domingo, 6 de abril de 2025

Dois anos de diferença e uma festa só

Chegamos naquela fase curiosa — e engraçadíssima — em que todo mundo, sem exceção, olha para meus filhos e pergunta com a maior naturalidade do mundo:


— “São gêmeos?”


E eu, já com uma resposta ensaiada e um sorriso no canto do rosto, explico que não: Nael tem 5, Naeli tem 3. Dois anos exatos de diferença. E então vem o olhar de surpresa, seguido de um “Nossa, parecem tanto!”

E olha… até parecem mesmo.

Não só no tamanho — que já começa a se equilibrar — mas nas birras sincronizadas, nas vontades que surgem ao mesmo tempo, nas manias herdadas um do outro, nas conversas onde só eles se entendem e se apoiam, como se fossem aliados num plano secreto chamado “vamos deixar a mamãe maluca de amor e de cansaço”.

E por mais que eu saiba que não são gêmeos, às vezes me pego olhando para os dois e pensando que o universo fez uma dobradinha muito bem feita. São tão diferentes, mas têm um jeito de se completar que emociona. Quando um chora, o outro consola (ou chora junto). Quando um ri, o outro ri ainda mais alto. Quando um quer o brinquedo do outro… bem, aí é guerra — mas uma guerra cheia de amor por baixo da gritaria.

Esse ano, mais uma vez, decidimos fazer o aniversário dos dois juntos. Uma festa dupla, colorida, barulhenta e linda. Só que com dois temas diferentes: de um lado, unicórnios, cheios de brilho e magia; do outro, Hot Wheels, com rampas radicais e carrinhos por toda parte. Foi como se o arco-íris tivesse batido de frente com uma pista de corrida — e funcionou perfeitamente.

Nael completou 5. Está cheio de perguntas complexas, argumentos convincentes e uma alma de inventor. Naeli fez 3. Doce, determinada, cheia de afeto e de decisões firmes para uma pessoa tão pequena.

Na festa, ele ajudou a irmã a apagar as velas dela. Foi um sopro coletivo de carinho. E ela sorriu, orgulhosa do irmão mais velho e cúmplice.

E eu ali, no meio de tudo, com os olhos cheios d’água e o coração explodindo de amor por esses dois seres tão incríveis e intensos.

Talvez eles não sejam gêmeos de nascença, mas são gêmeos de alma. Parceiros de vida, irmãos de travessura, cúmplices de infância. E eu? Eu sigo aqui, vivendo o privilégio — e a loucura — de ser mãe em dobro, em uma casa onde o amor vem sempre aos pares.

Mesmo com dois anos de diferença. Mesmo com temas separados. Porque, na prática, eles são juntos. Sempre.



quarta-feira, 19 de março de 2025

A volta à sala de aula (E o vovô da turma)

Voltar a estudar depois dos 30 não é só sobre abrir um caderno novo. É sobre abrir espaço dentro de si mesma.

Você já tem uma caminhada — diploma na mão, especializações no currículo, uma profissão construída com esforço e propósito. Já viveu o mundo do trabalho, já ocupou seu lugar, já ajudou muita gente a encontrar o próprio caminho.


E ainda assim, aqui está você. Começando de novo.


Não porque faltava algo, mas porque faltava esse algo. A inquietação boa, o desejo de aprender uma nova linguagem, de atravessar fronteiras que antes pareciam distantes — e agora são desafio e combustível.


No primeiro dia de aula, você chega com sua mochila e sua coragem. Olha ao redor: rostos jovens, bem jovens. Alguns ainda no ensino médio, outros recém-saídos dele. Conversas rápidas, sorrisos tímidos ou agitados, nervosismo disfarçado de distração.


E então, lá no fundo, um senhor. Cabelos brancos, passos tranquilos. Um olhar que já viu muito, mas ainda quer ver mais.


O vovô da turma, você pensa, e sorri por dentro.


E nessa sala, cheia de idades e mundos diferentes, você percebe: não existe idade certa para aprender. Existe vontade. Existe coragem. Existe a humildade de se sentar em uma carteira e dizer: "Sim, eu tenho bagagem. Mas ainda quero mais."


