quinta-feira, 29 de maio de 2025

Pequeno Samurai e a mãe multitarefa

 

Nael voltou pro karatê! Quase sete meses longe e ele lembrou de tudo. Tudo. Eu mal lembro onde deixei minha chave ontem, mas ele? Tá lá fazendo o “oiááá!” com a concentração de um mestre japonês reencarnado em um menino de 5 anos com 1 metro e pouquinho.


E o mais bonito? A cada movimento, ele olha pra mim. Não pro sensei. Pra mim.

Como quem diz: “Mãe, tá vendo? Foca em mim, não pisca!”

E lá estou eu: sentada na arquibancada da quadra, com a garrafa de água na mão, tentando manter o foco enquanto a irmã mais nova o admira... e ao mesmo tempo explora cada canto daquela quadra como se fosse um parque temático particular.


Ele é lindo. Um guerreiro de faixa azul que não se compara a ninguém. Só segue, no ritmo dele.



Agora, em casa... ah, em casa ele acha que os gnomos lavam a louça, dobram a roupa, fazem o jantar.

Porque a “mãezinha” — assim, nesse diminutivo que derrete o coração — precisa brincar, montar Lego, desenhar, virar o Sonic, ser vilã e depois virar enfermeira do boneco tudo em 20 minutos.


E você pensa: “Ué, cadê a infância que dizem que passa rápido?”

Passa, sim.

Mas antes ela te puxa pelo braço, pede mais um suquinho, grita do banheiro, derruba um brinquedo e diz:

— “Mamãe, olha pra mim!”


E eu olho. Porque o tempo dele com os olhos em mim… vai virar memória no meu peito.

Então, mesmo exausta, eu sigo.

Na arquibancada, no tatame da vida, na cozinha, no chão da sala...

Sigo com ele. Meu pequeno guerreiro. Meu orgulho azul.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

“Você é meu suficiente, mamãe.”



Tem três semanas que tento escrever sobre isso.

Abro o caderno, encaro a tela… mas as palavras escapam. Talvez porque ainda estejam presas no nó que se formou no meu peito naquele dia.


Meu filho de 5 anos não quis ficar na escola. Era o segundo episódio da semana. Tentei conversar, argumentar, oferecer segurança. Insisti com carinho, e ele ficou. Mas meu coração ficou inquieto.


No fim do dia, fomos juntos pra casa, e perguntei o que estava acontecendo. Queria entender a causa, o medo, a tristeza por trás daquela resistência. E então ele respondeu, com a doçura e a verdade crua que só uma criança é capaz:


— “É porque você é meu suficiente, mamãe.”


Eu congelei.

Fiquei sem chão.

Um milhão de coisas passaram pela minha cabeça — mas nenhuma tão forte quanto aquela frase.


A gente passa a vida tentando ser suficiente. No trabalho, em casa, na vida. E quando se é mãe, o “ser suficiente” vira meta, cobrança, culpa.

E ele, tão pequeno, me disse que já sou.

Sem esforço. Sem teste. Sem currículo.


Sou o suficiente pra ele.

Sou o lugar seguro. O colo que ele quer. A presença que basta.


Me emocionei. E naquele momento, olhei nos olhos dele e disse:

— “Sempre que sentir saudade, coloca a mão no peito… a mamãe está aqui fazendo tum tum. Tá vendo? É meu coração batendo por você.”


Ele sorriu. E eu sorri também, com o peito apertado e cheio.


Foi bonito. Foi duro também.

Porque ser o suficiente pra alguém é lindo, mas também é um lembrete:

de que eles precisam da gente. De verdade.


E que às vezes, mesmo com toda a rotina, toda a correria, tudo que temos pra fazer, o que eles querem é só isso — a gente. Inteira.


Não sei se algum texto faria jus àquele momento.

Talvez nenhum consiga traduzir exatamente o que senti.

Mas agora, escrevendo, percebo:

essa frase vai morar em mim pra sempre.


"Você é meu suficiente, mamãe."

E eu sou.

Mesmo cansada. Mesmo em dúvida. Mesmo

 aprendendo.

Sou.

E isso… é tudo.


segunda-feira, 19 de maio de 2025

Quando você deixa de ser prioridade

 Às vezes, a gente se engana bonito.

Acredita que tudo é mais urgente do que a gente mesma.

A louça, o trabalho, o prazo, os filhos, a roupa pra guardar, o almoço, a agenda.

Tudo ganha espaço — menos você.

E aí, quando se dá conta, passaram-se dias… semanas.

E você está ali, se arrastando entre compromissos, tentando se encaixar nos vãos dos outros.

Foi assim comigo.

Já são quase duas semanas sem me exercitar. Sem aquele momento só meu.

Sem a pausa que me conecta ao corpo, ao fôlego, à força que eu sei que mora em mim.


Treinar, pra mim, não é só sobre movimento.

É onde me escuto.

Onde penso com clareza, mesmo suando.

Onde percebo que, mesmo cansada, ainda posso ir além.

É onde me lembro quem eu sou fora de todas as funções que desempenho.


E nesses dias em que faltei a mim, percebi: quando a gente se deixa por último, o mundo parece mais pesado.

Porque ele é mesmo.

Carregar tudo sem se carregar é insustentável.


