terça-feira, 10 de junho de 2025

Mesa para uma (e um mundo inteiro dentro)

 


Não lembro exatamente a última vez que saí sozinha. Sozinha de verdade.

Sem filhos pedindo suco.

Sem o companheiro puxando conversa sobre algo do dia.

Sem bolsa extra com brinquedo ou lanche.


Hoje eu saí.

Depois da aula, resolvi almoçar fora.

E não com alguém. Comigo.


Sentei. Escolhi a mesa. Peguei o cardápio como quem pega um espelho.

E veio aquele pensamento automático, repetido, como um mantra de autoajuda que a gente tenta acreditar:

"Aprecie a si mesma. A sua companhia. Você merece."


E eu tentei. De verdade.

Mas pra minha surpresa, foi até rápido escolher: pedi entrada, prato, sobremesa e suco de limão — o meu favorito.

Sem precisar dividir, consultar, adaptar. Era tudo pra mim.

E era exatamente o que eu queria.


A comida chegou, e junto com ela… o silêncio.

Não o silêncio de paz plena.

Mas aquele silêncio estranho, de quem está tentando lembrar como era mesmo estar só.

Sozinha com os próprios pensamentos, com o som dos talheres, com a liberdade de comer devagar.


E, aos poucos, fui lembrando.

Que sou boa companhia.

Que sei observar o mundo à minha volta sem narrar tudo em voz alta.

Que existe beleza em ouvir minha própria respiração entre uma garfada e outra.


Foi leve.

Meio esquisito no início.

Mas leve.


Comi com calma.

Saboreei cada parte.

E deixei o suco de limão, azedinho e fresco, me lembrar de que eu também gosto das coisas simples, daquelas que fazem sentido só pra mim.


E eu saí dali com uma certeza suave:

que às vezes a gente precisa mesmo reservar uma mesa pra uma.

Porque é nessa solidão voluntária que a gente se reencontra.

E percebe que, mesmo rodeada de amores,

a nossa própria presença também faz falta.


Não porque eu precise fugir da maternidade, do casamento, da rotina.

Mas porque, se eu não me buscar de vez em quando, posso me perder sem perceber.


Então hoje, naquela mesa de canto, com o garçom perguntando se estava tudo bem e eu respondendo “tá ótimo” com um sorriso sincero, eu celebrei um tipo diferente de presença: a minha.


E fiz um trato comigo mesma.

De sair mais vezes sem motivo especial.

De sentar sem pressa, andar sem destino, almoçar sem multitarefa.

De lembrar que, além de mãe, esposa, profissional…

Eu sou uma mulher.

Inteira.

Com gostos, pausas e pensamentos que valem ser vividos sozinha, de vez em quando.


Porque às vezes, ser sua melhor companhia é o reencontro mais necessário que existe.

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