Começar uma nova área — como a tecnologia — é um pouco como mudar de planeta. Tudo é estranho no começo: termos novos, conceitos que desafiam, sistemas que parecem falar outra língua. Mas você sabe, com a maturidade de quem já percorreu outras estradas, que a travessia vale a pena.


Porque agora o aprendizado vem com outra motivação. Não há mais a ansiedade de agradar, a cobrança de provar algo pra alguém. Você estuda por escolha, por desejo, por visão de futuro.


E isso, ah, isso faz toda a diferença.


Entre anotações, risos contidos e lembretes no celular, você descobre que aprender nunca foi tão bonito. Porque agora você escuta mais, observa mais, entende o valor do tempo e da troca. Você aprende com quem ainda está descobrindo o mundo… e com quem já viveu o bastante pra te ensinar com silêncio e presença.

E que honra é essa, né? Aprender com quem ainda tem todo o tempo do mundo, e com quem já viveu o bastante pra saber que nunca é tarde pra tentar.


Essa sala de aula — com seus adolescentes, seus profissionais em transição, seu vovô curioso — é uma mistura linda de possibilidades. E você está exatamente onde deveria estar.


Porque recomeçar com consciência e coragem é um dos atos mais poderosos que alguém pode fazer por si.

E você está fazendo isso.


Com tudo o que já foi… e tudo o que ainda quer ser.

quinta-feira, 13 de março de 2025

A Mãe que trabalha em casa (ou tenta)



Ser mãe que trabalha em casa parece, à primeira vista, uma ideia genial. Afinal, você vai poder conciliar tudo: trabalho, filhos, casa, estudos, tempo de qualidade em família, refeições equilibradas, unhas feitas e meditação matinal, né? Só que não.

A realidade é que ser mãe empreendedora, pesquisadora, dona de casa, esposa, terapeuta emocional, nutricionista improvisada e contadora de histórias ao mesmo tempo dá um cansaço que nem o café mais forte resolve.

Agora, coloque nessa equação um filho doente.

Pronto. Bem-vinda ao modo sobrevivência.

Você está lá, tentando gravar um vídeo, escrever um relatório, terminar aquele projeto importantíssimo e… atchim! Vem o primeiro chamado: “mãããe, tô com febre!”. Em minutos, a casa se transforma em um misto de enfermaria com playground desorganizado, onde o termômetro é rei e o trabalho vira algo que você tenta fazer entre uma colherada de antitérmico e outra.

O computador aberto na mesa da cozinha, a chamada de vídeo que você tenta manter com dignidade enquanto segura uma criança no colo e oferece água para a outra. E aí… plim! — o Notion avisa: “Lembrete: reunião às 14h”.

Você respira fundo. Quatorze horas? O termômetro marca trinta e oito e meio, a roupa do corpo é a terceira do dia, e o cabelo já desistiu da aparência. Você abre o Notion e marca: “Adiar”. Porque hoje o compromisso mais importante é estar ali.

Mas, no meio do caos, há beleza.

Porque essa mãe que trabalha em casa, mesmo cansada, esticada ao limite da sanidade, segue. Com olheiras e amor. Com a agenda bagunçada, mas o coração cheio. Ela dá conta do que importa.

Ela sabe a hora de pausar o trabalho para fazer um carinho, de virar a madrugada com termômetro na mão, de transformar o almoço improvisado em um momento de acolhimento. E no outro dia? Ela recomeça.

Nem sempre com tudo pronto. Nem sempre com tudo no lugar. Mas com uma força que, honestamente, só mãe tem.

Então, se hoje o dia foi difícil, se o trabalho não andou, se os filhos precisaram de você mais do que o mundo lá fora, respira. Você deu o seu melhor.

Porque no fim das contas, trabalhar em casa sendo mãe é uma ginástica emocional e física, com zero tempo livre e aplausos silenciosos — mas o impacto é gigante. Nos seus filhos. No seu lar. E em você mesma.

