segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Quando eles brincam juntos

Ela está me ajudando, mamãe. Eu sou o motorista, e ela é quem vê se a pista está livre!” — Nael me explicou com a seriedade de quem comanda uma grande operação. Ele segurava o celular como se fosse um volante, enquanto Naeli, com seus olhinhos brilhantes, se inclinava à frente, como uma verdadeira copiloto.


Fiquei ali, parada na porta da sala, observando a cena. Não importa o brinquedo: carrinhos, casinha, ou até um joguinho simples no celular. Quando estão juntos, o mundo deles vira uma aventura mágica.

Naeli, com sua admiração incondicional, copia cada gesto do irmão. Se ele aponta para a frente, ela aponta também. Se ele muda de direção, ela avisa com um entusiasmo que faria inveja a qualquer GPS. Já Nael, com o coração enorme de um irmão mais velho, a inclui em cada brincadeira, como se entendesse que ela é sua parceira mais fiel.

Eles brigam, é claro — como todo irmão. Mas nessas horas, quando estão brincando, são como duas peças de um quebra-cabeça: diferentes, mas feitas para se encaixar.

E eu, a mãe babona, fico ali, babando mesmo. Porque não há nada mais bonito do que vê-los juntos, dividindo mundos que só eles compreendem. É nesse momento que o barulho da casa vira música, e os brinquedos espalhados parecem troféus de uma infância bem vivida.

No final do dia, quando tudo se acalma, sempre digo a mim mesma: a melhor parte de tudo não são os brinquedos ou as brincadeiras. É o amor. É ver como eles, tão pequenos, já entendem o que significa cuidar e compartilhar. Isso, para mim, vale mais do que qualquer brinquedo ou pista de corrida imaginária.


E, sinceramente? Não há nada no mundo que supere isso.


domingo, 29 de dezembro de 2024

Última semana: aceite, ame, e balance com a ventania

A última semana do ano é como aquele episódio bônus da série que você maratonou: ninguém sabe bem o que fazer com ela, mas é sempre cheia de potencial. A verdade? O que eu quero é simples: paz. E um pouco mais de carboidratos, porque ninguém começa dieta antes do dia 1º de janeiro.

Sobre autoaceitação, é o momento de olhar para o espelho e dizer: "Tudo bem, você fez o melhor que pôde com o que tinha. E isso já é incrível." Não precisa de filtro, não precisa de desculpa. Você é um mosaico de dias bons, dias ruins e várias tentativas que não deram certo — e isso é o suficiente.

Sobre amor próprio, é entender que ele não é um lugar onde você chega, mas um treino diário. Às vezes, vai ser um gesto simples, como colocar sua música favorita no volume máximo ou dizer não sem culpa. Outras vezes, vai ser um confronto interno para aceitar que merecemos o melhor, mesmo quando parece difícil acreditar.

E resiliência? Ah, essa é a arte de ser um bambu na ventania: dobrar, balançar, mas não quebrar. O ano foi pesado? Foi. A vida deu rasteira? Deu. Mas a gente levanta, sacode a poeira e dança no ritmo da próxima música.

Então, nesta última semana, que tal pegar leve consigo mesmo? Não é o momento de cobranças ou resoluções mirabolantes. É sobre agradecer pelo que sobreviveu, rir dos tropeços e dar um abraço mental naquela pessoa incrível que você é. Afinal, a vida é curta demais para não celebrar até mesmo as pequenas vitórias — como resistir ao panetone com frutas cristalizadas.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

A troca do bubu

Espero que o Bom Velhinho não se ofenda, mas parece que ele anda fazendo negociações ousadas este ano. Minha filha, Naeli, de 2 anos e 8 meses, tem quase certeza de que o Papai Noel trocou o presente de Natal pela sua tão amada chupeta — o Bubu. E, pasmem, já se passaram mais de 24 horas sem que ela precisasse dele. Isso, minha gente, não é apenas incrível, é quase um milagre natalino.

O presente, no caso, foi uma bicicleta. Sim, uma bicicleta rosa, brilhante, cheia de promessas de aventuras. Chegou uma semana antes do Natal, porque, convenhamos, o Bom Velhinho tem uma agenda lotada. Eu expliquei a ela:

“Filha, o Papai Noel precisa se antecipar. São muitas casas, muitos presentes, e ele é organizado!”

