“Seja forte e corajosa.”
Essa frase sempre ecoou em mim como um lembrete. Não daqueles escritos em post-it colorido na parede, mas como um chamado silencioso que me acompanha nas decisões mais difíceis da vida.
Lembro quando comecei a pensar em ter filhos. Ouvia que eu não aguentaria. Como se a dor do parto fosse um obstáculo intransponível, quase uma sentença de fraqueza. Mas eu já sabia que dor nenhuma me define, e quando a maternidade chegou, encarei com coragem o que diziam ser impossível.
Foi só depois, já com meus dois pequenos de 4 e 2 anos, que a vida me apresentou outro desafio: a doença da coluna. E ali, a dor ganhou um peso diferente — não era só minha. Era a dor de precisar recusar o colo que eles pediam, de não poder correr atrás, brincar como antes. Era a dor de olhar para eles e dizer “não posso” quando tudo em mim queria dizer “vem”. Vieram meses de fisioterapia, remédios, procedimentos, noites sem dormir. Até que chegou a cirurgia — e com ela, o processo lento, exigente, mas libertador da cura.
Por isso, quando alguém dizia que eu não aguentaria certas dores, eu sorria por dentro. Porque quem já passou pela maternidade e depois enfrentou uma cirurgia de coluna com duas crianças pequenas pedindo por você… sabe que pode enfrentar o que vier.
Depois, veio a outra grande escolha: pausar a carreira para estudar algo novo. Quantos me disseram que era arriscado, imprudente até. Mas quem disse que coragem é ausência de risco? Coragem é justamente isso: dar o passo no escuro porque se confia que lá na frente haverá luz. E, se não houver, a gente acende uma vela.
Não falo de oportunidades fáceis, de portas que se abrem sozinhas. Eu sei — com todas as letras — que elas não caem do céu. Oportunidade é degrau. É subida lenta, cheia de tropeços. É escada que parece não ter fim. E é no suor das mãos, no fôlego que falta e nos “não” que se recebe, que se constrói a chance de seguir.
Hoje, ao olhar para trás, vejo que não foi a dor que me definiu, mas a coragem de enfrentá-la. Não foram as pausas que me enfraqueceram, mas a ousadia de recomeçar.
E, se há algo que eu aprendi, é que ser forte não é nunca vacilar — é continuar mesmo quando se vacila. Ser corajosa não é nunca ter medo — é andar com ele no bolso e não deixá-lo ditar os passos.
Por isso, sigo repetindo para mim mesma, como um mantra:
seja forte e corajosa.
Porque é assim que a vida vale a pena ser vivida.
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