sábado, 30 de agosto de 2025

Crônica dos 32

Faço 32.

E talvez eu tenha descoberto a vida só agora. É curioso, porque até então eu achava que estava vivendo — mas não, eu apenas cumpria etapas, riscava listas, atravessava dias. Quem me ensinou o que é viver de verdade foram eles: meus filhos. Foram os olhos deles que me mostraram que a vida também tem cheiro de bolo quente, tem cor de pôr do sol e tem a leveza de uma gargalhada que escapa sem pedir licença.


Com eles eu aprendi que viver não é suportar. Viver é sentir. É se permitir. É sonhar de novo.

E por eles eu sou capaz de tudo. Até de recomeçar os sonhos que eu tinha deixado esquecidos num canto da gaveta.


Hoje, aos 32, eu me permito escrever em voz alta aquilo que pulsa dentro de mim:

EU QUERO PROVAR AS PARTES MAIS GOSTOSAS DESSA VIDA POIS É A MINHA PRIMEIRA VEZ VIVENDO ELA. EU MEREÇO TANTO E, APESAR DE TER ESSE FRIO NA BARRIGA COM O ENVELHECER, EU NÃO QUERO OLHAR PARA TRÁS EM VINTE ANOS E ME ARREPENDER DE NÃO TER VIVIDO A VIDA QUE EU SEMPRE QUIS E SONHEI VIVER.


Sim, eu tenho medo. Mas o medo só confirma que estou no caminho certo: o da coragem.

Porque coragem é isso — andar com frio na barriga, mas andar.


Aos 32, eu não quero prometer perfeição, só quero prometer presença. Quero estar inteira nos abraços, nas conversas, nos encontros, nas danças improvisadas da sala. Quero me rir mais. Quero dizer mais “sim” para o que me aquece e mais “não” para o que me apaga.


Esse é o presente que me dou: a permissão de viver a vida com doçura.

E que venham os próximos anos. Porque agora, sim, eu estou aqui de verdade.



terça-feira, 26 de agosto de 2025

Crônica – Forte e Corajosa


“Seja forte e corajosa.”

Essa frase sempre ecoou em mim como um lembrete. Não daqueles escritos em post-it colorido na parede, mas como um chamado silencioso que me acompanha nas decisões mais difíceis da vida.


Lembro quando comecei a pensar em ter filhos. Ouvia que eu não aguentaria. Como se a dor do parto fosse um obstáculo intransponível, quase uma sentença de fraqueza. Mas eu já sabia que dor nenhuma me define, e quando a maternidade chegou, encarei com coragem o que diziam ser impossível.

Foi só depois, já com meus dois pequenos de 4 e 2 anos, que a vida me apresentou outro desafio: a doença da coluna. E ali, a dor ganhou um peso diferente — não era só minha. Era a dor de precisar recusar o colo que eles pediam, de não poder correr atrás, brincar como antes. Era a dor de olhar para eles e dizer “não posso” quando tudo em mim queria dizer “vem”. Vieram meses de fisioterapia, remédios, procedimentos, noites sem dormir. Até que chegou a cirurgia — e com ela, o processo lento, exigente, mas libertador da cura.

Por isso, quando alguém dizia que eu não aguentaria certas dores, eu sorria por dentro. Porque quem já passou pela maternidade e depois enfrentou uma cirurgia de coluna com duas crianças pequenas pedindo por você… sabe que pode enfrentar o que vier.

Depois, veio a outra grande escolha: pausar a carreira para estudar algo novo. Quantos me disseram que era arriscado, imprudente até. Mas quem disse que coragem é ausência de risco? Coragem é justamente isso: dar o passo no escuro porque se confia que lá na frente haverá luz. E, se não houver, a gente acende uma vela.

Não falo de oportunidades fáceis, de portas que se abrem sozinhas. Eu sei — com todas as letras — que elas não caem do céu. Oportunidade é degrau. É subida lenta, cheia de tropeços. É escada que parece não ter fim. E é no suor das mãos, no fôlego que falta e nos “não” que se recebe, que se constrói a chance de seguir.

Hoje, ao olhar para trás, vejo que não foi a dor que me definiu, mas a coragem de enfrentá-la. Não foram as pausas que me enfraqueceram, mas a ousadia de recomeçar.

E, se há algo que eu aprendi, é que ser forte não é nunca vacilar — é continuar mesmo quando se vacila. Ser corajosa não é nunca ter medo — é andar com ele no bolso e não deixá-lo ditar os passos.


Por isso, sigo repetindo para mim mesma, como um mantra:

seja forte e corajosa.

Porque é assim que a vida vale a pena ser vivida.


domingo, 10 de agosto de 2025

Crônica – O que aprendi com meu pai


Hoje é Dia dos Pais.

E, mais do que um presente ou uma data no calendário, é um daqueles dias em que a gente percebe o quanto as lembranças carregam peso e leveza ao mesmo tempo.

