Hoje, recebi um abraço do qual eu estava precisando.
Talvez até o conforto e o impulso que faltavam para continuar.
Um abraço carregado de verdade, compaixão e empatia — desses que a gente sente que não vêm das palavras, mas do olhar.
Aconteceu depois de uma prova de Cálculo. Eu era uma das três últimas da sala.
O frio do ar-condicionado competia com o frio que eu sentia por dentro.
Olhei para o professor e, sem pensar muito, deixei escapar:
— Por que eu não posso só ser mãe mesmo?
Ele respondeu sem hesitar, com uma firmeza tranquila:
— Porque você não precisa ser só isso.
E completou:
— Esse questionamento é a sociedade que lhe impõe.
Fiquei em silêncio.
Aquela frase ecoou em mim como quem acende uma luz em um cômodo esquecido.
Porque, sim, eu sou mãe.
Mas também sou mulher, estudante, profissional, sonhadora — e às vezes, tudo isso ao mesmo tempo.
E é nessa sobreposição de papéis que mora o peso e a beleza de existir sendo mulher.
Eu me cobro demais.
Cobro-me em casa, com os filhos, nas tarefas, nos estudos, nas obrigações.
Cobro-me porque me ensinaram que para ser boa eu precisava dar conta — e dar conta sozinha.
Mas não, a gente não precisa.
Ser mulher é viver entre a exaustão e a potência.
É equilibrar o amor e a culpa, o sonho e o medo, o querer e o permitir-se.
E no meio disso tudo, aprender que não há nada de errado em parar, respirar, pedir colo — ou se orgulhar de ser quem se tornou.
O abraço que recebi não foi apenas um gesto de empatia.
Foi um lembrete de que o “só” é uma armadilha.
A mulher não precisa ser só mãe, só profissional, só esposa.
Ela pode ser o que quiser — e tudo o que quiser.
Porque o “só” nunca coube em nós.
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