Naeli aceitou. Porque, para uma criança de 2 anos e 8 meses, as coisas têm explicações lógicas assim.

A grande questão é que essa bicicleta não veio de graça. Há um mês já estávamos em negociações, aqueles diálogos de mãe que poderiam muito bem ser chamados de pré-acordos diplomáticos:

— O Bom Velhinho vai trazer o presente que você pediu, mas ele vai querer algo em troca, né?

— O quê? — ela me olhava desconfiada.

— O Bubu.

E, como se já soubesse do peso dessa troca, ela me encarava com o olhar de quem mede até onde vai a coragem.


O Bubu, para quem não sabe, é o fiel escudeiro dela. Na casa, ele era um apêndice, uma extensão do ser da Naeli. Mas na escola, curiosamente, a dinâmica mudava: no portão, ela me entregava o Bubu sem grandes dramas, como quem despede o melhor amigo dizendo “te vejo depois.” Eu, a mãe guardiã, colocava-o na mochila e seguíamos a vida.

Mas então veio o grande dia. A bicicleta apareceu, triunfante. E o Bubu... bem, o Bubu desapareceu. A reação foi surpreendentemente calma. Naeli deu aquela olhada para a bicicleta, para mim, e de volta para a bicicleta.

— O Bubu foi com o Papai Noel? — perguntou.

— Foi, filha. Mas olha só o que você ganhou em troca!

E lá estava ela, sobre duas rodas (com rodinhas, é claro), sem o Bubu, mas com um sorriso que só uma criança que venceu a si mesma consegue dar.

Agora já são mais de 24 horas sem o escudeiro. À noite, ela pediu o Bubu uma vez, quase por hábito. Lembrei-a do combinado, e ela, como se entendesse o peso desse momento de maturidade, virou para o lado e dormiu.

O que mais me encanta nessa história toda é a forma como eles, tão pequenos, nos ensinam sobre despedidas e recomeços. O Bubu se foi, mas deixou espaço para a coragem. E a bicicleta? Bem, essa é apenas o começo de novas aventuras — sem chupeta, mas com muito vento no rosto e independência no coração.


E, no fundo, espero que o Bom Velhinho esteja orgulhoso dessa troca, porque por aqui, a mágica do Natal aconteceu antes mesmo do dia 25.




sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Um bilhete

Quando finalmente o dia começou a desacelerar e as luzes da casa ficaram mais amenas, recebi um presente. Nael, com sua carinha arteira e sorriso tímido, me entregou um pedaço de papel amassado.

“É pra você, mamãe”, disse, antes de sair correndo para se juntar à irmã.

No papel, as letras grandes e tortas formavam duas palavras: “Te amo.” E lá estava a assinatura: Nael. Ao lado, um coração desenhado com o cuidado que só uma criança consegue ter.

Senti o cansaço do dia se dissolver ali mesmo. Um bilhete simples, mas que carregava todo o amor que transbordou daquela casa ao longo do dia. Eles não precisavam dizer mais nada. Nem eu.

As férias estão só começando, e talvez sejam cansativas. Mas, se cada dia terminar com amor tão puro, vale a pena cada segundo.

sábado, 7 de dezembro de 2024

Um sábado que não foi qualquer

 

Era um sábado morno, desses em que o tempo parece deslizar preguiçoso, mas traz pequenas surpresas. A mesa estava posta, simples, mas cheia de vida, como a nossa rotina com duas crianças pequenas exige. Nael e Naeli, meus pequenos de 4 e 2 anos, se sentaram para almoçar. Até aí, nada parecia diferente. Mas então veio o inusitado: eles comeram. Comeram com gosto. Sem distrações. Sem a bagunça habitual que nos faz suspirar e sorrir ao mesmo tempo.

Naquele dia, não houve tela ligada, nem carrinhos e bonecas escapando para debaixo da mesa. Havia apenas nós: a família, unida em volta de pratos coloridos e conversas amenas. Meu marido ajudava Naeli, equilibrando colheradas enquanto ela tentava segurar o garfo como uma grande menina. Eu ajudava Nael, ainda impressionada com sua paciência crescente. Sim, estavam crescendo. Estávamos todos.