Então, se você também tem se deixado pra depois, respira. Não é egoísmo se priorizar.

Não é luxo tirar um tempo pra você. É necessidade.

Voltar pra si é o primeiro passo pra continuar.Seu corpo sente falta de você. Sua mente também.

Mesmo que hoje você só consiga cinco minutos… comece.

Você não precisa estar no seu melhor pra recomeçar. Mas precisa recomeçar pra reencontrar o seu melhor.


domingo, 18 de maio de 2025

Crônica de uma semana (com dente, milho e princesa)


Essa semana foi intensa. Daquelas que a gente nem sabe por onde começar a contar. Talvez por isso eu tenha escrito pouco — não por falta de vontade, mas porque estava simplesmente vivendo tudo ao mesmo tempo: maternidade, estudo, tarefas, improvisos e momentos dignos de roteiro de comédia (ou de sobrevivência).

Teve dente. Dois, pra ser exata.

Meu filho arrancou um pela manhã ao tentar abrir um canudinho de suquinho com os dentes — e olha que o dente já estava ali, só esperando uma desculpa pra cair.  À noite, o segundo se despediu durante o jantar, enquanto ele mordia um pedaço de milho. Porque, claro, se é pra cair, que seja com estilo.


Teve prova também. Uma daquelas que a gente se prepara, estuda, tenta organizar a cabeça no meio do caos, e mesmo assim sai com a sensação de que faltou algo. Me dediquei. Me esforcei. Mas não sei se fui bem.


Entre uma coisa e outra, teve também o desfile diário da minha filha de 3 anos — que agora recusa-se a vestir a farda da escola.

Todos os dias, ela precisa escolher a própria roupa.

Todos os dias, ela é uma princesa.

E, portanto, vestido é item obrigatório.

Negociar com uma criança de três anos que acredita que vai ao castelo e não à escola é um talento que ainda estou desenvolvendo.


E aí, você respira fundo, olha em volta e percebe:

Sim, tá tudo uma bagunça.

Sim, não dei conta de tudo.

Mas estou aqui.


Foi uma semana de entrega, tropeços, risadas e pequenas vitórias escondidas em meio à correria.


E mesmo sem ter tido tempo pra escrever tudo que senti, vivi cada coisa com o coração inteiro.


Porque tem semanas assim: a gente não produz texto, mas escreve capítulos com a vida real.

Cheios de dente, milho, princesas… e força.


E que bom que a gente continua. Mesmo cansada. Mesmo sem glamour. Mas firme.

Porque o mais bonito dessa história toda é isso: a gente não para. A gente segue.


domingo, 4 de maio de 2025

E o tempo livre da Mãe, alguém viu por aí?



Sabe aquele tempo livre? Aquele que os homens — pais, no caso — têm, às vezes, para jogar um videogame, ver uns vídeos no YouTube, tomar um café quente em silêncio, respirar fundo sem ninguém pendurado no pescoço? Pois é. A mãe não sabe o que é isso. E se soube, foi antes da maternidade.


A mãe acorda cedo. Mas cedo mesmo, do tipo que o despertador nem precisaria tocar — porque tem uma criança que já está ali puxando seu rosto, pedindo pão com manteiga e desenho. E o dia começa. Mas não só com um “bom dia”, e sim com uma lista mental de tudo que precisa ser feito: café, roupa, mochila, remédio, tarefa, cabelo, brinquedo, almoço.


E sim, é tudo por ela. Porque a mãe, essa criatura multifuncional, virou também a agenda da casa, o alarme, o Waze, o Siri, a lavadora, a nutricionista e o colo.


Depois do almoço, que ela mesma preparou, tem a louça. Claro que tem. E as crianças ali, ao redor, esperando a próxima movimentação, como se ela fosse o principal canal de entretenimento doméstico. E é.


— “Vamos brincar, mamãe?”

— “Já vai dormir?”

— “Cadê minha meia azul?”


E a mãe pensa: vou só colocar um esmalte, dar um jeitinho na unha, porque segunda-feira tá aí. Mas bastou abrir o vidrinho que a menina acorda. Com fome. De colo. De mãe. De atenção.


E o tempo livre… evaporou. Como aquele café que ela esquentou três vezes e nunca conseguiu tomar.


Não é que a mãe não queira se cuidar, estudar, respirar. É que ela simplesmente não consegue. Porque ao contrário do que romantizam por aí, não existe pausa. Não existe rodízio de funções. Existe ela.


E o pai? Bom, ele tá lá na sala. Jogando videogame. Ou vendo vídeo no YouTube. “Relaxando um pouco”, como costuma dizer. E quando ajuda em algo, vira herói da casa. Já a mãe… bem, a mãe é a casa. Todos os dias.


É sobre isso que a gente fala quando diz que o mundo é injusto.

Não porque a mãe não ama. Ela ama tanto que esquece até dela.

Mas porque ser mãe deveria vir com cláusulas de respiro, rodízio de responsabilidades, e reconhecimento de que esse amor diário, exaustivo e invisível, é trabalho também.


Então não, essa crônica não é romântica.

É só real.

Como o esmalte que secou aberto, a meia que nunca aparece, e o banho interrompido por alguém batendo na porta dizendo:



— “Mamãe, tô com fome de novo.”