segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Quando eles brincam juntos

Ela está me ajudando, mamãe. Eu sou o motorista, e ela é quem vê se a pista está livre!” — Nael me explicou com a seriedade de quem comanda uma grande operação. Ele segurava o celular como se fosse um volante, enquanto Naeli, com seus olhinhos brilhantes, se inclinava à frente, como uma verdadeira copiloto.


Fiquei ali, parada na porta da sala, observando a cena. Não importa o brinquedo: carrinhos, casinha, ou até um joguinho simples no celular. Quando estão juntos, o mundo deles vira uma aventura mágica.

Naeli, com sua admiração incondicional, copia cada gesto do irmão. Se ele aponta para a frente, ela aponta também. Se ele muda de direção, ela avisa com um entusiasmo que faria inveja a qualquer GPS. Já Nael, com o coração enorme de um irmão mais velho, a inclui em cada brincadeira, como se entendesse que ela é sua parceira mais fiel.

Eles brigam, é claro — como todo irmão. Mas nessas horas, quando estão brincando, são como duas peças de um quebra-cabeça: diferentes, mas feitas para se encaixar.

E eu, a mãe babona, fico ali, babando mesmo. Porque não há nada mais bonito do que vê-los juntos, dividindo mundos que só eles compreendem. É nesse momento que o barulho da casa vira música, e os brinquedos espalhados parecem troféus de uma infância bem vivida.

No final do dia, quando tudo se acalma, sempre digo a mim mesma: a melhor parte de tudo não são os brinquedos ou as brincadeiras. É o amor. É ver como eles, tão pequenos, já entendem o que significa cuidar e compartilhar. Isso, para mim, vale mais do que qualquer brinquedo ou pista de corrida imaginária.


E, sinceramente? Não há nada no mundo que supere isso.


domingo, 29 de dezembro de 2024

Última semana: aceite, ame, e balance com a ventania

A última semana do ano é como aquele episódio bônus da série que você maratonou: ninguém sabe bem o que fazer com ela, mas é sempre cheia de potencial. A verdade? O que eu quero é simples: paz. E um pouco mais de carboidratos, porque ninguém começa dieta antes do dia 1º de janeiro.

Sobre autoaceitação, é o momento de olhar para o espelho e dizer: "Tudo bem, você fez o melhor que pôde com o que tinha. E isso já é incrível." Não precisa de filtro, não precisa de desculpa. Você é um mosaico de dias bons, dias ruins e várias tentativas que não deram certo — e isso é o suficiente.

Sobre amor próprio, é entender que ele não é um lugar onde você chega, mas um treino diário. Às vezes, vai ser um gesto simples, como colocar sua música favorita no volume máximo ou dizer não sem culpa. Outras vezes, vai ser um confronto interno para aceitar que merecemos o melhor, mesmo quando parece difícil acreditar.

E resiliência? Ah, essa é a arte de ser um bambu na ventania: dobrar, balançar, mas não quebrar. O ano foi pesado? Foi. A vida deu rasteira? Deu. Mas a gente levanta, sacode a poeira e dança no ritmo da próxima música.

Então, nesta última semana, que tal pegar leve consigo mesmo? Não é o momento de cobranças ou resoluções mirabolantes. É sobre agradecer pelo que sobreviveu, rir dos tropeços e dar um abraço mental naquela pessoa incrível que você é. Afinal, a vida é curta demais para não celebrar até mesmo as pequenas vitórias — como resistir ao panetone com frutas cristalizadas.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A troca do bubu

Espero que o Bom Velhinho não se ofenda, mas parece que ele anda fazendo negociações ousadas este ano. Minha filha, Naeli, de 2 anos e 8 meses, tem quase certeza de que o Papai Noel trocou o presente de Natal pela sua tão amada chupeta — o Bubu. E, pasmem, já se passaram mais de 24 horas sem que ela precisasse dele. Isso, minha gente, não é apenas incrível, é quase um milagre natalino.

O presente, no caso, foi uma bicicleta. Sim, uma bicicleta rosa, brilhante, cheia de promessas de aventuras. Chegou uma semana antes do Natal, porque, convenhamos, o Bom Velhinho tem uma agenda lotada. Eu expliquei a ela:

“Filha, o Papai Noel precisa se antecipar. São muitas casas, muitos presentes, e ele é organizado!”

Naeli aceitou. Porque, para uma criança de 2 anos e 8 meses, as coisas têm explicações lógicas assim.

A grande questão é que essa bicicleta não veio de graça. Há um mês já estávamos em negociações, aqueles diálogos de mãe que poderiam muito bem ser chamados de pré-acordos diplomáticos:

— O Bom Velhinho vai trazer o presente que você pediu, mas ele vai querer algo em troca, né?

— O quê? — ela me olhava desconfiada.

— O Bubu.

E, como se já soubesse do peso dessa troca, ela me encarava com o olhar de quem mede até onde vai a coragem.