Foi quando Nael, com seu jeito curioso e olhar iluminado, começou a falar do Natal. “Mamãe, como o Papai Noel vai passar pra deixar o presente na árvore? Ela tá tão apertada agora…”

Olhei para ele, surpresa com a lógica e o olhar atento às mudanças do mundo à sua volta. A árvore, é verdade, tinha sido deslocada para um canto mais discreto da sala, menos glamourosa do que em anos anteriores. Respondi com um sorriso:

“Ah, filho, o Papai Noel sempre encontra um jeito. Ele é esperto e sabe se adaptar, assim como a gente.”

Naeli, mesmo sem entender toda a conversa, riu. Talvez risse do irmão, talvez risse de nós, os adultos, com nossas histórias e improvisos. O pai riu junto, e ali estávamos: todos em sintonia, sem pressa, sem pressões.

Era um almoço, como tantos outros. Mas naquele momento, o tempo pareceu nos conceder uma pausa. Uma chance de enxergar o que, no meio do caos cotidiano, às vezes passa despercebido: a conexão simples e profunda que nos une.

Os pratos se esvaziaram. As crianças voltaram a correr pela casa, como deveriam, espalhando risos e energia. E eu fiquei ali por uns instantes, ainda sentada à mesa, olhando a árvore no canto da sala e pensando que, sim, Papai Noel acharia um jeito. Sempre achamos.

sábado, 28 de setembro de 2024

A Beleza das Pequenas Coisas

Eu gostaria de começar com uma pergunta: você já parou para perceber a beleza que existe nas pequenas coisas do seu dia a dia? Falo sobre aquelas cenas que passam despercebidas enquanto estamos distraídos com a correria da vida. É sobre elas que eu quero falar hoje.



Pense em uma manhã comum, você acorda e o primeiro raio de sol atravessa a cortina, aquele calorzinho tocando o seu rosto. A sensação de uma xícara de café quente entre as mãos. O aroma que invade o ambiente. Ou o som do vento batendo nas folhas de uma árvore lá fora. Esses são pequenos momentos que podem facilmente passar batido, mas se pararmos para perceber, encontramos ali uma espécie de poesia silenciosa, uma felicidade que não precisa ser grandiosa para ser real.


Na vida, muitas vezes nos pegamos buscando o extraordinário. Queremos grandes acontecimentos, sucessos estrondosos, momentos de êxtase. Mas e se o segredo de viver bem estivesse justamente no contrário? No ordinário, no simples, naquilo que muitas vezes deixamos para trás na pressa de ser ou ter mais?


Amélie Poulain, do filme que inspira nosso encontro, tinha essa capacidade de transformar o comum em extraordinário. Ela vivia com um olhar atento ao mundo ao seu redor, encontrando beleza onde muitos veriam apenas banalidade. Ela mostrava que a vida, mesmo em sua aparente simplicidade, é cheia de possibilidades de encantamento.


Mas como podemos aplicar isso em nossas vidas? Como podemos, em meio à rotina, desacelerar e perceber a beleza das coisas simples? A resposta é: praticando a presença. Vivemos tempos de distrações constantes, de cobranças incessantes, onde somos levados a crer que precisamos estar sempre correndo, sempre fazendo algo. Mas, às vezes, o que realmente precisamos é parar. Respirar. Sentir.

Na próxima vez que você estiver caminhando, não olhe apenas para a frente. Observe o caminho. Veja as cores das flores, sinta o cheiro do ar, ouça o som da sua própria respiração. Quando estiver com alguém que ama, realmente esteja presente. Desligue o celular, olhe nos olhos, escute com atenção.

E se, por acaso, bater aquela sensação de que a vida poderia ser mais, que você deveria estar em outro lugar, fazendo algo diferente, lembre-se: a vida está acontecendo agora. Ela não está lá na frente, num futuro distante. Ela está no presente, no instante em que você ouve essas palavras, no ritmo do seu coração.

Que tal começarmos, então, a redescobrir o prazer de viver o agora? Porque, no fim das contas, a felicidade não é um destino. É uma coleção de pequenos instantes, momentos que podemos escolher saborear ou deixar passar.

Lembre-se: a vida é mais bonita quando olhamos para ela com os olhos da alma.

domingo, 22 de setembro de 2024

"Reorganizando as Prateleiras da Vida

Interessante, não é? Descobrir que o mundo é uma espécie de supermercado humano, onde as pessoas se organizam em prateleiras. Temos aquelas que exigem nosso melhor, que esperam atenção, e que não aceitam qualquer resposta que não seja "sim" ou "não". Elas ocupam a prateleira de cima, onde guardamos as taças de cristal que tiramos para ocasiões especiais. Cuidamos com carinho, porque sabemos que um deslize pode causar um estrago enorme.