Você não é “só” mãe. Você é tudo ao mesmo tempo. E mesmo que ninguém veja, você está fazendo um trabalho extraordinário.

Coragem, mãe. Amanhã tem mais. E você vai continuar dando um show — mesmo de pijama, com um pouco de pomada antitérmica na blusa e o Notion piscando no fundo.

sábado, 8 de março de 2025

Para todas as mulheres que correm com os lobos


Hoje é o dia da Mulher. Mas ser mulher é mais do que uma data, é um caminho. Um caminho de força, de resiliência, de luta e, acima de tudo, de reconexão com quem realmente somos.

Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que Correm com os Lobos, nos lembra da Mulher Selvagem, aquela que vive dentro de nós, que sabe, que sente, que pressente. Mas, ao longo da vida, quantas vezes nos afastamos dela? Quantas vezes fomos ensinadas a silenciar nossa voz, a nos encaixar, a caber em espaços que não nos pertencem?

A boa notícia é que essa mulher nunca desaparece. Ela dorme dentro de nós, esperando o momento de despertar. Esperando que a gente lembre que somos fortes, instintivas, criativas, donas do nosso próprio caminho.

O mundo tenta nos domesticar, nos moldar, nos dizer o que podemos ou não ser. Mas, como diz Clarissa: "Ser nós mesmas causa medo em muita gente. A melhor resposta a isso? Assustar mais algumas pessoas."

Então, hoje, celebre quem você é. A mulher que resiste, que cria, que renasce a cada desafio. A mulher que carrega histórias, que transforma dor em força, que se recusa a ser menos do que nasceu para ser.

Que possamos correr com os lobos, dançar ao som da nossa própria verdade e nunca mais duvidar do poder que existe dentro de nós.


Feliz da da mulher!

quinta-feira, 6 de março de 2025

Para meu Pai, no seu dia

 


Hoje é o dia dele. Do homem que me ensinou tanto sem precisar de grandes discursos, apenas com o jeito de viver.

Meu pai me ensinou a verdade – não aquela que muda conforme a conveniência, mas a que se sustenta na honestidade e no caráter. Me ensinou a simplicidade – a ver valor nas coisas pequenas, no que realmente importa. Com ele, aprendi que família é laço, é porto seguro, é lugar onde sempre podemos voltar.

Foi ele quem me mostrou, nos gestos do dia a dia, que desistir nunca é uma opção. Que cair faz parte, mas levantar é essencial. Que ser forte não significa nunca sentir medo, mas seguir em frente apesar dele.

E acima de tudo, meu pai me ensinou a ser eu mesma. A não precisar me moldar para caber em espaços que não me pertencem. A viver com autenticidade e com coragem.

Hoje, no seu aniversário, quero agradecer por tudo isso. Por ser exemplo, por ser presença, por ser o alicerce de tantas coisas boas em minha vida.


Feliz aniversário, pai! Que a vida te retribua em amor tudo o que você já nos deu. 


Te amo!

terça-feira, 4 de março de 2025

Dias de descanso

 


Nem sempre descansar é sobre dormir até tarde ou viajar para longe. Às vezes, descanso é simplesmente respirar sem pressa, dar uma pausa nos pensamentos acelerados, soltar o peso invisível que carregamos no peito.

Descansamos do cansaço óbvio, dos dias corridos, das obrigações que parecem nunca ter fim. Mas também precisamos descansar daquilo que nos aprisiona — expectativas alheias, cobranças internas, aquela voz crítica dentro da nossa cabeça que nunca nos dá trégua.

O verdadeiro descanso não está só no corpo, mas na alma. Está no silêncio que acolhe, na música que embala, no livro que nos transporta, no tempo que nos permitimos simplesmente ser, sem a necessidade de produzir, provar ou justificar.

