segunda-feira, 30 de junho de 2025

O bracinho mais disputado do mundo

 

Aqui em casa, existe um território valioso. Pequeno, macio, muitas vezes cansado… mas disputado como se fosse ouro: meu braço.

Sim, o meu bracinho — esse mesmo, que passa o dia inteiro lavando louça, digitando, segurando mochila, penteando cabelo, fazendo cafuné e passando protetor solar enquanto diz: “apressa, vai atrasar!”. Esse bracinho virou patrimônio afetivo dos meus filhos.

Nael, com seus cinco anos e uma sabedoria emocional que me desmonta, já começa o dia dizendo:
— “Mamãe, ficar com você é o melhor.”
E diz isso com os olhos inchados de sono, tentando negociar a permanência enquanto veste a farda, questionando, mais uma vez, por que ele não pode ficar comigo todos os dias.
Outro dia, ele foi mais fundo. Me acusou, com voz de mágoa:
— “Você mentiu, mamãe. Eu coloco a mão no peito e você não responde!”
Foi como se tivesse apertado um botão dentro de mim que nem eu sabia que existia.
Respirei. Abracei. Expliquei mais uma vez sobre a saudade, sobre imaginar o tum-tum do meu coração e sentir que estou ali. Mas ele quer resposta, ele quer presença de verdade — não metáforas poéticas. E eu entendo. Como entendo.

Naeli, a pequena de três anos, tem uma doçura própria. Mas não pensem que ela fica de fora dessa novela afetiva.
Chega a noite e ela já olha desconfiada:
— “Hoje eu durmo agarradinha com você, tá?”
E repete isso em looping, até eu confirmar com beijo, olhar, toque e todas as garantias possíveis.

Aqui em casa, a logística do sono é quase uma partida de xadrez.
Eu ponho Naeli para dormir. O pai fica com Nael. Mas, claro, isso está longe de ser simples.
Porque os dois querem a mesma coisa: o meu braço.
Aquele lugar quente, confortável e acolhedor, onde eles parecem sentir que o mundo para de girar rápido demais.

Às vezes choro escondida.
Não de tristeza, mas de um amor exausto.
Porque ser a pessoa preferida do mundo de duas criaturinhas tão intensas, tão amorosas, tão carentes e tão cheias de vida... é um privilégio que pesa.

Eles dormem.
Aos berros, às vezes.
Disputando quem chega primeiro ao lado do meu corpo.
E eu ali, um pouco esticada demais, meio entortada, mas presente.
Sendo travesseiro, porto seguro, remédio de saudade e termômetro emocional.

E enquanto eles não crescem — e não entendem que o amor de mãe é tão grande que se estica para caber nos dois, mesmo que eu só tenha dois braços —, sigo cedendo meu espaço e minha paciência, tentando, todo dia, ensinar que o amor deles não se divide: ele se multiplica.

Mas confesso: tem dias em que eu também queria um colo.
Um bracinho só para mim.
E alguém que me dissesse:
— “Pode dormir. Tá tudo bem. Eu fico aqui com você.”

terça-feira, 24 de junho de 2025

Juliana, o silêncio e o abismo

Juliana queria ver o mundo de cima.

Fez como tantos fazem: arrumou a mochila, pesquisou trilhas, escolheu um vulcão, daqueles com nome bonito e paisagens cinematográficas. O Monte Rinjani, na Indonésia, é um destino disputado por aventureiros — e foi lá que ela sonhou estar.

Não há nada de estranho nisso. O desejo de ver o nascer do sol do alto, de se sentir pequena diante da natureza gigante, de registrar uma experiência que não cabe em palavras. Isso é humano. Isso é vida.

Mas a vida de Juliana não pôde continuar.
Porque a caminhada foi longa, o cansaço foi real, e o guia — pago para acompanhá-la — a deixou para trás.
Ali, sozinha, exausta, ela caiu.
Não caiu apenas do penhasco.
Caiu num vácuo de responsabilidades.

Quatro dias.
Quatro dias para que dissessem que o corpo estava ali.
Quatro dias para a família implorar por respostas, ser enganada com informações falsas e viver a tortura do talvez.
Quatro dias que pareceram uma eternidade em cima de uma montanha onde ninguém deveria estar só.

A essa altura, a história já é notícia.
Matérias vêm e vão.
Nomes, idades, mapas, notas da Embaixada, falas genéricas sobre "esforços conjuntos".

Mas a gente sabe — no fundo sabe — que tudo poderia ter sido diferente.

Se o guia tivesse parado.
Se houvesse sistema de rastreio.
Se o Brasil tivesse agido mais rápido.
Se a empatia fosse política oficial.

A história de Juliana escancara tudo aquilo que fingimos não ver:
Que o turismo de aventura virou uma indústria lucrativa demais para se importar com segurança.
Que o socorro vem sempre tarde quando o problema está longe dos centros ou das prioridades diplomáticas.
E que a dor, quando não é nossa, ainda é tratada como detalhe.

Ela não queria morrer.
Ela queria viver intensamente.
E por isso, talvez, não seja o caso de culpar o sonho — mas sim, de exigir que sonhar não custe a vida.

Juliana não é só mais uma vítima.
Ela é o nome que grita para além das pedras e da cratera.
Ela é o eco que não pode se perder.

Para que outras mulheres, jovens, viajantes, mães e filhas possam voar, subir montanhas e voltar.
Com histórias, com fotos, com a alma leve — não com seus nomes gravados em lápides distantes.

Juliana queria ver o mundo de cima.
E o que ela nos deixou foi um alerta:
Não há beleza no mundo que compense o abandono.

domingo, 22 de junho de 2025

Eles sonhavam alto

A recente tragédia do balão em Praia Grande, Santa Catarina, deixou marcas profundas no ar e nos corações: entre 21 pessoas a bordo, oito morreram e 13 sobreviveram, após um incêndio no cesto durante o voo turístico . Vítimas com sonhos, projetos, histórias — como médicos, professores, casais em viagem, todos em busca de emoção e aventura no céu.

É difícil não sentir a brevidade da vida nesse momento, perceber como projetos e planos podem ser interrompidos em um instante. Essas pessoas estavam desfrutando pequenas grandes alegrias — o vento cortando o rosto, a paisagem lá embaixo, o riso solto. Eram sonhos pairando, literalmente, nos céus.

E, diante disso, me vem uma imagem poderosa na mente: a vida é frágil como um balão, leve como um sopro, e preciosa como cada segundo que respiramos. Que possamos aprender com eles a viver sem deixar para depois, a buscar a alegria com equilíbrio, a cuidar uns dos outros — e a celebrar cada amanhecer como uma nova asa em nossas próprias aventuras.


Eles queriam viver.

E viver, às vezes, é isso: sair cedo de casa com o coração acelerado, empolgado com o frio na barriga de algo novo — de algo tão simbólico quanto voar.


Eles queriam colecionar memórias.

Quem sabe era um presente de aniversário, uma celebração entre amigos, um pedido de casamento sonhado. Havia ali sonhos que nem chegaram a ser compartilhados, sorrisos que não tiveram tempo de ser fotografados, histórias que acabaram interrompidas no meio do voo.


E, no entanto, é impossível falar de tragédias sem falar também do que nos resta:

A memória.

A lembrança de que a vida é sempre hoje.

Que os abraços não dados, os planos adiados, os “depois a gente vê” podem não encontrar o tempo que esperavam.

Que a rotina que nos consome pode, num piscar de olhos, deixar de existir — e tudo o que fica é o que fizemos com os nossos dias.

O balão caiu, sim.

Mas lá no alto havia coragem.

Havia amor.

Havia vontade de ver o mundo de outro ângulo.

E que isso não se perca.

Que a dor se transforme em presença.

Que o medo nos ensine sobre valor.

E que a brevidade da vida não nos paralise — mas nos desperte.