Logo abaixo, temos a seção do “tanto faz”. É como a prateleira do meio da geladeira, onde ficam aqueles itens que a gente consome sem muita cerimônia. Elas não fazem questão de um espaço exclusivo e se adaptam a qualquer situação. Um “oi” ou um “tchau” é suficiente, e elas continuam ali, sem reclamar.

Por fim, há as pessoas do “não me importo”. Aqueles que ficam na prateleira de baixo, junto com a farinha e os potes de sorvete vazios que a gente guarda sabe-se lá por quê. Elas não se ofendem com o pó que se acumula sobre elas e não reclamam quando esquecemos que ainda estão lá. São as que nos fazem lembrar que, às vezes, o espaço está mais vazio do que deveria.

E no meio de tudo isso, você, curador da sua própria vida, vai descobrindo onde colocar cada um, quem fica em destaque, quem fica no canto, e quem talvez já deveria ter saído de circulação. É um aprendizado constante, mas essencial. Afinal, arrumar as prateleiras não é sobre organizar o mundo, mas sim, sobre organizar a si mesmo.

sábado, 21 de setembro de 2024

Os pequenos furações do 501



Nael e Naeli, com seus 4 e 2 anos de pura energia, são como pequenos furacões em casa. Um dia, eles estão correndo pelo corredor, transformando almofadas em montanhas e o sofá em um castelo. No outro, estão aos prantos porque a bolacha quebrou no meio ou porque um deles decidiu que o brinquedo do outro é o melhor do mundo.

Mas, sabe de uma coisa? Assim como os desenhos na parede e os brinquedos espalhados pelo chão, tudo passa. Eles crescem, aprendem a dividir, a consertar bolachas partidas e até a fazer novas montanhas de almofadas. E, em meio ao caos e à bagunça, a gente percebe que o tempo é um vento que leva tudo, inclusive os momentos que achamos que nunca vão acabar.


Aproveite cada segundo, porque até o furacão vira brisa.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Crônica de uma Mãe em Isolamento Social

 


É 2024, mas parece que ainda vivemos em 2020. Eu olho ao redor e sinto o peso das paredes da minha casa, tão familiares e, ao mesmo tempo, tão opressoras. Não há espaço suficiente para todas as demandas, os gritos e as responsabilidades. Sou mãe. Sou trabalhadora. Sou cuidadora. Sou tudo ao mesmo tempo. Mas quem sou eu, de fato?

Quatro anos atrás, assisti pela primeira vez o mundo se encolher diante de um vírus. As notícias falavam de isolamento social, de manter distância, de um novo normal. Na época, me perguntei o que era isso — isolamento. Será que sabiam do que estavam falando? Hoje, já não há mais dúvidas.


Agora, estou aqui, em casa, tentando repousar. É a minha primeira vez com COVID. Não estou de home office. Fiquei doente, faltei ao trabalho. Sem atestado. Não existe mais o luxo do distanciamento adequado. O isolamento tornou-se uma espécie de piada amarga, uma ilusão. Como me isolar quando tudo depende de mim? Como repousar, quando meus filhos precisam de atenção, quando o jantar precisa ser feito e a casa ainda não se organiza sozinha?


Meus filhos estão aqui, ao meu redor. Sempre. Eu rezando que o vírus não os contamine também. As risadas e os gritos se misturam, transformando minha casa em uma bolha de sons, onde não há respiro. Não há mais “eu” entre eles. Se um adoece, todos adoecem. E eu, a mãe de COVID, fico. O mundo lá fora continua girando, mas aqui dentro... tudo parou.

Mas essa mãe precisa estar disponível. Disponível para quem? No fundo, não importa. A resposta é sempre: para todos.

E quando a COVID volta a bater à porta, o que resta? Não há escola, não há rede de apoio. Só há eu. Eu e o protocolo. O protocolo que me obriga a fazer um teste em laboratório, porque o auto teste não é válido para justificar a minha ausência no trabalho. Mais uma ironia cruel. Preciso faltar ao trabalho, mas, para isso, devo sair de casa para validar uma doença que todos sabem que já está aqui, comigo.