Então, que a gente aprenda a se dar esses momentos. Porque a vida exige demais da gente. E, para seguir em frente, é preciso saber parar.

domingo, 2 de março de 2025

Para minha Mãe, que é luz e força

 

Hoje é dia de festa, e não de qualquer festa: é o dia dela, da mulher que me ensinou tudo o que sei sobre amor, coragem e alegria. Minha mãe. Aquela que carrega no peito um lema simples, mas poderoso: "Feliz, alegre e forte".

E ela é exatamente assim. Daquelas pessoas que não se deixam abalar fácil, que enfrentam a vida de cabeça erguida e um sorriso no rosto, mesmo quando os dias são cinzentos. Ela ensina que felicidade é escolha, que a alegria está nas pequenas coisas e que a força não vem da ausência de desafios, mas da maneira como os enfrentamos.

Minha mãe é luz. É aquela presença que transforma qualquer ambiente, que acolhe, que resolve, que abraça forte e faz tudo parecer um pouco mais leve.

Hoje, no seu aniversário, não poderia desejar nada menos do que aquilo que ela espalha por onde passa: felicidade genuína, momentos alegres e uma força que continue guiando seus passos.

Mãe, que seu lema continue sendo sua verdade, que sua vida seja tão bonita quanto o amor que você espalha. Obrigada por ser esse exemplo de mulher incrível!

Feliz aniversário!

Te amo! 


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

O manual da culpa materna – volume infinito


Se existe um sentimento que acompanha a maternidade desde o primeiro teste positivo, ele se chama culpa. E não é qualquer culpa, é aquela culpa que cresce, se expande, se multiplica e parece ter vida própria. Como essa ilustração brilhantemente representa, a lista de razões para culpar uma mãe é tão extensa que um único volume não dá conta. Na verdade, suspeito que seja uma coleção infinita, sempre com edições revisadas e ampliadas.

A culpa materna começa antes mesmo da criança nascer. Na gravidez, ela já dá os primeiros sinais. Começa com perguntas inocentes que nos fazem perder o sono:


— Estou me alimentando bem?

— Será que esse café vai fazer mal ao bebê?

— Dormi do lado errado?


E então o bebê nasce, e aí a culpa se instala como uma hóspede permanente.

Se você amamenta, sente culpa porque acha que poderia estar fazendo melhor. Se não amamenta, sente culpa porque disseram que "o leite materno é tudo". Se dá colo demais, está mimando. Se coloca no berço, está sendo fria. Se dorme junto, está criando dependência. Se tenta ensinar a dormir sozinho, está sendo insensível.

Cada decisão parece um teste de múltipla escolha, só que todas as alternativas estão erradas aos olhos de alguém.


E aí vem a introdução alimentar.

— Está oferecendo comida orgânica?

— Mas já deu açúcar?

— Deixou a criança explorar os alimentos ou deu na colher?


E assim seguimos, num looping infinito de dúvidas e comparações.

Mas o ápice da culpa materna vem com o tempo. Porque o bebê cresce e, com ele, as novas edições do grande livro da culpa. Agora é a escola, os horários, a rotina. É o equilíbrio entre carreira e maternidade, entre autocuidado e entrega total. Se trabalha muito, sente culpa por não estar presente o suficiente. Se decide ficar mais tempo com os filhos, sente culpa por não estar investindo em si mesma.

E então, numa manhã qualquer, você olha para essa pilha de culpas e percebe: nunca vai dar para ganhar esse jogo. Porque ser mãe não é sobre perfeição. É sobre fazer o melhor que pode com o que tem. É sobre aprender a ignorar os palpites não solicitados, sobre escolher o que realmente importa e aceitar que errar faz parte do processo.

A verdade é que esse livro da culpa materna só existe porque nós mesmas nos cobramos demais. A sociedade também faz sua parte, claro, mas somos nós que precisamos nos libertar dessa necessidade de atender a todas as expectativas.

Então, que tal começar a reescrever essa história? Ao invés de carregar essa enciclopédia da culpa, podemos criar um livro de conquistas maternas. Um livro que celebre os pequenos e grandes acertos, que reconheça o esforço, que nos lembre de que estamos fazendo um trabalho incrível — mesmo nos dias de cansaço, de fast food improvisado e de histórias para dormir contadas com a voz falhando.