Porque, no fundo, viver é saber que não temos controle algum, mas ainda assim escolher embarcar, olhar para o céu, e dizer com o coração cheio: valeu a pena tentar voar.

terça-feira, 10 de junho de 2025

Mesa para uma (e um mundo inteiro dentro)

 


Não lembro exatamente a última vez que saí sozinha. Sozinha de verdade.

Sem filhos pedindo suco.

Sem o companheiro puxando conversa sobre algo do dia.

Sem bolsa extra com brinquedo ou lanche.


Hoje eu saí.

Depois da aula, resolvi almoçar fora.

E não com alguém. Comigo.


Sentei. Escolhi a mesa. Peguei o cardápio como quem pega um espelho.

E veio aquele pensamento automático, repetido, como um mantra de autoajuda que a gente tenta acreditar:

"Aprecie a si mesma. A sua companhia. Você merece."


E eu tentei. De verdade.

Mas pra minha surpresa, foi até rápido escolher: pedi entrada, prato, sobremesa e suco de limão — o meu favorito.

Sem precisar dividir, consultar, adaptar. Era tudo pra mim.

E era exatamente o que eu queria.


A comida chegou, e junto com ela… o silêncio.

Não o silêncio de paz plena.

Mas aquele silêncio estranho, de quem está tentando lembrar como era mesmo estar só.

Sozinha com os próprios pensamentos, com o som dos talheres, com a liberdade de comer devagar.


E, aos poucos, fui lembrando.

Que sou boa companhia.

Que sei observar o mundo à minha volta sem narrar tudo em voz alta.

Que existe beleza em ouvir minha própria respiração entre uma garfada e outra.


Foi leve.

Meio esquisito no início.

Mas leve.


Comi com calma.

Saboreei cada parte.

E deixei o suco de limão, azedinho e fresco, me lembrar de que eu também gosto das coisas simples, daquelas que fazem sentido só pra mim.


E eu saí dali com uma certeza suave:

que às vezes a gente precisa mesmo reservar uma mesa pra uma.

Porque é nessa solidão voluntária que a gente se reencontra.

E percebe que, mesmo rodeada de amores,

a nossa própria presença também faz falta.


Não porque eu precise fugir da maternidade, do casamento, da rotina.

Mas porque, se eu não me buscar de vez em quando, posso me perder sem perceber.


Então hoje, naquela mesa de canto, com o garçom perguntando se estava tudo bem e eu respondendo “tá ótimo” com um sorriso sincero, eu celebrei um tipo diferente de presença: a minha.


E fiz um trato comigo mesma.

De sair mais vezes sem motivo especial.

De sentar sem pressa, andar sem destino, almoçar sem multitarefa.

De lembrar que, além de mãe, esposa, profissional…

Eu sou uma mulher.

Inteira.

Com gostos, pausas e pensamentos que valem ser vividos sozinha, de vez em quando.


Porque às vezes, ser sua melhor companhia é o reencontro mais necessário que existe.

sábado, 7 de junho de 2025

A boneca que se vestiu sozinha


Hoje de manhã, minha filha vestiu-se de boneca.

Não, não foi um vestido qualquer. Foi uma personagem. Uma versão dela mesma, imaginada no instante em que abriu a gaveta, escolheu uma roupinha “porque tava frio” — apesar dos 29 graus marcando firme no sábado ensolarado.


Meias longas. Sapatinho. Blusinha com detalhes delicados. Um cuidado digno de festa de princesa, embora o destino fosse a sala de estar.


Pediu penteado. Um laço aqui, um coque ali, e uma exigência muito clara: "tem que ficar igual da bonequinha, tá bom?"

E lá fui eu, com os dedos atentos e o coração derretido, trançando um pouco de cabelo e muito afeto.


Durante o dia, a blusinha deu lugar a um short. Mas as meias… ficaram. Os sapatinhos também.

Ela correu, pulou, aprontou. A casa virou cenário de aventura, salão de festa, consultório médico, loja de doces e zoológico — tudo ao mesmo tempo.


E quando a soneca da tarde veio, ela simplesmente adormeceu assim mesmo, de sapatinhos e meias, como se a brincadeira nunca tivesse acabado.


E eu, no meio da bagunça, só conseguia pensar:

Como ela é incrível.

Minha doce menina.


Com sua lógica de inverno tropical, sua independência teimosa, seu carinho espalhado em forma de brinquedo no chão e frases soltas que ecoam mais fundo do que parecem.


Ela não se vestiu só de boneca hoje.

Ela se vestiu de imaginação.

De liberdade.

De infância vivida com força.

E eu agradeço, em silêncio, por poder ver de perto essa menina crescendo com tanta autenticidade.


Ela é meu furacão de fita rosa.

Minha arte viva.

Meu caos mais bonito.



quinta-feira, 5 de junho de 2025

O silêncio entre uma coisa e outra

 

Tem dias — ou semanas, talvez — em que a gente sente que o mundo continua girando lá fora, mas aqui dentro tudo desacelerou.

Não é tristeza. Não é exatamente cansaço.

É outra coisa.


É como se o corpo inteiro pedisse uma pausa.

E a mente, mesmo agitada, começasse a falar mais baixo.

A atenção escapa, o foco se dissolve, o tempo parece mais longo. Até o tédio, de leve, visita.


Eu tenho estado assim.

Mais introspectiva, mais calada, mais dentro de mim.

E não sei se é o corpo falando — talvez sejam os hormônios bagunçados, talvez seja o tal do implante tentando ensinar uma nova dança biológica.

Ou talvez seja só a vida dizendo: senta, respira, olha pra você.


Esses momentos não vêm com avisos.

Eles interrompem sem bater na porta.

E, quando chegam, a gente se pergunta: “O que tá acontecendo comigo?”


Mas talvez não esteja acontecendo nada de errado.

Talvez esse seja só um período de pouso.

Sabe passarinho que voa demais e precisa parar no galho um pouco antes de seguir?

É isso.

Não é falta de produtividade.

É presença.

Ainda que esquisita, ainda que confusa.


Não é fraqueza.

É o corpo pedindo um minuto pra recalibrar.


E eu quis escrever isso pra você que, talvez, também esteja se sentindo meio estranha, meio dispersa, meio fora do ar.

Talvez seu corpo também esteja te puxando pra dentro.

Não pra te prender, mas pra te lembrar que você não é só tarefa, não é só entrega, não é só o que você faz pelos outros.


Você também é o que sente.

O que silencia.

O que observa quando ninguém está olhando.


Não se apresse.

Nem se cobre entender tudo agora.


Às vezes, o mais bonito que podemos fazer é simplesmente respeitar o tempo do nosso corpo.

E confiar que, mesmo em silêncio, a gente continua florescendo.


Devagar.

Mas viva.

Sempre viva.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

Pequeno Samurai e a mãe multitarefa

 

Nael voltou pro karatê! Quase sete meses longe e ele lembrou de tudo. Tudo. Eu mal lembro onde deixei minha chave ontem, mas ele? Tá lá fazendo o “oiááá!” com a concentração de um mestre japonês reencarnado em um menino de 5 anos com 1 metro e pouquinho.


E o mais bonito? A cada movimento, ele olha pra mim. Não pro sensei. Pra mim.

Como quem diz: “Mãe, tá vendo? Foca em mim, não pisca!”

E lá estou eu: sentada na arquibancada da quadra, com a garrafa de água na mão, tentando manter o foco enquanto a irmã mais nova o admira... e ao mesmo tempo explora cada canto daquela quadra como se fosse um parque temático particular.


Ele é lindo. Um guerreiro de faixa azul que não se compara a ninguém. Só segue, no ritmo dele.



Agora, em casa... ah, em casa ele acha que os gnomos lavam a louça, dobram a roupa, fazem o jantar.

Porque a “mãezinha” — assim, nesse diminutivo que derrete o coração — precisa brincar, montar Lego, desenhar, virar o Sonic, ser vilã e depois virar enfermeira do boneco tudo em 20 minutos.


E você pensa: “Ué, cadê a infância que dizem que passa rápido?”