O Bubu, para quem não sabe, é o fiel escudeiro dela. Na casa, ele era um apêndice, uma extensão do ser da Naeli. Mas na escola, curiosamente, a dinâmica mudava: no portão, ela me entregava o Bubu sem grandes dramas, como quem despede o melhor amigo dizendo “te vejo depois.” Eu, a mãe guardiã, colocava-o na mochila e seguíamos a vida.

Mas então veio o grande dia. A bicicleta apareceu, triunfante. E o Bubu... bem, o Bubu desapareceu. A reação foi surpreendentemente calma. Naeli deu aquela olhada para a bicicleta, para mim, e de volta para a bicicleta.

— O Bubu foi com o Papai Noel? — perguntou.

— Foi, filha. Mas olha só o que você ganhou em troca!

E lá estava ela, sobre duas rodas (com rodinhas, é claro), sem o Bubu, mas com um sorriso que só uma criança que venceu a si mesma consegue dar.

Agora já são mais de 24 horas sem o escudeiro. À noite, ela pediu o Bubu uma vez, quase por hábito. Lembrei-a do combinado, e ela, como se entendesse o peso desse momento de maturidade, virou para o lado e dormiu.

O que mais me encanta nessa história toda é a forma como eles, tão pequenos, nos ensinam sobre despedidas e recomeços. O Bubu se foi, mas deixou espaço para a coragem. E a bicicleta? Bem, essa é apenas o começo de novas aventuras — sem chupeta, mas com muito vento no rosto e independência no coração.


E, no fundo, espero que o Bom Velhinho esteja orgulhoso dessa troca, porque por aqui, a mágica do Natal aconteceu antes mesmo do dia 25.




sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Um bilhete

Quando finalmente o dia começou a desacelerar e as luzes da casa ficaram mais amenas, recebi um presente. Nael, com sua carinha arteira e sorriso tímido, me entregou um pedaço de papel amassado.

“É pra você, mamãe”, disse, antes de sair correndo para se juntar à irmã.

No papel, as letras grandes e tortas formavam duas palavras: “Te amo.” E lá estava a assinatura: Nael. Ao lado, um coração desenhado com o cuidado que só uma criança consegue ter.

Senti o cansaço do dia se dissolver ali mesmo. Um bilhete simples, mas que carregava todo o amor que transbordou daquela casa ao longo do dia. Eles não precisavam dizer mais nada. Nem eu.

As férias estão só começando, e talvez sejam cansativas. Mas, se cada dia terminar com amor tão puro, vale a pena cada segundo.

sábado, 7 de dezembro de 2024

Um sábado que não foi qualquer

 

Era um sábado morno, desses em que o tempo parece deslizar preguiçoso, mas traz pequenas surpresas. A mesa estava posta, simples, mas cheia de vida, como a nossa rotina com duas crianças pequenas exige. Nael e Naeli, meus pequenos de 4 e 2 anos, se sentaram para almoçar. Até aí, nada parecia diferente. Mas então veio o inusitado: eles comeram. Comeram com gosto. Sem distrações. Sem a bagunça habitual que nos faz suspirar e sorrir ao mesmo tempo.

Naquele dia, não houve tela ligada, nem carrinhos e bonecas escapando para debaixo da mesa. Havia apenas nós: a família, unida em volta de pratos coloridos e conversas amenas. Meu marido ajudava Naeli, equilibrando colheradas enquanto ela tentava segurar o garfo como uma grande menina. Eu ajudava Nael, ainda impressionada com sua paciência crescente. Sim, estavam crescendo. Estávamos todos.

Foi quando Nael, com seu jeito curioso e olhar iluminado, começou a falar do Natal. “Mamãe, como o Papai Noel vai passar pra deixar o presente na árvore? Ela tá tão apertada agora…”

Olhei para ele, surpresa com a lógica e o olhar atento às mudanças do mundo à sua volta. A árvore, é verdade, tinha sido deslocada para um canto mais discreto da sala, menos glamourosa do que em anos anteriores. Respondi com um sorriso:

“Ah, filho, o Papai Noel sempre encontra um jeito. Ele é esperto e sabe se adaptar, assim como a gente.”

Naeli, mesmo sem entender toda a conversa, riu. Talvez risse do irmão, talvez risse de nós, os adultos, com nossas histórias e improvisos. O pai riu junto, e ali estávamos: todos em sintonia, sem pressa, sem pressões.

Era um almoço, como tantos outros. Mas naquele momento, o tempo pareceu nos conceder uma pausa. Uma chance de enxergar o que, no meio do caos cotidiano, às vezes passa despercebido: a conexão simples e profunda que nos une.

Os pratos se esvaziaram. As crianças voltaram a correr pela casa, como deveriam, espalhando risos e energia. E eu fiquei ali por uns instantes, ainda sentada à mesa, olhando a árvore no canto da sala e pensando que, sim, Papai Noel acharia um jeito. Sempre achamos.