Porque, no fim das contas, a única coisa que nossos filhos realmente precisam é de uma mãe que os ame. E isso, sem dúvida, nós sabemos fazer muito bem.


O seu melhor não é o mesmo todos os dias. E tá tudo bem!


E tá tudo bem!


Tem dias em que você acorda cedo, faz um café saudável, responde mensagens no horário, entrega tudo antes do prazo e ainda sobra energia para uma caminhada no fim da tarde.

E tem dias em que levantar da cama já é uma vitória. O café fica frio, os prazos correm atrás de você, e a única caminhada do dia é até a geladeira.

Mas sabe o que é curioso? Em ambos os dias, você deu o seu melhor.

Porque o melhor não é um padrão fixo, não é sempre sobre alta performance, disposição infinita ou produtividade absurda. O seu melhor de hoje pode ser criar algo incrível, e o de amanhã pode ser simplesmente sobreviver ao dia.

Então, seja gentil consigo mesmo. Nem sempre dá para ser extraordinário. E tudo bem. Você não precisa vencer o mundo todos os dias. Às vezes, só não perder para ele já é suficiente.


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A evolução silenciosa


Esta crônica nasceu de uma reflexão inspirada em uma animação viral que circulou nas redes sociais.


A partir daqui leia o resumo 

A história de uma mulher e sua evolução após o casamento levanta uma questão inquietante: essa mudança é uma escolha genuína ou um roteiro já traçado pela cultura em que vivemos? O casamento a faz regredir ou é a própria sociedade que redefine seu papel de forma limitante?

Até que ponto as mulheres têm liberdade para evoluir sem serem enquadradas em expectativas pré-estabelecidas?

Em uma análise que combina teoria feminista e crítica social, exploro como a sociedade frequentemente impõe limites às mulheres, mas também como, mesmo nesse contexto, cada uma tem o poder de redefinir seu próprio caminho.

Em uma sociedade que historicamente não ofereceu as mesmas oportunidades ao gênero feminino, o casamento muitas vezes é visto como um ponto de estagnação para a mulher. No entanto, essa visão ignora a complexidade da evolução pessoal.

A mulher, ao se casar, não se torna automaticamente uma figura domesticada.

Pelo contrário, ela pode continuar a crescer, evoluir e redefinir seu papel na sociedade. A crítica, então, deveria se voltar à estrutura que limita, e não à mulher que, ao casar, escolhe ou é condicionada a seguir um caminho específico.

A verdadeira evolução está em permitir que cada mulher escolha seu próprio caminho, sem que a sociedade imponha limites ou expectativas.



A partir daqui leia na íntegra 


Desde pequenas, as meninas aprendem que há um caminho seguro a seguir. Brincam de casinha, cuidam de bonecas, ouvem histórias de princesas que encontram no casamento o desfecho de suas jornadas. O “felizes para sempre” quase sempre vem atrelado ao matrimônio, como se a linha de chegada da vida estivesse nessa união. Mas e depois? O que acontece com essa mulher que antes era cheia de sonhos, ambições e desejos próprios?

Para algumas, o casamento é, de fato, uma escolha. Uma decisão consciente de dividir a vida com alguém, de construir uma história compartilhada. Mas, para muitas outras, essa não é exatamente uma escolha no sentido pleno da palavra. É uma trilha já desenhada, um destino quase inevitável, uma imposição sutil que surge em perguntas do tipo: “E os namoradinhos?” na infância, “Vai casar quando?” na juventude, e “E os filhos?” logo depois. Como se seguir esse percurso fosse mais do que esperado — fosse uma obrigação natural.

E é aqui que surge a reflexão: essa mulher mudou porque quis, ou porque esperavam que ela mudasse? Seu casamento a levou à evolução, ou a colocou em um lugar de invisibilidade? Quantas mulheres já ouviram frases como “Depois que casou, sumiu!”, como se sua identidade tivesse sido engolida pelo novo papel de esposa e, mais tarde, de mãe?