Passa, sim.

Mas antes ela te puxa pelo braço, pede mais um suquinho, grita do banheiro, derruba um brinquedo e diz:

— “Mamãe, olha pra mim!”


E eu olho. Porque o tempo dele com os olhos em mim… vai virar memória no meu peito.

Então, mesmo exausta, eu sigo.

Na arquibancada, no tatame da vida, na cozinha, no chão da sala...

Sigo com ele. Meu pequeno guerreiro. Meu orgulho azul.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

“Você é meu suficiente, mamãe.”



Tem três semanas que tento escrever sobre isso.

Abro o caderno, encaro a tela… mas as palavras escapam. Talvez porque ainda estejam presas no nó que se formou no meu peito naquele dia.


Meu filho de 5 anos não quis ficar na escola. Era o segundo episódio da semana. Tentei conversar, argumentar, oferecer segurança. Insisti com carinho, e ele ficou. Mas meu coração ficou inquieto.


No fim do dia, fomos juntos pra casa, e perguntei o que estava acontecendo. Queria entender a causa, o medo, a tristeza por trás daquela resistência. E então ele respondeu, com a doçura e a verdade crua que só uma criança é capaz:


— “É porque você é meu suficiente, mamãe.”


Eu congelei.

Fiquei sem chão.

Um milhão de coisas passaram pela minha cabeça — mas nenhuma tão forte quanto aquela frase.


A gente passa a vida tentando ser suficiente. No trabalho, em casa, na vida. E quando se é mãe, o “ser suficiente” vira meta, cobrança, culpa.

E ele, tão pequeno, me disse que já sou.

Sem esforço. Sem teste. Sem currículo.


Sou o suficiente pra ele.

Sou o lugar seguro. O colo que ele quer. A presença que basta.


Me emocionei. E naquele momento, olhei nos olhos dele e disse:

— “Sempre que sentir saudade, coloca a mão no peito… a mamãe está aqui fazendo tum tum. Tá vendo? É meu coração batendo por você.”


Ele sorriu. E eu sorri também, com o peito apertado e cheio.


Foi bonito. Foi duro também.

Porque ser o suficiente pra alguém é lindo, mas também é um lembrete:

de que eles precisam da gente. De verdade.


E que às vezes, mesmo com toda a rotina, toda a correria, tudo que temos pra fazer, o que eles querem é só isso — a gente. Inteira.


Não sei se algum texto faria jus àquele momento.

Talvez nenhum consiga traduzir exatamente o que senti.

Mas agora, escrevendo, percebo:

essa frase vai morar em mim pra sempre.


"Você é meu suficiente, mamãe."

E eu sou.

Mesmo cansada. Mesmo em dúvida. Mesmo

 aprendendo.

Sou.

E isso… é tudo.


segunda-feira, 19 de maio de 2025

Quando você deixa de ser prioridade

 Às vezes, a gente se engana bonito.

Acredita que tudo é mais urgente do que a gente mesma.

A louça, o trabalho, o prazo, os filhos, a roupa pra guardar, o almoço, a agenda.

Tudo ganha espaço — menos você.

E aí, quando se dá conta, passaram-se dias… semanas.

E você está ali, se arrastando entre compromissos, tentando se encaixar nos vãos dos outros.

Foi assim comigo.

Já são quase duas semanas sem me exercitar. Sem aquele momento só meu.

Sem a pausa que me conecta ao corpo, ao fôlego, à força que eu sei que mora em mim.


Treinar, pra mim, não é só sobre movimento.

É onde me escuto.

Onde penso com clareza, mesmo suando.

Onde percebo que, mesmo cansada, ainda posso ir além.

É onde me lembro quem eu sou fora de todas as funções que desempenho.


E nesses dias em que faltei a mim, percebi: quando a gente se deixa por último, o mundo parece mais pesado.

Porque ele é mesmo.

Carregar tudo sem se carregar é insustentável.


Então, se você também tem se deixado pra depois, respira. Não é egoísmo se priorizar.

Não é luxo tirar um tempo pra você. É necessidade.

Voltar pra si é o primeiro passo pra continuar.Seu corpo sente falta de você. Sua mente também.

Mesmo que hoje você só consiga cinco minutos… comece.

Você não precisa estar no seu melhor pra recomeçar. Mas precisa recomeçar pra reencontrar o seu melhor.


domingo, 18 de maio de 2025

Crônica de uma semana (com dente, milho e princesa)


Essa semana foi intensa. Daquelas que a gente nem sabe por onde começar a contar. Talvez por isso eu tenha escrito pouco — não por falta de vontade, mas porque estava simplesmente vivendo tudo ao mesmo tempo: maternidade, estudo, tarefas, improvisos e momentos dignos de roteiro de comédia (ou de sobrevivência).

Teve dente. Dois, pra ser exata.

Meu filho arrancou um pela manhã ao tentar abrir um canudinho de suquinho com os dentes — e olha que o dente já estava ali, só esperando uma desculpa pra cair.  À noite, o segundo se despediu durante o jantar, enquanto ele mordia um pedaço de milho. Porque, claro, se é pra cair, que seja com estilo.


Teve prova também. Uma daquelas que a gente se prepara, estuda, tenta organizar a cabeça no meio do caos, e mesmo assim sai com a sensação de que faltou algo. Me dediquei. Me esforcei. Mas não sei se fui bem.


Entre uma coisa e outra, teve também o desfile diário da minha filha de 3 anos — que agora recusa-se a vestir a farda da escola.

Todos os dias, ela precisa escolher a própria roupa.

Todos os dias, ela é uma princesa.

E, portanto, vestido é item obrigatório.

Negociar com uma criança de três anos que acredita que vai ao castelo e não à escola é um talento que ainda estou desenvolvendo.


E aí, você respira fundo, olha em volta e percebe:

Sim, tá tudo uma bagunça.

Sim, não dei conta de tudo.

Mas estou aqui.


Foi uma semana de entrega, tropeços, risadas e pequenas vitórias escondidas em meio à correria.


E mesmo sem ter tido tempo pra escrever tudo que senti, vivi cada coisa com o coração inteiro.


Porque tem semanas assim: a gente não produz texto, mas escreve capítulos com a vida real.

Cheios de dente, milho, princesas… e força.


E que bom que a gente continua. Mesmo cansada. Mesmo sem glamour. Mas firme.

Porque o mais bonito dessa história toda é isso: a gente não para. A gente segue.


domingo, 4 de maio de 2025

E o tempo livre da Mãe, alguém viu por aí?



Sabe aquele tempo livre? Aquele que os homens — pais, no caso — têm, às vezes, para jogar um videogame, ver uns vídeos no YouTube, tomar um café quente em silêncio, respirar fundo sem ninguém pendurado no pescoço? Pois é. A mãe não sabe o que é isso. E se soube, foi antes da maternidade.


A mãe acorda cedo. Mas cedo mesmo, do tipo que o despertador nem precisaria tocar — porque tem uma criança que já está ali puxando seu rosto, pedindo pão com manteiga e desenho. E o dia começa. Mas não só com um “bom dia”, e sim com uma lista mental de tudo que precisa ser feito: café, roupa, mochila, remédio, tarefa, cabelo, brinquedo, almoço.


E sim, é tudo por ela. Porque a mãe, essa criatura multifuncional, virou também a agenda da casa, o alarme, o Waze, o Siri, a lavadora, a nutricionista e o colo.


Depois do almoço, que ela mesma preparou, tem a louça. Claro que tem. E as crianças ali, ao redor, esperando a próxima movimentação, como se ela fosse o principal canal de entretenimento doméstico. E é.


— “Vamos brincar, mamãe?”

— “Já vai dormir?”

— “Cadê minha meia azul?”


E a mãe pensa: vou só colocar um esmalte, dar um jeitinho na unha, porque segunda-feira tá aí. Mas bastou abrir o vidrinho que a menina acorda. Com fome. De colo. De mãe. De atenção.