Quem cuida de nós? Quem cuida da mãe de COVID? Dos medos que nascem no isolamento? Dos sonhos que não têm mais espaço para florescer entre um grito e um tanto de outras coisas que demandam nossa atenção.

O tempo passa. E se aprendi algo nesses anos, é que o isolamento vai além das paredes físicas. Ele está na ausência de apoio, no vazio deixado pelas expectativas impossíveis. Está na solidão de ser tudo para todos e, ao final do dia, sentir que ainda não foi o suficiente.

O protocolo não faz sentido. Mas faço eu? Sigo, porque é o que sempre faço.


Força. Força a todas as mães. 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Dias de de luta e dias de luta

 

Aquela história de "dias de luta e dias de glória" nunca me convenceu. Para ser bem honesta, parece que a glória está perdida no GPS, andando em círculos enquanto eu continuo lutando para passar pela semana. Será que a glória pegou o ônibus errado?

Tem dias que a luta é sair da cama, enfrentar o espelho e aceitar que o cabelo vai fazer o que bem entender. Outros dias, a luta é convencer a criança de quatro anos que vestir a camiseta ao contrário não é um ato de rebeldia estilística (Nael que o diga!). E às vezes, a luta é só não devorar aquele chocolate antes das 10 da manhã.

Mas e a glória? Ah, a glória vem de formas inusitadas! Tipo encontrar uma meia perdida no fundo da gaveta ou finalmente conseguir tomar um café sem interrupções por cinco minutos inteiros! A glória talvez não seja o grande momento épico que a gente imagina. Talvez ela esteja ali, disfarçada de pequenos triunfos que a gente deixa passar despercebidos no meio do caos.

Então, se você está esperando pela grande glória, talvez seja hora de olhar em volta. Pode ser que ela já tenha chegado, só que está usando um pijama confortável, tomando um chá e te dizendo: "Relaxa, o importante é que você está fazendo o seu melhor."



segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Análise Comparativa: "O Gambito da Rainha" e "A Maravilhosa Sra. Maisel"

O Gambito da Rainha" e "A Maravilhosa Sra. Maisel" são duas séries que se destacam não apenas pela qualidade de suas narrativas, mas também por sua abordagem poderosa sobre o empoderamento feminino em épocas históricas onde a presença das mulheres era frequentemente marginalizada. Ambas as séries são ambientadas nos anos 1950 e 1960 e oferecem perspectivas únicas sobre o papel da mulher na sociedade, usando o xadrez e a comédia como cenários para explorar temas universais de identidade, autonomia e desafio às normas estabelecidas.


Protagonistas Femininas Fortes

Beth Harmon, de "O Gambito da Rainha", é uma personagem complexa e introspectiva. Como uma órfã que encontra no xadrez um meio de expressão e uma saída para suas dificuldades, Beth enfrenta o vício e a solidão enquanto persegue seu objetivo de ser a melhor enxadrista do mundo. Sua jornada é marcada por uma busca por identidade e reconhecimento em um campo dominado por homens, onde ela frequentemente enfrenta preconceito e subestimação.

Em contraste, Miriam "Midge" Maisel, de "A Maravilhosa Sra. Maisel", é extrovertida, carismática e espontânea. Midge desafia as expectativas da sociedade ao entrar no mundo do stand-up comedy, um campo igualmente dominado por homens. Sua jornada é mais pública e social, enfrentando não apenas as barreiras do gênero, mas também as convenções de classe e religião. Midge usa seu humor afiado para criticar as normas sociais, enquanto busca realizar seus sonhos de forma ousada e independente.


Temas de Empoderamento e Autodescoberta




Ambas as séries tratam da autodescoberta e do empoderamento, mas o fazem de maneiras distintas. "O Gambito da Rainha" é mais introspectivo, focando na luta interna de Beth contra seus vícios e traumas, e sua capacidade de encontrar equilíbrio e propósito através do xadrez. O empoderamento de Beth está na sua habilidade de dominar um jogo complexo e mentalmente desafiador, ganhando respeito e reconhecimento em um campo elitista e masculinizado.

Por outro lado, "A Maravilhosa Sra. Maisel" aborda o empoderamento de uma maneira mais social e extrovertida. Midge desafia as normas tradicionais de gênero e classe, usando sua inteligência e humor para criticar e subverter as expectativas da sociedade sobre o que uma mulher pode ou deve ser. A série celebra a liberdade de expressão e a capacidade de Midge de fazer o público rir, mesmo ao discutir questões sérias e pessoais.


