Não sei se foi a primeira vez. Não sei se será a última. Mas hoje, sim, eu pensei em desistir.
Comecei o dia como quase todos os outros: já no modo multitarefa sem nem perceber. Logo cedo, os afazeres da casa me chamaram, como quem acena de longe dizendo "não esqueça de mim". Lavei louça, organizei brinquedos, preparei o almoço. Cumpri o ritual de todos os dias com a cabeça já acelerada, porque depois... depois vinha ele: o estudo.
Sentei-me na cadeira desconfortável — improvisei uma almofada para tentar amenizar — e me cerquei de tudo que poderia ajudar: cadernos abertos, computador ligado, bloco de anotações ao alcance da mão.
A missão do dia parecia simples na teoria: concluir os exercícios de inglês que haviam ficado pendentes e iniciar o novo conteúdo de matemática: lógica.
Eram 10h da manhã quando me coloquei nessa batalha.
O relógio correu. Deu meio-dia, depois 15h, depois 17h... e eu ainda não tinha terminado. A lógica, que deveria fazer sentido, parecia brincar de esconde-esconde comigo, debochando das minhas tentativas de encontrar o fio da meada.
Foi quando a casa encheu de vozes. Risadas, pedidos, chorinhos, mil histórias para contar. Meus filhos chegaram da escola.
Agitados. Precisando de mim. Com fome de atenção, de colo, de escuta. E eu ali, ainda atolada entre blocos de anotações, fórmulas, conectivos lógicos e exercícios inacabados.
A cabeça latejava.
O cansaço dava nó na garganta.
O barulho parecia amplificado, como se o mundo inteiro tivesse apertado o botão do "volume máximo".
E a lógica? Ah, essa já tinha saído pela janela faz tempo.
Foi aí que veio o pensamento:
"Eu não vou conseguir. Não dá. Não sou capaz. Talvez isso não seja pra mim."
Pensei em desistir. De verdade.
Foi um momento de desespero. Um minuto em que a pressão, o medo e a exaustão pareciam muito maiores do que qualquer sonho.
Mas respirei. Respirei fundo, como quem volta do fundo de um mergulho forçado.
Olhei para eles, meus pequenos, minhas razões. Olhei para mim, exausta, sim, mas ainda de pé.
E então me lembrei:
Eu não estou aqui porque é fácil.
Eu estou aqui porque é importante.
Porque eu escolhi abrir caminho em uma nova área, mesmo aos 31 anos, mesmo com tudo acontecendo ao redor.
Porque estudar tecnologia da informação, sendo mãe, dona de casa, esposa e profissional, não é um capricho.
É resistência. É futuro.
Hoje eu pensei em desistir. Mas sabe o que é bonito?
É que eu não desisti.
Nem da lógica, nem dos sonhos, nem de mim.
Amanhã pode ser difícil de novo. Talvez depois de amanhã também.
Mas já aprendi que a coragem não é silenciosa, polida, nem perfeita.
Às vezes, coragem é isso: continuar mesmo com a cabeça latejando, o barulho ecoando e a dúvida gritando lá dentro.
É assim que a gente segue.
Torta, descabelada, atrasada — mas de pé.
Sempre de pé.
Porque no fim das contas, não é sobre entender toda a lógica.
É sobre entender a si mesma: saber que você é feita de força, de amor, e de recomeços silenciosos.
Que os dias difíceis não anulam a sua coragem — eles provam que ela existe.
E que, mesmo tropeçando entre tarefas, sonhos e responsabilidades, você continua:
uma mãe, uma estudante, uma mulher que segue.
Sempre em frente. Sempre de pé. Sempre acreditando.
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