E o tempo livre… evaporou. Como aquele café que ela esquentou três vezes e nunca conseguiu tomar.


Não é que a mãe não queira se cuidar, estudar, respirar. É que ela simplesmente não consegue. Porque ao contrário do que romantizam por aí, não existe pausa. Não existe rodízio de funções. Existe ela.


E o pai? Bom, ele tá lá na sala. Jogando videogame. Ou vendo vídeo no YouTube. “Relaxando um pouco”, como costuma dizer. E quando ajuda em algo, vira herói da casa. Já a mãe… bem, a mãe é a casa. Todos os dias.


É sobre isso que a gente fala quando diz que o mundo é injusto.

Não porque a mãe não ama. Ela ama tanto que esquece até dela.

Mas porque ser mãe deveria vir com cláusulas de respiro, rodízio de responsabilidades, e reconhecimento de que esse amor diário, exaustivo e invisível, é trabalho também.


Então não, essa crônica não é romântica.

É só real.

Como o esmalte que secou aberto, a meia que nunca aparece, e o banho interrompido por alguém batendo na porta dizendo:



— “Mamãe, tô com fome de novo.”


segunda-feira, 28 de abril de 2025

O dia em que eu pensei em desistir



Não sei se foi a primeira vez. Não sei se será a última. Mas hoje, sim, eu pensei em desistir.


Comecei o dia como quase todos os outros: já no modo multitarefa sem nem perceber. Logo cedo, os afazeres da casa me chamaram, como quem acena de longe dizendo "não esqueça de mim". Lavei louça, organizei brinquedos, preparei o almoço. Cumpri o ritual de todos os dias com a cabeça já acelerada, porque depois... depois vinha ele: o estudo.


Sentei-me na cadeira desconfortável — improvisei uma almofada para tentar amenizar — e me cerquei de tudo que poderia ajudar: cadernos abertos, computador ligado, bloco de anotações ao alcance da mão.


A missão do dia parecia simples na teoria: concluir os exercícios de inglês que haviam ficado pendentes e iniciar o novo conteúdo de matemática: lógica.


Eram 10h da manhã quando me coloquei nessa batalha.


O relógio correu. Deu meio-dia, depois 15h, depois 17h... e eu ainda não tinha terminado. A lógica, que deveria fazer sentido, parecia brincar de esconde-esconde comigo, debochando das minhas tentativas de encontrar o fio da meada.


Foi quando a casa encheu de vozes. Risadas, pedidos, chorinhos, mil histórias para contar. Meus filhos chegaram da escola.


Agitados. Precisando de mim. Com fome de atenção, de colo, de escuta. E eu ali, ainda atolada entre blocos de anotações, fórmulas, conectivos lógicos e exercícios inacabados.


A cabeça latejava.

O cansaço dava nó na garganta.

O barulho parecia amplificado, como se o mundo inteiro tivesse apertado o botão do "volume máximo".

E a lógica? Ah, essa já tinha saído pela janela faz tempo.


Foi aí que veio o pensamento:

"Eu não vou conseguir. Não dá. Não sou capaz. Talvez isso não seja pra mim."


Pensei em desistir. De verdade.

Foi um momento de desespero. Um minuto em que a pressão, o medo e a exaustão pareciam muito maiores do que qualquer sonho.


Mas respirei. Respirei fundo, como quem volta do fundo de um mergulho forçado.

Olhei para eles, meus pequenos, minhas razões. Olhei para mim, exausta, sim, mas ainda de pé.


E então me lembrei:

Eu não estou aqui porque é fácil.

Eu estou aqui porque é importante.

Porque eu escolhi abrir caminho em uma nova área, mesmo aos 31 anos, mesmo com tudo acontecendo ao redor.

Porque estudar tecnologia da informação, sendo mãe, dona de casa, esposa e profissional, não é um capricho.

É resistência. É futuro.


Hoje eu pensei em desistir. Mas sabe o que é bonito?

É que eu não desisti.

Nem da lógica, nem dos sonhos, nem de mim.


Amanhã pode ser difícil de novo. Talvez depois de amanhã também.

Mas já aprendi que a coragem não é silenciosa, polida, nem perfeita.

Às vezes, coragem é isso: continuar mesmo com a cabeça latejando, o barulho ecoando e a dúvida gritando lá dentro.


É assim que a gente segue.

Torta, descabelada, atrasada — mas de pé.

Sempre de pé.

Porque no fim das contas, não é sobre entender toda a lógica.

É sobre entender a si mesma: saber que você é feita de força, de amor, e de recomeços silenciosos.

Que os dias difíceis não anulam a sua coragem — eles provam que ela existe.

E que, mesmo tropeçando entre tarefas, sonhos e responsabilidades, você continua:

uma mãe, uma estudante, uma mulher que segue.

Sempre em frente. Sempre de pé. Sempre acreditando.


terça-feira, 15 de abril de 2025

O Vovô da Turma (e o último dia)

Ele chegou de mansinho no primeiro dia. Olhar curioso, passo firme e uma serenidade no rosto que destoava do nervosismo dos outros alunos — boa parte ainda no ensino médio. Mas ele estava lá, com seus mais de 65 anos e uma coragem silenciosa que ninguém ousava questionar.


Rapidamente, ganhou um apelido carinhoso na minha cabeça: o vovô da turma.


Era impossível não notar sua presença. Ficava sempre com o capacete de ciclista na cabeça — sem cerimônia, como quem sabe que praticidade vale mais que estética — e fazia questão de sentar-se nas primeiras fileiras. Sempre atento, sempre participativo. Cativou a todos com sua gentileza, sua disposição e aquela vontade bonita de aprender.


Outro dia, entre uma conversa e outra, ele contou um pouco da sua rotina. Com um certo encabulamento, como quem pede desculpas por ser ele mesmo, disse que vinha sempre com a mesma roupa: camiseta de proteção solar, bermuda, tênis e, claro, o inseparável capacete.

— “Saio da aula e vou direto pro trabalho…”, contou.


Trabalhava na construção civil. Isso mesmo. No meio da correria da semana, com as aulas presenciais às terças, ele dava um jeito. Deixava a vida dura lá fora por algumas horas e mergulhava no desafio de aprender algo completamente novo.


Hoje, ele chegou diferente. Sentou devagar, como quem precisava dizer algo. Esperou a turma se organizar, olhou ao redor e, com a voz firme e serena, nos disse:


— “Hoje é meu último dia aqui. A vida tá passando a 180 por hora, e eu não tô dando conta. Tenho me sentido meio fora de ritmo, como se estivesse atrapalhando o andamento da turma…”


A sala ficou em silêncio. Não aquele silêncio de surpresa, mas o de respeito.


Ele continuou:

— “Mas quero dizer a vocês: é possível. Mesmo com 65 anos. Mesmo com todos os desafios. Eu estive aqui. E isso, pra mim, já valeu muito.”


E ali, naquele momento, aprendi mais do que em qualquer slide.


Porque não era só sobre tecnologia, não era sobre velocidade ou performance. Era sobre coragem. Sobre reconhecer os próprios limites sem deixar de se orgulhar do caminho. Sobre tentar. Estar ali, entre jovens, cadernos, códigos e sonhos, foi um ato de bravura silenciosa.


Ele poderia ter saído sem dizer nada. Mas fez questão de se despedir, de encorajar, de nos lembrar que o simples fato de estar ali já era uma vitória.


Eu saí da sala pensando nele. Pensando na beleza de quem recomeça, mesmo quando o mundo parece já ter corrido demais. Pensando que há dignidade em parar, mas mais ainda em tentar.


O vovô da turma pode ter deixado o curso, mas deixou uma lição que nenhum professor ensinou: a vida não tem idade para aprender. E mesmo quando a gente decide parar, o importante é ter tido coragem de começar.