Estilo e Tom Narrativo

"O Gambito da Rainha" adota um tom mais sombrio e dramático, com uma cinematografia estilizada que reflete a complexidade do mundo interior de Beth. A série usa o xadrez como uma metáfora para o controle, estratégia e o jogo mental da vida, com um ritmo que reflete a tensão e a intensidade do jogo.

"A Maravilhosa Sra. Maisel", em contraste, é vibrante e colorida, com diálogos rápidos e espirituosos que capturam a energia de Nova York nos anos 50 e 60. A série é mais leve e cômica, mas não menos profunda, explorando temas como identidade, independência e resistência através de uma lente humorística.

Conclusão

Embora abordem temas semelhantes de empoderamento e quebra de barreiras, "O Gambito da Rainha" e "A Maravilhosa Sra. Maisel" fazem isso através de abordagens narrativas e estilísticas distintas. Beth Harmon e Midge Maisel são duas faces de uma mesma moeda: mulheres que desafiam as expectativas e encontram seus próprios caminhos em mundos que inicialmente não as aceitam. Ambas as séries são celebrações de força feminina, mostrando que o empoderamento pode se manifestar de várias formas — seja no silêncio estratégico de um tabuleiro de xadrez ou no humor afiado de um palco de comédia.


Um último comentário, se é que ainda é possível: assista.

sábado, 24 de agosto de 2024

A Caixa do Tempo


Enquanto olho a caixa da adolescência, não consigo deixar de me perder em lembranças. É uma caixa de papelão comum, mas para mim, guarda um universo inteiro. Ali dentro, entre cartas amareladas e cadernos de rabiscos, está um pedaço do meu passado, da minha juventude, dos dias em que o tempo parecia ser infinito e o futuro uma terra distante e misteriosa.


Sento-me no chão do quarto da casa da minha mãe, agora mais uma vez o meu quarto, e mergulho na nostalgia. A casa da minha mãe nunca muda. As paredes pintadas de um azul pálido, a cama com a colcha de flores desbotadas, a estante cheia de livros que li e reli, tudo está exatamente como eu me lembro. É como se o tempo tivesse parado ali dentro, enquanto lá fora o mundo se transforma a cada instante.


Pego uma carta, e reconheço a caligrafia imediata e inconfundível de um amigo de escola. Palavras de amizade eterna, planos para o futuro, piadas internas que me fazem sorrir. Como é possível que, em um simples pedaço de papel, estejam contidos sentimentos tão intensos? Sentimentos que, apesar de terem sido vividos há tanto tempo, ainda conseguem tocar meu coração.


Reviro os cadernos, e vejo os rabiscos, desenhos de sonhos que talvez nunca se realizem, versos de poesias ingênuas, pensamentos soltos de uma mente inquieta e apaixonada. Vejo os corações desenhados ao lado dos nomes, amores platônicos que fizeram meu coração bater mais forte, que me fizeram acreditar que o mundo era um lugar cheio de possibilidades e surpresas.


A cada objeto que tiro da caixa, uma nova lembrança se acende. É como se eu estivesse desenterrando pedaços de mim mesma, pedaços que ficaram guardados, mas nunca esquecidos. É um sentimento doce e agridoce ao mesmo tempo. A nostalgia tem essa capacidade de nos envolver em um abraço aconchegante, mas também de nos lembrar do que se perdeu, do que não volta mais.


Levanto-me e olho ao redor. Este quarto foi testemunha de tantas risadas, lágrimas, segredos sussurrados ao escuro da noite. Foi um refúgio, um lugar onde pude ser eu mesma, sem máscaras, sem pressões. Agora, ao revisitá-lo, sinto-me como uma estranha em uma terra familiar. As memórias estão todas ali, mas eu mudei. Cresci, amadureci, e talvez tenha perdido um pouco da leveza e da inocência daqueles tempos.