O que eu aprendi com meu pai não cabe em um presente, nem em um discurso pronto. São ensinamentos que vieram aos poucos, misturados com o jeito dele de viver — às vezes silencioso, às vezes firme, às vezes com aquele humor meio disfarçado que só quem conhece entende.

Aprendi que responsabilidade não é peso, é compromisso. Que palavra dada vale mais do que qualquer papel assinado. Que respeito se conquista no dia a dia, e não na força. Que cuidar dos outros é tão importante quanto cuidar de si.


Nos dias bons, ele me mostrou que alegria mora nas coisas simples: um almoço em família, uma conversa na varanda, um conselho dado no momento certo. Nos dias difíceis, me ensinou que a vida exige coragem — e que nem sempre precisamos falar muito para sermos presença.

Meu pai não me ensinou só a andar, mas a caminhar com propósito. Não me mostrou só o que é certo ou errado, mas como encontrar meu próprio caminho sem esquecer de onde eu vim.

Hoje, como adulta, percebo que muito do que sou nasceu da paciência, da firmeza e do amor silencioso dele. E se um dia eu for capaz de transmitir aos meus filhos metade do que aprendi com ele, já vou me considerar vitoriosa.


Feliz Dia dos Pais, pai.

O senhor é, e sempre será, minha maior referência de força, honestidade e amor que não precisa de palavras para ser sentido. 


terça-feira, 5 de agosto de 2025

Treinar é preciso, gostar é lucro

Olha, eu confesso: eu era daquelas que só entrava na academia por obrigação médica. Não por estética, não por vaidade, não por endorfina — por COLUNA mesmo. Hérnia de disco, dor lombar, fisioterapeuta no cangote e uma receitinha de “musculação leve” que eu, honestamente, achava que fosse código pra “vá passar vergonha com os pesos de 2kg”.


E eu fui. Meio arrastada, meio indignada. Já na matrícula, disseram: “Vamos te deixar nova!”. Eu só pensei: “Nova? Nova eu era antes de parir dois filhos, antes de carregar mochilas, crianças e o peso da existência!”. Mas fui.


Aí vieram os treinos... e o ódio de cada agachamento. O instrutor todo empolgado: “Bora ativar esse glúteo!”. E eu só queria ativar o botão de sair correndo. Mas não podia — a coluna, lembra? Eu era a mulher do “pela saúde”.


Só que algo mudou.

Aos poucos, descobri o poder de um pré-treino, gente. Aquele pozinho que te deixa elétrica, com vontade de limpar a casa, treinar e fazer TCC tudo na mesma tarde. Descobri o magnésio, que me deu sono. Descobri a melatonina, que me deu sonhos. Descobri que, com a suplementação certa, eu podia virar a versão da Beyoncé de mim mesma, mesmo que só dentro da academia.


Agora? Agora eu gosto do treino.

Não sou marombeira, mas fico chateada se não sinto dor muscular no dia seguinte. É tipo: “Ué, não vai doer o glúteo? Não fiz direito então!”. Já estou naquela fase que olha o próprio bíceps e diz “olha, está surgindo hein?”. E nem ligo se ninguém vê, eu vejo, e isso basta.


Hoje, sou mãe de dois, passei dos 30, e olha... o tempo não é mais meu aliado. Então separei um pedaço dele pra mim. Pro meu corpo. Pro meu humor. Porque, além da coluna, quem agradece é minha sanidade.


E se alguém me perguntar “você treina por quê?”, já aviso:

“Comecei pela dor. Fiquei pelo drama. Continuei pelo prazer de ver minha nova versão — suada, cansada, mas feliz.” 

E que venha o próximo treino.

Com pré-treino, playlist empolgante e, claro, aquela pose no espelho que ninguém precisa ver, mas eu? Eu aplaudo!


sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Quando as palavras não têm mais toque

O amor não termina gritando. Nem quebrando porta. Nem com alguém saindo de mala na mão e drama no corredor.


O amor termina no silêncio.


Termina quando as palavras ainda existem — mas perderam o tato.

Já não tocam, não arrepiam, não fazem falta quando não vêm.


O amor acaba assim, meio sem aviso.

De repente o “bom dia” vira rotina, o “cheguei” não importa.

E o “te amo”? Ah, esse vira concessão.

Vira vírgula entre tarefas, protocolo, vício de quem não quer encarar o vácuo de um “nada mais a dizer”.


Porque o amor, de verdade, precisa de corpo nas palavras.

Precisa de mãos que falem. De olhos que escutem.

De frases que encostem como abraço.

O amor não sobrevive só de som. Tem que ter pele, cheiro, riso entre as linhas.


E quando a gente começa a responder no automático, quando um “tá” já substitui um “tô aqui contigo”,

quando a mensagem é só mensagem e não mais presença,

é porque o amor…

foi embora e esqueceu de fechar a porta.

O amor não morre de repente.

Ele morre aos poucos, sem alarde.

Morre de tédio, de ausência, de toque que não vem,

de palavras que não sabem mais tocar.


E aí, não adianta gritar.

Porque já não tem ninguém pra escutar.