De capacete, de bermuda, nas primeiras fileiras e de coração aberto — ele ensinou a todos nós.

domingo, 6 de abril de 2025

Dois anos de diferença e uma festa só

Chegamos naquela fase curiosa — e engraçadíssima — em que todo mundo, sem exceção, olha para meus filhos e pergunta com a maior naturalidade do mundo:


— “São gêmeos?”


E eu, já com uma resposta ensaiada e um sorriso no canto do rosto, explico que não: Nael tem 5, Naeli tem 3. Dois anos exatos de diferença. E então vem o olhar de surpresa, seguido de um “Nossa, parecem tanto!”

E olha… até parecem mesmo.

Não só no tamanho — que já começa a se equilibrar — mas nas birras sincronizadas, nas vontades que surgem ao mesmo tempo, nas manias herdadas um do outro, nas conversas onde só eles se entendem e se apoiam, como se fossem aliados num plano secreto chamado “vamos deixar a mamãe maluca de amor e de cansaço”.

E por mais que eu saiba que não são gêmeos, às vezes me pego olhando para os dois e pensando que o universo fez uma dobradinha muito bem feita. São tão diferentes, mas têm um jeito de se completar que emociona. Quando um chora, o outro consola (ou chora junto). Quando um ri, o outro ri ainda mais alto. Quando um quer o brinquedo do outro… bem, aí é guerra — mas uma guerra cheia de amor por baixo da gritaria.

Esse ano, mais uma vez, decidimos fazer o aniversário dos dois juntos. Uma festa dupla, colorida, barulhenta e linda. Só que com dois temas diferentes: de um lado, unicórnios, cheios de brilho e magia; do outro, Hot Wheels, com rampas radicais e carrinhos por toda parte. Foi como se o arco-íris tivesse batido de frente com uma pista de corrida — e funcionou perfeitamente.

Nael completou 5. Está cheio de perguntas complexas, argumentos convincentes e uma alma de inventor. Naeli fez 3. Doce, determinada, cheia de afeto e de decisões firmes para uma pessoa tão pequena.

Na festa, ele ajudou a irmã a apagar as velas dela. Foi um sopro coletivo de carinho. E ela sorriu, orgulhosa do irmão mais velho e cúmplice.

E eu ali, no meio de tudo, com os olhos cheios d’água e o coração explodindo de amor por esses dois seres tão incríveis e intensos.

Talvez eles não sejam gêmeos de nascença, mas são gêmeos de alma. Parceiros de vida, irmãos de travessura, cúmplices de infância. E eu? Eu sigo aqui, vivendo o privilégio — e a loucura — de ser mãe em dobro, em uma casa onde o amor vem sempre aos pares.

Mesmo com dois anos de diferença. Mesmo com temas separados. Porque, na prática, eles são juntos. Sempre.



quarta-feira, 19 de março de 2025

A volta à sala de aula (E o vovô da turma)

Voltar a estudar depois dos 30 não é só sobre abrir um caderno novo. É sobre abrir espaço dentro de si mesma.

Você já tem uma caminhada — diploma na mão, especializações no currículo, uma profissão construída com esforço e propósito. Já viveu o mundo do trabalho, já ocupou seu lugar, já ajudou muita gente a encontrar o próprio caminho.


E ainda assim, aqui está você. Começando de novo.


Não porque faltava algo, mas porque faltava esse algo. A inquietação boa, o desejo de aprender uma nova linguagem, de atravessar fronteiras que antes pareciam distantes — e agora são desafio e combustível.


No primeiro dia de aula, você chega com sua mochila e sua coragem. Olha ao redor: rostos jovens, bem jovens. Alguns ainda no ensino médio, outros recém-saídos dele. Conversas rápidas, sorrisos tímidos ou agitados, nervosismo disfarçado de distração.


E então, lá no fundo, um senhor. Cabelos brancos, passos tranquilos. Um olhar que já viu muito, mas ainda quer ver mais.


O vovô da turma, você pensa, e sorri por dentro.


E nessa sala, cheia de idades e mundos diferentes, você percebe: não existe idade certa para aprender. Existe vontade. Existe coragem. Existe a humildade de se sentar em uma carteira e dizer: "Sim, eu tenho bagagem. Mas ainda quero mais."


Começar uma nova área — como a tecnologia — é um pouco como mudar de planeta. Tudo é estranho no começo: termos novos, conceitos que desafiam, sistemas que parecem falar outra língua. Mas você sabe, com a maturidade de quem já percorreu outras estradas, que a travessia vale a pena.


Porque agora o aprendizado vem com outra motivação. Não há mais a ansiedade de agradar, a cobrança de provar algo pra alguém. Você estuda por escolha, por desejo, por visão de futuro.


E isso, ah, isso faz toda a diferença.


Entre anotações, risos contidos e lembretes no celular, você descobre que aprender nunca foi tão bonito. Porque agora você escuta mais, observa mais, entende o valor do tempo e da troca. Você aprende com quem ainda está descobrindo o mundo… e com quem já viveu o bastante pra te ensinar com silêncio e presença.

E que honra é essa, né? Aprender com quem ainda tem todo o tempo do mundo, e com quem já viveu o bastante pra saber que nunca é tarde pra tentar.


Essa sala de aula — com seus adolescentes, seus profissionais em transição, seu vovô curioso — é uma mistura linda de possibilidades. E você está exatamente onde deveria estar.


Porque recomeçar com consciência e coragem é um dos atos mais poderosos que alguém pode fazer por si.

E você está fazendo isso.


Com tudo o que já foi… e tudo o que ainda quer ser.

quinta-feira, 13 de março de 2025

A Mãe que trabalha em casa (ou tenta)



Ser mãe que trabalha em casa parece, à primeira vista, uma ideia genial. Afinal, você vai poder conciliar tudo: trabalho, filhos, casa, estudos, tempo de qualidade em família, refeições equilibradas, unhas feitas e meditação matinal, né? Só que não.

A realidade é que ser mãe empreendedora, pesquisadora, dona de casa, esposa, terapeuta emocional, nutricionista improvisada e contadora de histórias ao mesmo tempo dá um cansaço que nem o café mais forte resolve.

Agora, coloque nessa equação um filho doente.

Pronto. Bem-vinda ao modo sobrevivência.

Você está lá, tentando gravar um vídeo, escrever um relatório, terminar aquele projeto importantíssimo e… atchim! Vem o primeiro chamado: “mãããe, tô com febre!”. Em minutos, a casa se transforma em um misto de enfermaria com playground desorganizado, onde o termômetro é rei e o trabalho vira algo que você tenta fazer entre uma colherada de antitérmico e outra.

O computador aberto na mesa da cozinha, a chamada de vídeo que você tenta manter com dignidade enquanto segura uma criança no colo e oferece água para a outra. E aí… plim! — o Notion avisa: “Lembrete: reunião às 14h”.

Você respira fundo. Quatorze horas? O termômetro marca trinta e oito e meio, a roupa do corpo é a terceira do dia, e o cabelo já desistiu da aparência. Você abre o Notion e marca: “Adiar”. Porque hoje o compromisso mais importante é estar ali.

Mas, no meio do caos, há beleza.

Porque essa mãe que trabalha em casa, mesmo cansada, esticada ao limite da sanidade, segue. Com olheiras e amor. Com a agenda bagunçada, mas o coração cheio. Ela dá conta do que importa.

Ela sabe a hora de pausar o trabalho para fazer um carinho, de virar a madrugada com termômetro na mão, de transformar o almoço improvisado em um momento de acolhimento. E no outro dia? Ela recomeça.

Nem sempre com tudo pronto. Nem sempre com tudo no lugar. Mas com uma força que, honestamente, só mãe tem.

Então, se hoje o dia foi difícil, se o trabalho não andou, se os filhos precisaram de você mais do que o mundo lá fora, respira. Você deu o seu melhor.

Porque no fim das contas, trabalhar em casa sendo mãe é uma ginástica emocional e física, com zero tempo livre e aplausos silenciosos — mas o impacto é gigante. Nos seus filhos. No seu lar. E em você mesma.