Fecho a caixa com cuidado, como se estivesse guardando um tesouro precioso. A casa da minha mãe nunca muda, mas eu mudei. E tudo bem. Porque, mesmo que o tempo passe e a vida nos leve por caminhos inesperados, sempre haverá um lugar para onde podemos voltar. Um lugar onde as lembranças moram, onde os sonhos antigos ainda têm vida, e onde podemos nos reconectar com quem fomos, e talvez, encontrar um pouco mais de quem somos.

sábado, 10 de agosto de 2024

Resenha: "A Casa do Lago" – Um Romance que Transcende o Tempo e o Espaço

A "Casa do Lago" é mais do que um filme; é uma experiência sensorial que convida o espectador a se perder nas curvas delicadas do tempo, nas veredas do destino e nas trilhas misteriosas do coração humano. Dirigido por Alejandro Agresti e estrelado por Sandra Bullock e Keanu Reeves, este romance dramático nos transporta para um universo onde o amor não conhece limites – nem mesmo o tempo.

A trama gira em torno de uma casa à beira de um lago sereno, que serve como ponto de conexão entre duas almas separadas por dois anos de diferença. Kate Forster (Sandra Bullock) e Alex Wyler (Keanu Reeves) vivem em épocas distintas, mas compartilham a mesma casa. Através de cartas que misteriosamente viajam no tempo, suas vidas se entrelaçam em uma dança melancólica e bela, onde cada palavra escrita carrega o peso da solidão e a esperança de um amor impossível.

O que torna "A Casa do Lago" uma obra-prima é sua capacidade de explorar temas universais – amor, perda, arrependimento, e a busca incessante por algo maior do que nós mesmos. O filme nos força a confrontar a natureza efêmera do tempo, a fragilidade das conexões humanas, e a dolorosa beleza das escolhas que fazemos. Em cada cena, há uma promessa não dita, uma emoção não expressa, que nos mantém cativados, desejando, assim como os protagonistas, que o tempo pudesse ser dobrado, que o destino pudesse ser reescrito.

A fotografia do filme, com suas paisagens desoladas e luzes suaves, evoca uma sensação de nostalgia, como se estivéssemos navegando por memórias que não são nossas, mas que, de alguma forma, sentimos profundamente. A trilha sonora, com suas melodias etéreas, amplifica cada emoção, tornando cada encontro, cada despedida, um eco duradouro em nossos corações.

"A Casa do Lago" nos faz questionar o que faríamos se tivéssemos uma segunda chance – não apenas no amor, mas na vida. Ele nos lembra que, embora o tempo possa ser um rio que corre implacavelmente, nossas emoções, nossos desejos e nossas esperanças são eternas. Mesmo que o destino pareça nos separar, há uma força maior, invisível, que mantém as almas conectadas.

Este filme não é apenas para ser assistido; é para ser sentido, absorvido. Ele é um lembrete suave de que o amor verdadeiro, aquele que é destinado, transcende o tempo e o espaço. "A Casa do Lago" é, em essência, uma carta de amor ao próprio conceito de amor – uma carta que chega a nós através das brumas do tempo, tocando as profundezas de nossas almas e nos deixando com uma esperança eterna de que, talvez, o destino possa ser desafiado.

Se você ainda não viu, prepare-se para uma jornada emocional que o deixará suspirando e acreditando, mesmo que por um momento, que o impossível é apenas uma questão de perspectiva.

sábado, 20 de julho de 2024

Dia do amigo

Dia do amigo chegou, 20 de julho abençoado,

Gratidão pela vida, por cada passo compartilhado.

Vizinhos de porta, colegas de trabalho diário,

Amigos de longe, e os novos, tão necessários.


Passamos pela guerra, um vírus devastador,

COVID nos uniu, e nos fez ainda maior.

Em tempos de incerteza, amizade foi o farol,

Na luta pela vida, amizade foi o sol.


Gratidão pela jornada, por cada gesto sincero,

Por vizinhos, colegas, amigos de longe, e os novos, que tanto quero.

Hoje celebramos a amizade, laço forte e verdadeiro,

Que nos guiou na tempestade, nosso porto derradeiro.



_Elisângela Feitosa, jul. 24_

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Entre Fraldas e Sonhos

No reino encantado da maternidade, onde os sorrisos das crianças são moedas de felicidade e as fraldas sujas são os tributos da vida cotidiana, há uma mãe que navega entre as ondas turbulentas do amor incondicional e os anseios silenciosos de uma identidade própria.

Ela não é uma personagem de conto de fadas, com vestidos esvoaçantes e cabelos impecáveis. Não, ela é real e palpável, com olheiras profundas marcando noites sem dormir e um sorriso cansado, porém genuíno, que ilumina o rosto ao ver o sorriso do seu pequeno.