A sociedade cobra um preço alto da mulher casada. Aplaude sua dedicação ao lar, mas questiona sua ausência no mercado de trabalho. Exalta sua maternidade, mas a condena caso queira manter sua independência. Se ela opta por não casar, por não ter filhos, recebe olhares de reprovação. Se decide seguir o caminho esperado, muitas vezes se vê aprisionada em um papel que não escolheu por completo.

O casamento deveria ser uma decisão de liberdade, e não uma sentença velada de abnegação. Algumas mulheres casadas encontram novas formas de crescer, reinventam suas vidas dentro dessa estrutura e constroem um espaço de realização pessoal ao lado de seus parceiros. Outras, no entanto, percebem que sua identidade foi diluída em meio a tantas expectativas alheias.

Mas será que a sociedade estaria pronta para permitir que cada mulher escolhesse seu caminho sem rótulos e julgamentos? Será que a evolução da mulher é realmente aceita quando ela foge dos padrões esperados? Ou continuamos, de forma sutil, direcionando suas escolhas antes mesmo que ela perceba?

A resposta para essas perguntas talvez não seja simples. Mas uma coisa é certa: a verdadeira evolução de uma mulher não está no casamento ou na solteirice, na maternidade ou na carreira. Está na liberdade de escolha. Na possibilidade de decidir sem culpa, sem pressões e sem amarras invisíveis. Afinal, evolução não é seguir um caminho já trilhado — é ter a chance de traçar o próprio.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Catarina, 10 anos de sonhos

Hoje é dia de festa, de bolo, de velas acesas e desejos soprados ao vento. Hoje Catarina faz 10 anos. Dez! Como o tempo ousa passa tão rápido?

Desde que chegou, trouxe um brilho especial, aquela mistura encantadora de inteligência e imaginação sem limites. Sempre foi astuto, esperado demais para a idade. Quando conversamos, às vezes até esqueço que ainda nem é adolescente — tão cheia de ideias, tão dona de si.


Catarina lê. E quem lê, sonha. E quem sonha, voa. Ela devora histórias como se fossem segredos escondidos em páginas, criando mundos onde tudo é possível. Sempre que tenho um texto de aventura para mostrar, sei exatamente para quem enviar: para o céu de titia , minha Catarina.

Hoje, ao completar 10 anos, ela não é mais aquela menininha pequena, mas também não é ainda a jovem que logo será. Está nesse meio do caminho bonito, onde a infância ainda colore os dias, mas uma curiosidade já a leva para longe. E eu a observo, cheia de orgulho, sabendo que o mundo é pequeno demais para o tamanho dos sonhos que ela tem.

Feliz aniversário, minha primeira sobrinha menina! Que a vida continue sendo esse livro incrível que você lê com tanta excitação. E que, entre páginas e aventuras, você nunca deixe de sonhar. Titia te ama!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O aniversário da minha nova coluna

Assim como a folha encontra força no vento para seguir sem caminho, você também é capaz de enfrentar e superar seus limites. A cada passo, você cultiva o auto cuidado e descobre que sua força não tem fim.  


Todo mundo carrega histórias. Algumas ficam guardadas em álbuns de fotos, outras em cicatrizes que o corpo e a vida nos deixam. A minha, marcada por uma cirurgia de hérnia de disco, é daquelas que carrego como um lembrete constante: sobreviver não era opcional, era uma necessidade.

Lembro-me da dor, intensa e constante. Não era apenas física, mas também emocional, cansativa, quase esmagadora. Passei por oito meses de luta: fisioterapia, remédios e até um procedimento que, no final, não valeu a pena. E, em meio a tudo isso, eu pensava na minha mãe, que também enfrentou a mesma batalha. Na força dela, encontrei parte da minha própria coragem.

Quando a cirurgia chegou, veio com ela o medo. Medo de que algo desse errado, medo do desconhecido, medo das limitações que poderiam ficar. Mas enfrentei. Enfrentei o medo, enfrentei as dores e, principalmente, resisti ao negativismo que, por vezes, chegava pelas palavras de quem deveria apoiar. Foi preciso fechar os ouvidos para críticas e abrir o coração para a esperança.

