domingo, 4 de maio de 2025

E o tempo livre da Mãe, alguém viu por aí?



Sabe aquele tempo livre? Aquele que os homens — pais, no caso — têm, às vezes, para jogar um videogame, ver uns vídeos no YouTube, tomar um café quente em silêncio, respirar fundo sem ninguém pendurado no pescoço? Pois é. A mãe não sabe o que é isso. E se soube, foi antes da maternidade.


A mãe acorda cedo. Mas cedo mesmo, do tipo que o despertador nem precisaria tocar — porque tem uma criança que já está ali puxando seu rosto, pedindo pão com manteiga e desenho. E o dia começa. Mas não só com um “bom dia”, e sim com uma lista mental de tudo que precisa ser feito: café, roupa, mochila, remédio, tarefa, cabelo, brinquedo, almoço.


E sim, é tudo por ela. Porque a mãe, essa criatura multifuncional, virou também a agenda da casa, o alarme, o Waze, o Siri, a lavadora, a nutricionista e o colo.


Depois do almoço, que ela mesma preparou, tem a louça. Claro que tem. E as crianças ali, ao redor, esperando a próxima movimentação, como se ela fosse o principal canal de entretenimento doméstico. E é.


— “Vamos brincar, mamãe?”

— “Já vai dormir?”

— “Cadê minha meia azul?”


E a mãe pensa: vou só colocar um esmalte, dar um jeitinho na unha, porque segunda-feira tá aí. Mas bastou abrir o vidrinho que a menina acorda. Com fome. De colo. De mãe. De atenção.


E o tempo livre… evaporou. Como aquele café que ela esquentou três vezes e nunca conseguiu tomar.


Não é que a mãe não queira se cuidar, estudar, respirar. É que ela simplesmente não consegue. Porque ao contrário do que romantizam por aí, não existe pausa. Não existe rodízio de funções. Existe ela.


E o pai? Bom, ele tá lá na sala. Jogando videogame. Ou vendo vídeo no YouTube. “Relaxando um pouco”, como costuma dizer. E quando ajuda em algo, vira herói da casa. Já a mãe… bem, a mãe é a casa. Todos os dias.


É sobre isso que a gente fala quando diz que o mundo é injusto.

Não porque a mãe não ama. Ela ama tanto que esquece até dela.

Mas porque ser mãe deveria vir com cláusulas de respiro, rodízio de responsabilidades, e reconhecimento de que esse amor diário, exaustivo e invisível, é trabalho também.


Então não, essa crônica não é romântica.

É só real.

Como o esmalte que secou aberto, a meia que nunca aparece, e o banho interrompido por alguém batendo na porta dizendo:



— “Mamãe, tô com fome de novo.”


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