Essa mãe não é apenas uma guardiã de fraldas e mamadeiras, mas também uma guardiã de sonhos adormecidos. Ela deixou de lado seus próprios desejos e aspirações para nutrir os sonhos de seu filho, regando-os com amor e dedicação, mesmo quando isso significava sacrificar os seus.

Nos momentos de silêncio, quando o bebê finalmente dorme e a casa se acalma, ela se encontra perdida em pensamentos, navegando pelos mares tempestuosos da sua própria identidade. Ela se pergunta quem ela é além de ser mãe, quais são seus desejos mais profundos, quais são os sonhos que ela deixou para trás.

E assim, entre trocas de fraldas e cantigas de ninar, essa mãe embarca em uma jornada de autodescoberta. Ela reserva pequenos momentos para si mesma, para se reconectar com suas paixões e interesses, para se lembrar de que ela é mais do que apenas uma mãe, ela é uma mulher com desejos e ambições próprias.

É uma jornada repleta de altos e baixos, de risos e lágrimas, mas também de crescimento e empoderamento. Pois, enquanto ela equilibra os deveres da maternidade com os anseios de sua alma, ela descobre que ser mãe não significa perder a si mesma, mas sim encontrar uma versão mais profunda e completa de quem ela realmente é.

E assim, nesse reino encantado da maternidade real, essa mãe continua a tecer sua própria história, entre fraldas e sonhos, navegando com coragem e graça nas águas desconhecidas da vida.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Resenha: Uma ilha bem distante & Comer, rezar e amar

Em Uma Ilha Bem Distante" e "Comer, Rezar, Amar" são duas narrativas poderosas e surpreendentemente emotivas sobre mulheres em momentos cruciais de transformação em suas vidas. Ambas as histórias, apesar de suas diferenças, compartilham uma essência comum: a jornada em busca de renovação, autodescoberta e alegria.


Zeynap Altin - "Em Uma Ilha Bem Distante"Zeynap, a protagonista de "Em Uma Ilha Bem Distante", vive uma vida monótona e sobrecarregada, marcada pela tristeza e o desgaste emocional. A reviravolta acontece com a herança de uma casa na Croácia. Esta herança não é apenas um bem material, mas um convite ao renascimento. A viagem para a Croácia e os eventos subsequentes são metafóricos - ela está navegando nas águas turbulentas de sua própria psique, buscando um porto seguro de felicidade e contentamento. A transformação de Zeynap é gradual, mas profunda. A Croácia, com sua beleza e charme, atua como um espelho que reflete o que ela pode se tornar: uma mulher livre, alegre e realizada.


Elizabeth Gilbert - "Comer, Rezar, Amar"Elizabeth, por outro lado, em "Comer, Rezar, Amar", embarca em uma jornada que é tanto física quanto espiritual. Após um divórcio doloroso, ela se lança em uma viagem que a leva à Itália, Índia e Bali. Cada destino representa um aspecto de sua busca: prazer, espiritualidade e equilíbrio. Elizabeth não está apenas viajando pelo mundo; ela está viajando através de si mesma, descobrindo camadas de sua personalidade e reavaliando suas prioridades e desejos. Sua jornada é um mosaico de experiências que a reconectam com a alegria de viver e a capacidade de amar novamente.

Conexão Emocional

O que torna essas histórias surpreendentemente emotivas é a maneira como refletem desafios universais. Zeynap e Elizabeth representam qualquer pessoa em uma encruzilhada da vida, enfrentando o desconhecido em busca de algo mais. Suas histórias são sobre perder e encontrar-se novamente, sobre a coragem de mudar e a beleza de se redescobrir. Ambas as personagens mostram que, independentemente das circunstâncias, é sempre possível começar de novo e encontrar a felicidade. Suas jornadas são testemunhos do poder da resiliência humana e da capacidade de transformação. Elas não apenas mudam suas próprias vidas, mas também inspiram quem assiste a acreditar na possibilidade de renovação e alegria, independentemente da idade ou situação."Em Uma Ilha Bem Distante" e "Comer, Rezar, Amar" são mais do que filmes; são lembretes de que a vida, com todas as suas reviravoltas, sempre nos oferece a oportunidade de crescer, amar e, acima de tudo, viver plenamente.