Hoje, ainda sinto dores. Ainda há limitações. Não é perfeito, mas é minha vitória. Estou aqui para contar que, apesar dos obstáculos, segui em frente. A cicatriz que ficou não é um lembrete de fraqueza, mas de superação. Ela me diz que resistir valeu a pena, que lutar vale a pena, mesmo quando tudo parece incerto.

A cada dia, continuo me cuidando e me fortalecendo. Sou grata por ter enfrentado esse processo, por não ter desistido, por ter escolhido lutar. E, quando olho para os meus filhos, entendo que minha força não era só minha — era também deles. Porque resistir não era apenas uma escolha pessoal, mas uma necessidade para continuar sendo mãe, exemplo, porto seguro.

Neste aniversário da minha cirurgia, celebro mais do que a vitória sobre a dor. Celebro a coragem de encarar o que parecia impossível, a força que encontrei em mim mesma e a certeza de que, por mais difícil que seja, sempre há como seguir em frente. Um passo de cada vez. Um dia de cada vez. Sempre com fé e resiliência.


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Onde fazemos a diferença?

 


Perspectivas. Essa é a palavra que tem me rondado nos últimos dias. Afinal, o que realmente queremos? Alguns sonham com um título a mais, algo que lhes traga, ao final do mês, um pouco mais de conforto. E tudo bem. Há algo de justo e necessário em buscar estabilidade. Mas e além disso? Onde está a diferença que queremos fazer?

No trabalho, nas conversas que temos, nos projetos que escolhemos investir nosso tempo... Estamos realmente deixando uma marca ou apenas cumprindo expectativas?

Há quem pense que fazer a diferença exige grandes gestos, revoluções inteiras. Mas, às vezes, ela está no detalhe. No cuidado ao explicar algo a um colega, no empenho em ouvir mais do que falar, em transformar pequenas ideias em algo significativo para alguém.

Na vida pessoal, a perspectiva é ainda mais complexa. O que realmente queremos? Ser reconhecidos? Amados? Sentir que pertencemos? Ou será que buscamos, no fundo, a sensação de que estamos construindo algo maior do que nós mesmos? Talvez o verdadeiro desafio seja equilibrar essas vontades. Não é fácil.


Quando olho para meus projetos, me pergunto: eles me movem? Me desafiam? Me permitem criar algo que faça sentido, seja para mim, seja para os outros? A resposta, às vezes, é incômoda. Nem sempre estamos no lugar onde queremos estar. Nem sempre fazemos o que gostaríamos de fazer.

Mas aqui está a beleza: sempre há tempo para mudar. A diferença começa quando olhamos para dentro e decidimos, de maneira honesta, qual é o nosso propósito. Ele não precisa ser grandioso aos olhos do mundo. Basta que seja genuíno para nós.

Seja na profissão ou na vida pessoal, a diferença que fazemos está nas escolhas que fazemos. Nas pessoas que tocamos. Nas histórias que ajudamos a construir. E, no final, talvez a pergunta mais importante não seja o que queremos alcançar?, mas quem queremos nos tornar?

A vida é sobre perspectivas, sobre enxergar possibilidades onde outros só veem obstáculos. E a diferença que queremos fazer — seja ela grande ou pequena — começa quando decidimos que nossa presença no mundo precisa ser intencional. Afinal, não importa o lugar onde estamos. O que importa é o impacto que deixamos.


sábado, 11 de janeiro de 2025

“Não querer caber, liberta” – Um Diálogo Interno

 


— O que significa “não querer caber, liberta”?

Significa abandonar a necessidade de se moldar às expectativas alheias. É entender que não precisamos ser menores para agradar, não precisamos nos encaixar em padrões que não foram feitos por nós ou para nós. É o início de um voo, o rompimento de correntes invisíveis.


— Mas por que sentimos tanta necessidade de caber?