Você não é “só” mãe. Você é tudo ao mesmo tempo. E mesmo que ninguém veja, você está fazendo um trabalho extraordinário.

Coragem, mãe. Amanhã tem mais. E você vai continuar dando um show — mesmo de pijama, com um pouco de pomada antitérmica na blusa e o Notion piscando no fundo.

sábado, 8 de março de 2025

Para todas as mulheres que correm com os lobos


Hoje é o dia da Mulher. Mas ser mulher é mais do que uma data, é um caminho. Um caminho de força, de resiliência, de luta e, acima de tudo, de reconexão com quem realmente somos.

Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que Correm com os Lobos, nos lembra da Mulher Selvagem, aquela que vive dentro de nós, que sabe, que sente, que pressente. Mas, ao longo da vida, quantas vezes nos afastamos dela? Quantas vezes fomos ensinadas a silenciar nossa voz, a nos encaixar, a caber em espaços que não nos pertencem?

A boa notícia é que essa mulher nunca desaparece. Ela dorme dentro de nós, esperando o momento de despertar. Esperando que a gente lembre que somos fortes, instintivas, criativas, donas do nosso próprio caminho.

O mundo tenta nos domesticar, nos moldar, nos dizer o que podemos ou não ser. Mas, como diz Clarissa: "Ser nós mesmas causa medo em muita gente. A melhor resposta a isso? Assustar mais algumas pessoas."

Então, hoje, celebre quem você é. A mulher que resiste, que cria, que renasce a cada desafio. A mulher que carrega histórias, que transforma dor em força, que se recusa a ser menos do que nasceu para ser.

Que possamos correr com os lobos, dançar ao som da nossa própria verdade e nunca mais duvidar do poder que existe dentro de nós.


Feliz da da mulher!

quinta-feira, 6 de março de 2025

Para meu Pai, no seu dia

 


Hoje é o dia dele. Do homem que me ensinou tanto sem precisar de grandes discursos, apenas com o jeito de viver.

Meu pai me ensinou a verdade – não aquela que muda conforme a conveniência, mas a que se sustenta na honestidade e no caráter. Me ensinou a simplicidade – a ver valor nas coisas pequenas, no que realmente importa. Com ele, aprendi que família é laço, é porto seguro, é lugar onde sempre podemos voltar.

Foi ele quem me mostrou, nos gestos do dia a dia, que desistir nunca é uma opção. Que cair faz parte, mas levantar é essencial. Que ser forte não significa nunca sentir medo, mas seguir em frente apesar dele.

E acima de tudo, meu pai me ensinou a ser eu mesma. A não precisar me moldar para caber em espaços que não me pertencem. A viver com autenticidade e com coragem.

Hoje, no seu aniversário, quero agradecer por tudo isso. Por ser exemplo, por ser presença, por ser o alicerce de tantas coisas boas em minha vida.


Feliz aniversário, pai! Que a vida te retribua em amor tudo o que você já nos deu. 


Te amo!

terça-feira, 4 de março de 2025

Dias de descanso

 


Nem sempre descansar é sobre dormir até tarde ou viajar para longe. Às vezes, descanso é simplesmente respirar sem pressa, dar uma pausa nos pensamentos acelerados, soltar o peso invisível que carregamos no peito.

Descansamos do cansaço óbvio, dos dias corridos, das obrigações que parecem nunca ter fim. Mas também precisamos descansar daquilo que nos aprisiona — expectativas alheias, cobranças internas, aquela voz crítica dentro da nossa cabeça que nunca nos dá trégua.

O verdadeiro descanso não está só no corpo, mas na alma. Está no silêncio que acolhe, na música que embala, no livro que nos transporta, no tempo que nos permitimos simplesmente ser, sem a necessidade de produzir, provar ou justificar.

Então, que a gente aprenda a se dar esses momentos. Porque a vida exige demais da gente. E, para seguir em frente, é preciso saber parar.

domingo, 2 de março de 2025

Para minha Mãe, que é luz e força

 

Hoje é dia de festa, e não de qualquer festa: é o dia dela, da mulher que me ensinou tudo o que sei sobre amor, coragem e alegria. Minha mãe. Aquela que carrega no peito um lema simples, mas poderoso: "Feliz, alegre e forte".

E ela é exatamente assim. Daquelas pessoas que não se deixam abalar fácil, que enfrentam a vida de cabeça erguida e um sorriso no rosto, mesmo quando os dias são cinzentos. Ela ensina que felicidade é escolha, que a alegria está nas pequenas coisas e que a força não vem da ausência de desafios, mas da maneira como os enfrentamos.

Minha mãe é luz. É aquela presença que transforma qualquer ambiente, que acolhe, que resolve, que abraça forte e faz tudo parecer um pouco mais leve.

Hoje, no seu aniversário, não poderia desejar nada menos do que aquilo que ela espalha por onde passa: felicidade genuína, momentos alegres e uma força que continue guiando seus passos.

Mãe, que seu lema continue sendo sua verdade, que sua vida seja tão bonita quanto o amor que você espalha. Obrigada por ser esse exemplo de mulher incrível!

Feliz aniversário!

Te amo! 


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O manual da culpa materna – volume infinito


Se existe um sentimento que acompanha a maternidade desde o primeiro teste positivo, ele se chama culpa. E não é qualquer culpa, é aquela culpa que cresce, se expande, se multiplica e parece ter vida própria. Como essa ilustração brilhantemente representa, a lista de razões para culpar uma mãe é tão extensa que um único volume não dá conta. Na verdade, suspeito que seja uma coleção infinita, sempre com edições revisadas e ampliadas.

A culpa materna começa antes mesmo da criança nascer. Na gravidez, ela já dá os primeiros sinais. Começa com perguntas inocentes que nos fazem perder o sono:


— Estou me alimentando bem?

— Será que esse café vai fazer mal ao bebê?

— Dormi do lado errado?


E então o bebê nasce, e aí a culpa se instala como uma hóspede permanente.

Se você amamenta, sente culpa porque acha que poderia estar fazendo melhor. Se não amamenta, sente culpa porque disseram que "o leite materno é tudo". Se dá colo demais, está mimando. Se coloca no berço, está sendo fria. Se dorme junto, está criando dependência. Se tenta ensinar a dormir sozinho, está sendo insensível.

Cada decisão parece um teste de múltipla escolha, só que todas as alternativas estão erradas aos olhos de alguém.


E aí vem a introdução alimentar.

— Está oferecendo comida orgânica?

— Mas já deu açúcar?

— Deixou a criança explorar os alimentos ou deu na colher?


E assim seguimos, num looping infinito de dúvidas e comparações.

Mas o ápice da culpa materna vem com o tempo. Porque o bebê cresce e, com ele, as novas edições do grande livro da culpa. Agora é a escola, os horários, a rotina. É o equilíbrio entre carreira e maternidade, entre autocuidado e entrega total. Se trabalha muito, sente culpa por não estar presente o suficiente. Se decide ficar mais tempo com os filhos, sente culpa por não estar investindo em si mesma.

E então, numa manhã qualquer, você olha para essa pilha de culpas e percebe: nunca vai dar para ganhar esse jogo. Porque ser mãe não é sobre perfeição. É sobre fazer o melhor que pode com o que tem. É sobre aprender a ignorar os palpites não solicitados, sobre escolher o que realmente importa e aceitar que errar faz parte do processo.

A verdade é que esse livro da culpa materna só existe porque nós mesmas nos cobramos demais. A sociedade também faz sua parte, claro, mas somos nós que precisamos nos libertar dessa necessidade de atender a todas as expectativas.

Então, que tal começar a reescrever essa história? Ao invés de carregar essa enciclopédia da culpa, podemos criar um livro de conquistas maternas. Um livro que celebre os pequenos e grandes acertos, que reconheça o esforço, que nos lembre de que estamos fazendo um trabalho incrível — mesmo nos dias de cansaço, de fast food improvisado e de histórias para dormir contadas com a voz falhando.

