Esses dias, entre uma prova e outra, com o barulho dos brinquedos de fundo e a panela de pressão sussurrando na cozinha, pensei: “Talvez eu só quisesse ser mãe.”
Mãe inteira, que vive a maternidade com a doçura que ela exige e o caos que ela entrega.
Mas logo a realidade veio me puxar pelo braço — ou melhor, pelo avental.
Ser mãe e empreendedora é correr atrás de prazos com criança pendurada na perna.
Ser mãe e estudante é revisar um texto acadêmico enquanto decora a coreografia da apresentação escolar.
E ser mãe de dois pequenos é dominar a arte do “corre-corte”: corta a cebola, corta o PDF, corta o cabelo do boneco, corta o tempo pra respirar.
É curioso como a sociedade romantiza o equilíbrio.
Mas quem vive esse malabarismo diário sabe: equilíbrio é mito.
O que existe é prioridade do momento.
Hoje é o trabalho, amanhã é a lição de casa, depois é a febre no meio da madrugada.
E, no fim do dia, o prêmio é o abraço suado e o “te amo, mamãe” que recarrega até a bateria da alma.
E a rede de apoio? Ah, essa é exclusiva.
Tem nome, sobrenome e um quê de super-herói: meu marido.
Ele é o único com quem posso contar para dividir as tarefas, os perrengues, os horários, e — quando dá — os suspiros de alívio.
Mas mesmo com ele, há dias em que o corpo cansa e a cabeça pesa.
Porque mãe é multitarefa até quando dorme.
E ainda assim, entre o cansaço e a culpa, há algo bonito.
Há uma mulher que não desistiu de estudar, que ousa empreender, que aprende com as quedas e se reergue mesmo sem tempo de respirar.
Porque, no fundo, ser mãe não é um papel.
É um superpoder. Um daqueles que o mundo nem sempre reconhece, mas que transforma tudo ao redor.
E se um dia alguém perguntar como damos conta de tudo…
a resposta será simples: não damos.
Mas fazemos, do nosso jeito, e isso já é extraordinário.