Porque fomos ensinadas assim. Como mulheres, crescemos ouvindo que devemos ser agradáveis, dóceis, discretas. Que devemos caber nos papéis que nos são impostos: a filha perfeita, a mãe incansável, a profissional exemplar, a amiga disponível. Aprendemos a nos diminuir para que os outros se sintam confortáveis.


— E o que acontece quando decidimos não caber?

Liberdade. A vida ganha cores que antes estavam apagadas. Passamos a ouvir nossa própria voz e a respeitá-la. É assustador no começo, claro, porque nem todos vão aceitar essa mudança. Mas é também libertador. De repente, percebemos que somos imparáveis, resilientes, e que nossa força está em sermos quem realmente somos.


— Não caber cansa?

Sim, às vezes. Ser mulher e não aceitar os limites impostos exige energia, coragem, e, muitas vezes, solidão. Mas cansa ainda mais viver tentando caber. O peso de ser quem não somos é maior do que o esforço de sermos autênticas.


— Como conciliar isso com o fato de que somos tantas coisas ao mesmo tempo?

A chave está em acolher todas as nossas facetas. Somos imparáveis, mas também humanas. Temos dias de força e dias de pausa. Não saber parar faz parte da nossa essência, mas precisamos lembrar que descansar também é uma forma de resistência. Ser resiliente não significa ser invulnerável, mas sim saber se refazer, se adaptar, se transformar.


— E se o mundo não gostar de quem nos tornamos?

Que assim seja. Não estamos aqui para caber nos moldes do mundo, mas para criar o nosso espaço, do nosso jeito. Quando paramos de nos preocupar em agradar, começamos a atrair quem realmente nos entende, quem respeita nossa liberdade e nossa autenticidade.


“Não querer caber, liberta.” E, ao nos libertarmos, descobrimos que somos muito maiores do que imaginávamos. Não fomos feitas para caber. Fomos feitas para transbordar.


sábado, 4 de janeiro de 2025

Limonadas e expectativas

 

Hoje parei para refletir. Sabe aqueles dias em que o coração está pesado e as dúvidas aparecem entre uma tarefa e outra? Pois é. Fazia tempo que não precisava fazer tantas limonadas com os limões que a vida jogou.

Teve de tudo: frustrações com pessoas próximas, projetos que não alavancaram, expectativas quebradas. É engraçado, ou talvez irônico, perceber que, muitas vezes, quem está mais perto é quem menos enxerga o que você tem a oferecer. São eles, aqueles que conhecem sua história, que deveriam ser os primeiros a valorizar seu trabalho, sua criatividade, seu talento. Mas, por algum motivo, não são.

A gente cria essas pequenas ilusões, não é? Acredita que aquela pessoa vai lembrar de você na hora de uma oportunidade, que vai te procurar, que vai reconhecer o que você tem de especial. E aí vem a realidade, como quem puxa o tapete, e a gente percebe que não é bem assim. Não por maldade, talvez, mas porque as pessoas nem sempre veem o que está tão evidente para nós.

Mas sabe o que me conforta? É que as frustrações ensinam. Não sobre os outros, mas sobre nós mesmos. Aprendemos a calibrar expectativas, a não depender da validação alheia, e, principalmente, a seguir em frente. Porque, no fundo, cada decepção com um amigo ou com um projeto que não deu certo abre espaço para novas possibilidades.

Amizades, trabalho, projetos... Tudo isso é feito de ciclos. Alguns se encerram, outros começam, e o mais importante é manter a essência intacta. Continuar sendo criativa, continuar acreditando no que você faz, mesmo que os outros não vejam. Porque, às vezes, é naqueles momentos de maior frustração que a gente cria as melhores ideias, transforma limões em limonadas que, lá na frente, vão adoçar não só o nosso dia, mas o de muitos outros.

Então, hoje decidi que não vou guardar mágoas. Vou guardar aprendizado. Vou abrir espaço para as pessoas e os projetos certos, aqueles que chegam para somar, que fazem sentido. E, enquanto isso, vou continuar criando, inventando e acreditando. Porque, no final das contas, quem faz a melhor limonada somos nós mesmos.