ritmo que reflete a tensão e a intensidade do jogo.


"A Maravilhosa Sra. Maisel", em contraste, é vibrante e colorida, com diálogos rápidos e espirituosos que capturam a energia de Nova York nos anos 50 e 60. A série é mais leve e cômica, mas não menos profunda, explorando temas como identidade, independência e resistência através de uma lente humorística.


Conclusão


Embora abordem temas semelhantes de empoderamento e quebra de barreiras, "O Gambito da Rainha" e "A Maravilhosa Sra. Maisel" fazem isso através de abordagens narrativas e estilísticas distintas. Beth Harmon e Midge Maisel são duas faces de uma mesma moeda: mulheres que desafiam as expectativas e encontram seus próprios caminhos em mundos que inicialmente não as aceitam. Ambas as séries são celebrações de força feminina, mostrando que o empoderamento pode se manifestar de várias formas — seja no silêncio estratégico de um tabuleiro de xadrez ou no humor afiado de um palco de comédia.


Um último comentário, se é que ainda é possível: assista.