terça-feira, 24 de junho de 2025

Juliana, o silêncio e o abismo

Juliana queria ver o mundo de cima.

Fez como tantos fazem: arrumou a mochila, pesquisou trilhas, escolheu um vulcão, daqueles com nome bonito e paisagens cinematográficas. O Monte Rinjani, na Indonésia, é um destino disputado por aventureiros — e foi lá que ela sonhou estar.

Não há nada de estranho nisso. O desejo de ver o nascer do sol do alto, de se sentir pequena diante da natureza gigante, de registrar uma experiência que não cabe em palavras. Isso é humano. Isso é vida.

Mas a vida de Juliana não pôde continuar.
Porque a caminhada foi longa, o cansaço foi real, e o guia — pago para acompanhá-la — a deixou para trás.
Ali, sozinha, exausta, ela caiu.
Não caiu apenas do penhasco.
Caiu num vácuo de responsabilidades.

Quatro dias.
Quatro dias para que dissessem que o corpo estava ali.
Quatro dias para a família implorar por respostas, ser enganada com informações falsas e viver a tortura do talvez.
Quatro dias que pareceram uma eternidade em cima de uma montanha onde ninguém deveria estar só.

A essa altura, a história já é notícia.
Matérias vêm e vão.
Nomes, idades, mapas, notas da Embaixada, falas genéricas sobre "esforços conjuntos".

Mas a gente sabe — no fundo sabe — que tudo poderia ter sido diferente.

Se o guia tivesse parado.
Se houvesse sistema de rastreio.
Se o Brasil tivesse agido mais rápido.
Se a empatia fosse política oficial.

A história de Juliana escancara tudo aquilo que fingimos não ver:
Que o turismo de aventura virou uma indústria lucrativa demais para se importar com segurança.
Que o socorro vem sempre tarde quando o problema está longe dos centros ou das prioridades diplomáticas.
E que a dor, quando não é nossa, ainda é tratada como detalhe.

Ela não queria morrer.
Ela queria viver intensamente.
E por isso, talvez, não seja o caso de culpar o sonho — mas sim, de exigir que sonhar não custe a vida.

Juliana não é só mais uma vítima.
Ela é o nome que grita para além das pedras e da cratera.
Ela é o eco que não pode se perder.

Para que outras mulheres, jovens, viajantes, mães e filhas possam voar, subir montanhas e voltar.
Com histórias, com fotos, com a alma leve — não com seus nomes gravados em lápides distantes.

Juliana queria ver o mundo de cima.
E o que ela nos deixou foi um alerta:
Não há beleza no mundo que compense o abandono.

Um comentário:

Anônimo disse...

Triste demais! 🥺🥺