Porque, no fim das contas, a única coisa que nossos filhos realmente precisam é de uma mãe que os ame. E isso, sem dúvida, nós sabemos fazer muito bem.


O seu melhor não é o mesmo todos os dias. E tá tudo bem!


E tá tudo bem!


Tem dias em que você acorda cedo, faz um café saudável, responde mensagens no horário, entrega tudo antes do prazo e ainda sobra energia para uma caminhada no fim da tarde.

E tem dias em que levantar da cama já é uma vitória. O café fica frio, os prazos correm atrás de você, e a única caminhada do dia é até a geladeira.

Mas sabe o que é curioso? Em ambos os dias, você deu o seu melhor.

Porque o melhor não é um padrão fixo, não é sempre sobre alta performance, disposição infinita ou produtividade absurda. O seu melhor de hoje pode ser criar algo incrível, e o de amanhã pode ser simplesmente sobreviver ao dia.

Então, seja gentil consigo mesmo. Nem sempre dá para ser extraordinário. E tudo bem. Você não precisa vencer o mundo todos os dias. Às vezes, só não perder para ele já é suficiente.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A evolução silenciosa


Esta crônica nasceu de uma reflexão inspirada em uma animação viral que circulou nas redes sociais.


A partir daqui leia o resumo 

A história de uma mulher e sua evolução após o casamento levanta uma questão inquietante: essa mudança é uma escolha genuína ou um roteiro já traçado pela cultura em que vivemos? O casamento a faz regredir ou é a própria sociedade que redefine seu papel de forma limitante?

Até que ponto as mulheres têm liberdade para evoluir sem serem enquadradas em expectativas pré-estabelecidas?

Em uma análise que combina teoria feminista e crítica social, exploro como a sociedade frequentemente impõe limites às mulheres, mas também como, mesmo nesse contexto, cada uma tem o poder de redefinir seu próprio caminho.

Em uma sociedade que historicamente não ofereceu as mesmas oportunidades ao gênero feminino, o casamento muitas vezes é visto como um ponto de estagnação para a mulher. No entanto, essa visão ignora a complexidade da evolução pessoal.

A mulher, ao se casar, não se torna automaticamente uma figura domesticada.

Pelo contrário, ela pode continuar a crescer, evoluir e redefinir seu papel na sociedade. A crítica, então, deveria se voltar à estrutura que limita, e não à mulher que, ao casar, escolhe ou é condicionada a seguir um caminho específico.

A verdadeira evolução está em permitir que cada mulher escolha seu próprio caminho, sem que a sociedade imponha limites ou expectativas.



A partir daqui leia na íntegra 


Desde pequenas, as meninas aprendem que há um caminho seguro a seguir. Brincam de casinha, cuidam de bonecas, ouvem histórias de princesas que encontram no casamento o desfecho de suas jornadas. O “felizes para sempre” quase sempre vem atrelado ao matrimônio, como se a linha de chegada da vida estivesse nessa união. Mas e depois? O que acontece com essa mulher que antes era cheia de sonhos, ambições e desejos próprios?

Para algumas, o casamento é, de fato, uma escolha. Uma decisão consciente de dividir a vida com alguém, de construir uma história compartilhada. Mas, para muitas outras, essa não é exatamente uma escolha no sentido pleno da palavra. É uma trilha já desenhada, um destino quase inevitável, uma imposição sutil que surge em perguntas do tipo: “E os namoradinhos?” na infância, “Vai casar quando?” na juventude, e “E os filhos?” logo depois. Como se seguir esse percurso fosse mais do que esperado — fosse uma obrigação natural.

E é aqui que surge a reflexão: essa mulher mudou porque quis, ou porque esperavam que ela mudasse? Seu casamento a levou à evolução, ou a colocou em um lugar de invisibilidade? Quantas mulheres já ouviram frases como “Depois que casou, sumiu!”, como se sua identidade tivesse sido engolida pelo novo papel de esposa e, mais tarde, de mãe?

A sociedade cobra um preço alto da mulher casada. Aplaude sua dedicação ao lar, mas questiona sua ausência no mercado de trabalho. Exalta sua maternidade, mas a condena caso queira manter sua independência. Se ela opta por não casar, por não ter filhos, recebe olhares de reprovação. Se decide seguir o caminho esperado, muitas vezes se vê aprisionada em um papel que não escolheu por completo.

O casamento deveria ser uma decisão de liberdade, e não uma sentença velada de abnegação. Algumas mulheres casadas encontram novas formas de crescer, reinventam suas vidas dentro dessa estrutura e constroem um espaço de realização pessoal ao lado de seus parceiros. Outras, no entanto, percebem que sua identidade foi diluída em meio a tantas expectativas alheias.

Mas será que a sociedade estaria pronta para permitir que cada mulher escolhesse seu caminho sem rótulos e julgamentos? Será que a evolução da mulher é realmente aceita quando ela foge dos padrões esperados? Ou continuamos, de forma sutil, direcionando suas escolhas antes mesmo que ela perceba?

A resposta para essas perguntas talvez não seja simples. Mas uma coisa é certa: a verdadeira evolução de uma mulher não está no casamento ou na solteirice, na maternidade ou na carreira. Está na liberdade de escolha. Na possibilidade de decidir sem culpa, sem pressões e sem amarras invisíveis. Afinal, evolução não é seguir um caminho já trilhado — é ter a chance de traçar o próprio.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Catarina, 10 anos de sonhos

Hoje é dia de festa, de bolo, de velas acesas e desejos soprados ao vento. Hoje Catarina faz 10 anos. Dez! Como o tempo ousa passa tão rápido?

Desde que chegou, trouxe um brilho especial, aquela mistura encantadora de inteligência e imaginação sem limites. Sempre foi astuto, esperado demais para a idade. Quando conversamos, às vezes até esqueço que ainda nem é adolescente — tão cheia de ideias, tão dona de si.


Catarina lê. E quem lê, sonha. E quem sonha, voa. Ela devora histórias como se fossem segredos escondidos em páginas, criando mundos onde tudo é possível. Sempre que tenho um texto de aventura para mostrar, sei exatamente para quem enviar: para o céu de titia , minha Catarina.

Hoje, ao completar 10 anos, ela não é mais aquela menininha pequena, mas também não é ainda a jovem que logo será. Está nesse meio do caminho bonito, onde a infância ainda colore os dias, mas uma curiosidade já a leva para longe. E eu a observo, cheia de orgulho, sabendo que o mundo é pequeno demais para o tamanho dos sonhos que ela tem.

Feliz aniversário, minha primeira sobrinha menina! Que a vida continue sendo esse livro incrível que você lê com tanta excitação. E que, entre páginas e aventuras, você nunca deixe de sonhar. Titia te ama!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O aniversário da minha nova coluna

Assim como a folha encontra força no vento para seguir sem caminho, você também é capaz de enfrentar e superar seus limites. A cada passo, você cultiva o auto cuidado e descobre que sua força não tem fim.  


Todo mundo carrega histórias. Algumas ficam guardadas em álbuns de fotos, outras em cicatrizes que o corpo e a vida nos deixam. A minha, marcada por uma cirurgia de hérnia de disco, é daquelas que carrego como um lembrete constante: sobreviver não era opcional, era uma necessidade.

Lembro-me da dor, intensa e constante. Não era apenas física, mas também emocional, cansativa, quase esmagadora. Passei por oito meses de luta: fisioterapia, remédios e até um procedimento que, no final, não valeu a pena. E, em meio a tudo isso, eu pensava na minha mãe, que também enfrentou a mesma batalha. Na força dela, encontrei parte da minha própria coragem.

Quando a cirurgia chegou, veio com ela o medo. Medo de que algo desse errado, medo do desconhecido, medo das limitações que poderiam ficar. Mas enfrentei. Enfrentei o medo, enfrentei as dores e, principalmente, resisti ao negativismo que, por vezes, chegava pelas palavras de quem deveria apoiar. Foi preciso fechar os ouvidos para críticas e abrir o coração para a esperança.

