quarta-feira, 29 de outubro de 2025

O espelho e a esponja

 

Enquanto minha pequena de três anos comemora cada palavrinha falada com perfeição — como quem descobre um superpoder —, o meu pequeno de cinco vibra com o terceiro dentinho que caiu.

E lá estamos nós, mais uma vez, comemorando juntos, como se o mundo se renovasse a cada conquista.


É que na maternidade, cada dia é uma estreia.

Um dente que cai, uma frase que sai certa, um “mamãe, eu consegui!”.

A casa vira palco, plateia e cameraman — tudo ao mesmo tempo.

E eu? Eu sou o público emocionado e o bastidor bagunçado.


Naeli, minha doce imitadora, segue o irmão em tudo.

Se ele escova os dentes, ela escova.

Se ele corre, ela voa.

Se ele fala “por que chove?”, ela pergunta “por que sol?”.

É fascinante e, confesso, um pouco assustador perceber o quanto eles absorvem — palavra, gesto, humor, tudo.

Eles são esponjas.

Mas nós, pais, somos o espelho.


E aí mora o desafio.

Porque entre a pressa do dia, o trabalho, os estudos e o cansaço, a gente precisa lembrar que alguém nos observa com olhos que ainda acreditam que somos super-heróis.

Eles não enxergam nossas falhas — só o amor que colocamos em cada gesto.


Ser mãe é viver em constante tentativa de acertar.

É ser o manual e o improviso, o colo e a bagunça, o exemplo e o aprendizado.

E é, sobretudo, entender que criar filhos é construir o futuro com palavras simples e abraços demorados.


Talvez eu não saiba responder todas as perguntas do meu filho.

Talvez eu tropece nas minhas próprias respostas.

Mas se ele ainda acredita que eu sei de tudo, é porque, de algum modo, estou acertando.


A maternidade é isso: o caos mais bonito que já me aconteceu.



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