Hoje, ainda sinto dores. Ainda há limitações. Não é perfeito, mas é minha vitória. Estou aqui para contar que, apesar dos obstáculos, segui em frente. A cicatriz que ficou não é um lembrete de fraqueza, mas de superação. Ela me diz que resistir valeu a pena, que lutar vale a pena, mesmo quando tudo parece incerto.

A cada dia, continuo me cuidando e me fortalecendo. Sou grata por ter enfrentado esse processo, por não ter desistido, por ter escolhido lutar. E, quando olho para os meus filhos, entendo que minha força não era só minha — era também deles. Porque resistir não era apenas uma escolha pessoal, mas uma necessidade para continuar sendo mãe, exemplo, porto seguro.

Neste aniversário da minha cirurgia, celebro mais do que a vitória sobre a dor. Celebro a coragem de encarar o que parecia impossível, a força que encontrei em mim mesma e a certeza de que, por mais difícil que seja, sempre há como seguir em frente. Um passo de cada vez. Um dia de cada vez. Sempre com fé e resiliência.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Onde fazemos a diferença?

 


Perspectivas. Essa é a palavra que tem me rondado nos últimos dias. Afinal, o que realmente queremos? Alguns sonham com um título a mais, algo que lhes traga, ao final do mês, um pouco mais de conforto. E tudo bem. Há algo de justo e necessário em buscar estabilidade. Mas e além disso? Onde está a diferença que queremos fazer?

No trabalho, nas conversas que temos, nos projetos que escolhemos investir nosso tempo... Estamos realmente deixando uma marca ou apenas cumprindo expectativas?

Há quem pense que fazer a diferença exige grandes gestos, revoluções inteiras. Mas, às vezes, ela está no detalhe. No cuidado ao explicar algo a um colega, no empenho em ouvir mais do que falar, em transformar pequenas ideias em algo significativo para alguém.

Na vida pessoal, a perspectiva é ainda mais complexa. O que realmente queremos? Ser reconhecidos? Amados? Sentir que pertencemos? Ou será que buscamos, no fundo, a sensação de que estamos construindo algo maior do que nós mesmos? Talvez o verdadeiro desafio seja equilibrar essas vontades. Não é fácil.


Quando olho para meus projetos, me pergunto: eles me movem? Me desafiam? Me permitem criar algo que faça sentido, seja para mim, seja para os outros? A resposta, às vezes, é incômoda. Nem sempre estamos no lugar onde queremos estar. Nem sempre fazemos o que gostaríamos de fazer.

Mas aqui está a beleza: sempre há tempo para mudar. A diferença começa quando olhamos para dentro e decidimos, de maneira honesta, qual é o nosso propósito. Ele não precisa ser grandioso aos olhos do mundo. Basta que seja genuíno para nós.

Seja na profissão ou na vida pessoal, a diferença que fazemos está nas escolhas que fazemos. Nas pessoas que tocamos. Nas histórias que ajudamos a construir. E, no final, talvez a pergunta mais importante não seja o que queremos alcançar?, mas quem queremos nos tornar?

A vida é sobre perspectivas, sobre enxergar possibilidades onde outros só veem obstáculos. E a diferença que queremos fazer — seja ela grande ou pequena — começa quando decidimos que nossa presença no mundo precisa ser intencional. Afinal, não importa o lugar onde estamos. O que importa é o impacto que deixamos.


sábado, 11 de janeiro de 2025

“Não querer caber, liberta” – Um Diálogo Interno

 


— O que significa “não querer caber, liberta”?

Significa abandonar a necessidade de se moldar às expectativas alheias. É entender que não precisamos ser menores para agradar, não precisamos nos encaixar em padrões que não foram feitos por nós ou para nós. É o início de um voo, o rompimento de correntes invisíveis.


— Mas por que sentimos tanta necessidade de caber?

Porque fomos ensinadas assim. Como mulheres, crescemos ouvindo que devemos ser agradáveis, dóceis, discretas. Que devemos caber nos papéis que nos são impostos: a filha perfeita, a mãe incansável, a profissional exemplar, a amiga disponível. Aprendemos a nos diminuir para que os outros se sintam confortáveis.


— E o que acontece quando decidimos não caber?

Liberdade. A vida ganha cores que antes estavam apagadas. Passamos a ouvir nossa própria voz e a respeitá-la. É assustador no começo, claro, porque nem todos vão aceitar essa mudança. Mas é também libertador. De repente, percebemos que somos imparáveis, resilientes, e que nossa força está em sermos quem realmente somos.


— Não caber cansa?

Sim, às vezes. Ser mulher e não aceitar os limites impostos exige energia, coragem, e, muitas vezes, solidão. Mas cansa ainda mais viver tentando caber. O peso de ser quem não somos é maior do que o esforço de sermos autênticas.


— Como conciliar isso com o fato de que somos tantas coisas ao mesmo tempo?

A chave está em acolher todas as nossas facetas. Somos imparáveis, mas também humanas. Temos dias de força e dias de pausa. Não saber parar faz parte da nossa essência, mas precisamos lembrar que descansar também é uma forma de resistência. Ser resiliente não significa ser invulnerável, mas sim saber se refazer, se adaptar, se transformar.


— E se o mundo não gostar de quem nos tornamos?

Que assim seja. Não estamos aqui para caber nos moldes do mundo, mas para criar o nosso espaço, do nosso jeito. Quando paramos de nos preocupar em agradar, começamos a atrair quem realmente nos entende, quem respeita nossa liberdade e nossa autenticidade.


“Não querer caber, liberta.” E, ao nos libertarmos, descobrimos que somos muito maiores do que imaginávamos. Não fomos feitas para caber. Fomos feitas para transbordar.


sábado, 4 de janeiro de 2025

Limonadas e expectativas

 

Hoje parei para refletir. Sabe aqueles dias em que o coração está pesado e as dúvidas aparecem entre uma tarefa e outra? Pois é. Fazia tempo que não precisava fazer tantas limonadas com os limões que a vida jogou.

Teve de tudo: frustrações com pessoas próximas, projetos que não alavancaram, expectativas quebradas. É engraçado, ou talvez irônico, perceber que, muitas vezes, quem está mais perto é quem menos enxerga o que você tem a oferecer. São eles, aqueles que conhecem sua história, que deveriam ser os primeiros a valorizar seu trabalho, sua criatividade, seu talento. Mas, por algum motivo, não são.

A gente cria essas pequenas ilusões, não é? Acredita que aquela pessoa vai lembrar de você na hora de uma oportunidade, que vai te procurar, que vai reconhecer o que você tem de especial. E aí vem a realidade, como quem puxa o tapete, e a gente percebe que não é bem assim. Não por maldade, talvez, mas porque as pessoas nem sempre veem o que está tão evidente para nós.

Mas sabe o que me conforta? É que as frustrações ensinam. Não sobre os outros, mas sobre nós mesmos. Aprendemos a calibrar expectativas, a não depender da validação alheia, e, principalmente, a seguir em frente. Porque, no fundo, cada decepção com um amigo ou com um projeto que não deu certo abre espaço para novas possibilidades.

Amizades, trabalho, projetos... Tudo isso é feito de ciclos. Alguns se encerram, outros começam, e o mais importante é manter a essência intacta. Continuar sendo criativa, continuar acreditando no que você faz, mesmo que os outros não vejam. Porque, às vezes, é naqueles momentos de maior frustração que a gente cria as melhores ideias, transforma limões em limonadas que, lá na frente, vão adoçar não só o nosso dia, mas o de muitos outros.

Então, hoje decidi que não vou guardar mágoas. Vou guardar aprendizado. Vou abrir espaço para as pessoas e os projetos certos, aqueles que chegam para somar, que fazem sentido. E, enquanto isso, vou continuar criando, inventando e acreditando. Porque, no final das contas, quem faz a melhor limonada somos nós mesmos.